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“É mais barato cuidar do clima do que fazer guerra”, diz Lula na abertura da COP30

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fala durante uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, após sua reunião no Palácio Merdeka em Jacarta, Indonésia, 23 de outubro de 2025. REUTERS/Willy Kurniawan

Na abertura da COP30, realizada nesta segunda-feira (10) em Belém (PA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “é muito mais barato cuidar do clima do que fazer guerra”, ao comparar os gastos globais com conflitos armados e os investimentos necessários para combater a crise climática.


Segundo ele, o planeta vive um “momento de escolha” e precisa de coragem política para enfrentar os desafios ambientais.


“Os homens que fazem guerra deveriam estar aqui. Iriam perceber que é muito mais barato colocar um trilhão e trezentos bilhões de dólares para acabar com o problema que mata do que gastar dois trilhões e setecentos bilhões de dólares para fazer guerra”, afirmou Lula, diante de chefes de Estado, ministros e representantes internacionais reunidos na capital paraense.


O presidente exaltou o fato de a conferência ocorrer “no coração da Amazônia”, destacando o simbolismo de trazer o debate climático para a região que concentra uma das maiores biodiversidades do planeta. “A Amazônia não é uma entidade abstrata. É a casa de quase 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas”, disse.


Lula também ressaltou os investimentos feitos em Belém para sediar o evento, afirmando que a cidade e o estado do Pará ficarão com um legado de infraestrutura. Ele agradeceu o governador Helder Barbalho pela “proeza” de realizar a COP30 na Amazônia.


“COP da verdade”

Em outro trecho do discurso, Lula classificou esta edição como “a COP da verdade”, alertando que as mudanças climáticas deixaram de ser uma ameaça futura para se tornarem uma “tragédia do presente”. O presidente citou eventos extremos recentes, como o furacão Melissa, no Caribe, e tornados no Paraná, no sul do Brasil, para ilustrar o impacto crescente do aquecimento global.


“O furacão Melissa e o tornado que atingiu o Paraná deixaram vítimas fatais e um rastro de destruição. O aumento da temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações mais vulneráveis”, afirmou.


O presidente também criticou o avanço do negacionismo e da desinformação: “Os obscurantistas rejeitam as evidências da ciência e atacam as instituições. É o momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”.


Chamado à ação global

Lula apresentou o documento “Chamada à Ação”, resultado da Cúpula de Belém, que reúne propostas do Brasil para a transição ecológica global. O texto pede que países cumpram seus compromissos climáticos e reforcem o financiamento, a transferência de tecnologia e a capacitação de nações em desenvolvimento.


O presidente propôs ainda a criação de um Conselho do Clima vinculado à Assembleia Geral da ONU, para garantir que as palavras se traduzam em ações concretas.


“O mundo caminha na direção certa, mas na velocidade errada”, alertou. “Romper a barreira de 1,5 grau é um risco que não podemos correr.”


Justiça climática

Lula também reforçou a importância de colocar “as pessoas no centro da agenda climática”, defendendo políticas de adaptação que considerem o impacto desproporcional sobre mulheres, negros, migrantes e populações vulneráveis.


“O aquecimento global pode empurrar milhões de pessoas para a fome e a pobreza. A emergência climática é uma crise de desigualdade”, afirmou.


Ele lembrou que 30% do território brasileiro é composto por áreas demarcadas para povos indígenas e que “talvez ainda seja pouco”. Segundo o presidente, é preciso “reduzir as assimetrias entre o Norte e o Sul global, forjadas por séculos de emissões”.


Encerrando o discurso, Lula citou o xamã Yanomami Davi Kopenawa: “O pensamento na cidade é obscuro e esfumaçado. Espero que a serenidade da floresta inspire em todos nós a clareza de pensamento necessária para ver o que precisa ser feito”.


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