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Enem 2025: Universitário pagava R$ 10 por cada pergunta pré-teste repassada a ele

“Estou disposto a pagar R$ 10 por questão memorizada”, escreveu o estudante de medicina Edcley Teixeira, há um ano, em mensagem enviada a jovens que participariam do Prêmio Capes de Talento Universitário, marcado para dezembro de 2024.


O que ele não revelava aos alunos é que sabia de uma informação nunca comentada oficialmente pelo Ministério da Educação (MEC): as perguntas deste concurso da CAPES, voltado a quem estava no 1º ano do ensino superior, funcionavam como um pré-teste para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e poderiam integrar edições futuras da prova.


➡️Foi assim que Edcley conseguiu fazer uma live em 11 de novembro, cinco dias antes do Enem 2025, mostrando ao menos 5 perguntas de matemática e de ciências da natureza parecidíssimas com as que, de fato, caíram no exame.


“Acho que vocês ainda não têm dimensão do que significa o Prêmio Capes. É como se encontrassem a prova do Enem jogada no chão na véspera da prova”, disse ele, em um grupo de WhatsApp com alunos da mentoria, ao comemorar que suas “previsões” estavam corretas.


“Ele falava que pagaria nossa passagem para sair de Sobral (CE) e ir até Fortaleza participar do Talento Universitário. Dizia que gostava muito desse prêmio e que queria incentivar nossa participação”, relata ao g1 um aluno que preferiu não se identificar.


“Ele pedia para a gente memorizar o maior número de perguntas possível: as imagens, os contextos, os conteúdos abordados. Mandamos tudo para ele. Não tínhamos noção do que estava acontecendo. Achei que ele quisesse ideias para montar simulados.”


Comprovantes de PIX, depoimentos de alunos e mensagens de Whatsapp obtidos pela reportagem mostram que Edcley, de fato, pagava R$ 10 para cada questão memorizada pelos alunos do Prêmio Capes.


Edcley pagava R$ 10 por questão memorizada — Foto: Arquivo pessoal

Edcley pagava R$ 10 por questão memorizada — Foto: Arquivo pessoal


Em novembro do ano passado, ele disse: “Quanto à recompensa, faço o pagamento no mesmo dia, logo após receber os áudios. Se as respostas forem mais detalhadas, posso até aumentar o valor (…), Capriche nas questões de matemática!”. No mesmo diálogo, afirma ainda que “isso não é errado nem compromete o propósito do prêmio”:


Mensagem de Edcley revela esquema de 'compra' de questões — Foto: Arquivo pessoal

Mensagem de Edcley revela esquema de ‘compra’ de questões — Foto: Arquivo pessoal


Um ex-colega de trabalho de Edcley e um ex-aluno dele também confirmaram a estratégia do “mentor”.


“Eis que a monitoria em questão criou o seguinte método: incentivou alunos a fazerem a tal prova do CAPES, e assim que saíssem da sala, divulgassem as questões cobradas que estivessem frescas na memória deles. Isso porque a prova é feita em um PC; não se sai de lá com caderno de questões”, diz uma das fontes.


Cursos a mais de R$ 1 mil

A partir das questões memorizadas e compradas por R$ 10, Edcley formulou, além da live, apostilas e cursos vendidos a R$ 1.320. Ao comercializar esses materiais, ele afirma explicitamente: “Novas questões pré-testadas que podem cair no Enem!!”.


Propaganda do curso de Edcley — Foto: Reprodução

Propaganda do curso de Edcley — Foto: Reprodução


A um jovem que estava interessado em contratar a “mentoria”, Edcley disse:


“Se confirmado, tenho, junto a 2023, pelo menos mais algumas dezenas de questões difíceis de pré-testes. Tudo isso sem cometer crime nenhum, porque o Inep não pode censurar minha memória ❤️”.


Até a mais recente atualização desta reportagem, Edcley continuava sem responder às mensagens e ligações do g1.


Em nota obtida pela TV Verdes Mares, os advogados do universitário dizem que ele está à disposição das autoridades e reitera seu compromisso com a verdade. “(…) A defesa técnica confia plenamente nas instituições e na Justiça, acreditando que a apuração dos fatos confirmará a inexistência de qualquer ato ilícito por parte de Edcley de Souza Teixeira”, afirmam os advogados.


Investigação e questões anuladas

O Inep afirma que a Polícia Federal foi acionada para apurar a conduta e a eventual autoria da divulgação das questões, investigando possível quebra de sigilo ou ato de má-fé.


Segundo o Inep, foram identificadas “similaridades pontuais” entre questões divulgadas nas redes sociais e itens presentes na prova, embora “nenhuma pergunta tenha sido apresentada exatamente como na versão aplicada em 2025”.


Foram as seguintes:


  • Fotossíntese: (115 na cinza; 121 na amarela; 132 na verde; 123 na azul)
  • Grito: (118 na cinza; 115 na amarela; 135 na verde; 132 na azul)
  • Parcelamento de R$ 60 mil: (172 na cinza; 178 na amarela; 168 na verde; 174 na azul)

 


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