Um observador menos atento pode olhar para as últimas seis finais da Copa Libertadores e confundi-las com as decisões da Copa do Brasil. Não fosse o Boca Juniors, finalista de 2023 contra o Fluminense, bem que poderia ser.
Desde que Palmeiras e Santos jogaram pelo título no Maracanã em 2020, em plena pandemia de covid, 11 dos 12 finalistas do torneio continental foram brasileiros.
Após aquele duelo de paulistas no Rio, houve outras quatro finais, sendo três 100% brasileiras.
A próxima, em 29 de novembro, também será: a goleada do Palmeiras contra a LDU, por 4 a 0, marcou novo duelo contra o Flamengo, em Lima. É a repetição da final de Montevidéu, em 2021.
Só o Boca furou a bolha — mas perdeu para o Flu, em outra decisão no Maracanã, com o gol histórico de John Kennedy, na prorrogação.
Jamais na história da competição continental um país havia dominado de forma tão intensa. Nem na era dos argentinos, que entre 1964 e 1975 conquistaram dez dos 12 títulos, a hegemonia foi assim.
Naquela época era impossível uma final com clubes de um mesmo país — a Conmebol provocava o cruzamento em fases anteriores —, e os argentinos chegaram a vencer quatro edições em sequência, por duas vezes. A primeira foi entre 1967 e 1970 (começando com o Racing, depois o tri do Estudiantes), e depois entre 1972 e 1975, no tetra do Independiente.
A atual fase do Brasil já dura seis temporadas seguidas com o título continental; o vencedor deste ano será o sétimo.
Recorde supera a Europa
A hegemonia brasileira não encontra paralelo na Europa, primeiro continente a organizar uma competição interclubes com seus países. O recorde de 11 entre 12 finalistas em seis anos supera por muito a “fase de ouro” dos espanhóis.
Entre 2013-14 e 2017-18 foram cinco títulos seguidos — um do Barcelona e quatro do Real Madrid, com direito a duas decisões totalmente espanholas. Os merengues venceram o Atlético de Madrid em 2013-14 e repetiram a dose em 2015-16.
No número de campeões seguidos de um mesmo país, o Brasil também já garantiu uma marca que supera os europeus: a de sete títulos seguidos.
A era de maior domínio da Copa dos Campeões por um único país aconteceu entre as temporadas 1976-77 e 1981-82, quando houve seis títulos seguidos de clubes ingleses: foram três do Liverpool, dois do Nottingham Forest e um do Aston Villa.
Nada igual
Em outros torneios continentais, há feitos que se parecem aos dos times brasileiros nos últimos anos, mas nada que os iguale.
A Champions League Asiática é o mais equilibrado entre países: nunca houve nada nem próximo à hegemonia brasileira. Há, historicamente, uma alternância de títulos entre equipes da Arábia Saudita, Coreia do Sul e Japão, com eventuais “intrusos” de Emirados Árabes, Irã e China.
Na outra ponta, está a Liga dos Campeões da Oceania, que é um parque de diversões das equipes da Nova Zelândia. Desde que a Austrália filiou-se voluntariamente à Confederação Asiática, os clubes neozelandeses ficaram com 16 dos 18 títulos — o maior vencedor é o Auckland City, com 13 taças.
O passeio neozelandês pelos torneios continentais também se reflete nas quatro finais 100% entre clubes do país. Só que, em nenhum momento, houve uma fase de cinco finais domésticas em três anos. E — dado o devido respeito à Confederação da Oceania — os torneios têm nível um semi-amador.
A Champions League africana tem apenas um caso parecido: o domínio das equipes egípcias nos últimos anos. Foram cinco títulos nos últimos seis anos (quatro do Al-Ahly e um do Pyramids), com direito a duas finais entre times do país.
Impressionante, mas ainda menos do que os brasileiros têm feito na América do Sul.
E os mexicanos?
Há quem diga que a volta dos clubes mexicanos à Libertadores poderia finalmente criar uma concorrência para os brasileiros. Fato é que, na Concachampions — o interclubes da Concacaf — a hegemonia é enorme.
Entre 2006 e 2021, os clubes do México conquistaram todos os os 16 troféus em disputa. A série só foi quebrada em 2022, quando o Seattle Sounders, dos Estados Unidos, venceu o Pumas na decisão.
Mesmo assim, jamais houve 11 finalistas mexicanos (e apenas um estrangeiro) em seis anos seguidos. O número chegou a dez, no mesmo recorte temporal.
Flamengo e Palmeiras decidem a Libertadores pela segunda vez, de olho em um quarto título que faria do vencedor o maior campeão brasileiro do torneio.
Só que, antes mesmo da bola rolar, os dois clubes já construíram uma parte da história da competição: eles consagraram uma era em que a Libertadores virou quase uma Copa do Brasil.












