A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) identificou que o Brasil tem três facções criminosas com abrangência nacional e outras 31 com capacidade de impactar a segurança de ao menos um estado inteiro. As informações foram compiladas em relatórios e apresentadas na quarta-feira por oficiais do órgão durante reunião na Comissão de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI).
O encontro foi convocado para tratar sobre a expansão do crime organizado no país diante da megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) que deixou 121 mortos no Rio na semana passada. Como mostrou O Globo, na mesma reunião o subsecretário de Inteligência da Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio, Daniel Ferreira de Souza, disse que a ação foi importante no “campo simbólico”, mas teve um resultado “ínfimo” em relação a desestruturar o poder da facção.
Além do CV, o Primeiro Comando da Capital (PCC), com origem em São Paulo, e o Terceiro Comando Puro, do Rio, foram listados como facções com capilaridade na maior parte do país.
De acordo com os informes apresentados ao Congresso, a atuação do PCC cresceu no exterior, com a presença em 28 países e 2.078 integrantes mapeados fora do Brasil. O plano internacional acabou abrindo espaço interno ao CV, que há dez anos era a facção predominante em quatro estados e hoje está em 20.
Procurada, a Abin disse que não vai se manifestar.
Um oficial da Abin relatou aos parlamentares que o Comando Vermelho estabeleceu alianças com grupos que enfrrentavam o PCC, o que catapultou a expansão. Ainda segundo ele, o CV “oferece uma rede de acesso logístico a armas e drogas, uma cadeia de comando mais descentralizada e esconderijo em comunidades do Rio”. O oficial acrescentou que “não há, hoje, confronto de organização criminosa no Brasil que não envolva o Comando Vermelho”.
No último ano, os agentes detectaram um novo movimento: a ascensão do TCP, hoje presente em nove estados. Conforme os relatórios da agência, essa organização também se expandiu no fornecimento de fuzis e na oferta de refúgio em comunidades do Rio, com o diferencial de oferecer resistência ao Comando Vermelho.
Para a Abin, está em curso no Brasil o fenômeno de “nacionalização de uma lógica fluminense”. Isso teria ocorrido em razão de o PCC estar olhando “mais para fora do país”. Os agentes citaram um salve (comunicado) da facção paulista em 2018 no qual eles convocavam membros que falassem espanhol.
No fim da sessão, os agentes fizeram um alerta do que consideram como o “ponto máximo” de expansão das facções criminosas brasileiras. Um oficial do órgão afirmou que o crime está avançando para a “infraestrutura estadual e a ocupação de contratos públicos”.
O mecanismo, segundo ele, é um passo novo na lógica de as facções não lucrarem mais apenas com drogas e armas. Há, de acordo com o oficial, a “maximização da exploração territorial”, o que inclui ainda o controle ao acesso à internet e venda de gás, combustível e galões d´água.













