A ex-primeira dama Michelle Bolsonaro nega que já esteja pronta ou decidida a disputar a Presidência da República em 2026, caso seu marido, o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, não possa concorrer.
“Posso vir a concorrer a algum cargo disponível ou até mesmo a nenhum deles. Por enquanto, não há pretensão de candidatura como alguns têm alardeado”, disse ela à Reuters por escrito, em uma rara entrevista.
A esposa de Bolsonaro contou que a rotina da família foi profundamente alterada desde a decretação da prisão domiciliar do ex-presidente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), há dois meses. As restrições deixaram Bolsonaro como se o tivessem “retirado da tomada” e abalaram sua saúde, demandando mais cuidados, disse.
“Em conjunto, essas medidas reduziram sua imunidade e agravaram seu estado de saúde, exigindo mais dedicação da minha parte ao seu processo de recuperação”, disse a ex-primeira-dama, acrescentando temer que uma eventual prisão em regime fechado possa piorar o quadro de saúde de Bolsonaro.
Assim como muitos aliados do ex-presidente, Michelle apoia a anistia a seu marido e a outros condenados por planejar um golpe, embora essa pressão tenha perdido força no Congresso, à medida que pesquisas e protestos mostraram que muitos brasileiros não aprovam este perdão.
A ex-primeira-dama, de 43 anos, que defende valores religiosos e conservadores, frequentemente aparece nas pesquisas de intenções de voto como a integrante mais popular da família Bolsonaro afora o próprio ex-presidente, à frente dos enteados, que são parlamentares.
Michelle, que é presidente do movimento feminino do PL — partido de Bolsonaro –, afirmou que qualquer decisão sobre concorrer a um cargo público exigiria primeiro “o bem-estar e a integridade” de sua família, “acordo mútuo” com seu marido e “acima de tudo, a manifestação da vontade de Deus em minha vida”.
A ex-primeira-dama criticou aqueles que já buscam a escolha de um nome para suceder Bolsonaro na corrida presidencial de 2026. Da mesma forma, ela afastou especulações sobre conversas para se tornar vice em uma eventual chapa com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), caso ele lance sua candidatura.
“Jamais discuti assuntos eleitorais com o governador Tarcísio. O maior nome da direita brasileira é meu marido, Jair Bolsonaro”, disse ela.
Além de condenado a mais de 27 anos de prisão pelo STF por tentativa de golpe, Bolsonaro está inelegível até 2030 por duas condenações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Michelle também defendeu o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e rechaçou rumores de que a atuação dele nos Estados Unidos possa ter tido um impacto negativo para o pai.
O deputado mudou-se para os EUA no início deste ano, visando obter apoio do presidente Donald Trump contra a condenação de seu pai.
A estratégia desencadeou tarifas sobre produtos brasileiros e restrições a autoridades, uma reação que o governo brasileiro agora tenta reverter por meio da aproximação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Trump.
Michelle também disse que a presença de seus enteados — exceto Eduardo, que está legalmente impedido de contatar seu pai devido às suas ações nos EUA — tem sido crucial durante o período de prisão domiciliar de Bolsonaro.
Seu relato sobre a vida sob vigilância também ecoou o que o ex-presidente chamou de “humilhação” ao ser forçado a usar uma tornozeleira eletrônica, em uma entrevista à Reuters no início deste ano.
“Não se pode dizer que está tudo bem quando, por exemplo, o carro que leva minha filha para a escola é revistado sempre que ela sai ou chega em casa”, disse Michelle. “Tenho me empenhado para que ela não sofra ainda mais em meio a tantas humilhações”.