Um incêndio em um ativo na Subestação de Bateias, em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, na madrugada desta terça-feira, provocou um apagão que atingiu diversas regiões do país.
Mas como um problema em um ponto do Paraná pode causar falta de energia em estados distantes como São Paulo, Rio de Janeiro e até no Nordeste? A explicação está no funcionamento do Sistema Interligado Nacional (SIN) e nos mecanismos de proteção que buscam evitar um colapso da rede elétrica.
O Sistema Interligado Nacional: uma gigantesca rede elétrica
O Brasil possui uma rede elétrica única que conecta praticamente todas as usinas de geração, linhas de transmissão e distribuidoras do país. Essa rede é chamada de Sistema Interligado Nacional (SIN) e funciona como uma grande malha de energia, onde eletricidade gerada em uma região pode ser enviada rapidamente para outra.
Para imaginar, pense no SIN como uma gigantesca rede de canos de água: se um cano principal que liga várias cidades se rompe, a água para de chegar a muitas casas, mesmo que a torneira na fonte continue aberta. No caso da energia, o “cano” principal seria a Subestação de Bateias.
Subestações são instalações que transformam a energia para que ela possa viajar longas distâncias ou ser distribuída localmente. Bateias é uma das maiores do Paraná, com capacidade para 1.500 MVA, e funciona como um nó central na transmissão de energia entre o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país.
Quando o incêndio atingiu um reator da subestação, toda a energia que passava por ela foi interrompida de forma abrupta. É como se um cano principal tivesse sido fechado de repente: toda a água (energia) que seguia por ele deixou de chegar às casas (estados) que dependiam daquele fluxo.
O efeito dominó: desequilíbrio imediato
O SIN precisa funcionar em equilíbrio constante: a quantidade de energia gerada deve ser igual à quantidade consumida. Quando a subestação de Bateias deixou de operar, a rede ficou desequilibrada — havia muita energia sendo consumida e menos energia chegando para suprir a demanda.
Esse desequilíbrio provoca uma queda na frequência elétrica, que é como o “pulso” do sistema. Normalmente, a frequência é de 60 Hz; se ela cai, significa que algo está errado e que há risco de apagão em cascata, ou seja, desligamentos cada vez maiores que poderiam afetar todo o país.
ERAC: o ‘freio de emergência’ do sistema
Para evitar um colapso total, entra em ação o Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC), um sistema automático de proteção do SIN. O ERAC funciona como um freio de emergência: ele corta parte da demanda de energia de forma controlada e temporária, permitindo que o equilíbrio entre geração e consumo seja restabelecido.
Em outras palavras, o que o cidadão percebe como apagão — a falta de luz — é, na verdade, uma medida de proteção. O corte controlado busca evitar danos maiores, como desligamentos prolongados e quebra de equipamentos.
Como o apagão se espalhou pelo país?
Devido à interligação do SIN, o problema em Bateias rapidamente afetou vários subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Isso aconteceu em questão de segundos: a falha inicial na subestação fez com que a frequência caísse, o ERAC atuasse e a energia fosse cortada de forma seletiva em várias regiões para salvar o sistema.
No total, cerca de 10.000 megawatts (MW) de energia foram desligados temporariamente. A recomposição foi feita de forma gradual e controlada, com normalização em até 2 horas e 30 minutos.
Por que esse apagão não é causado por falta de geração
É importante destacar que o apagão não aconteceu porque o país estava sem energia. O problema foi a falha em uma infraestrutura crítica de transmissão, que interrompeu o fluxo de energia e obrigou o sistema de proteção a agir.
Resumo da lógica do apagão:
- Incêndio atinge reator da Subestação de Bateias → ponto crítico da rede é desligado.
- Perda de energia provoca desequilíbrio no SIN → frequência elétrica cai.
- ERAC entra em ação → corta parte da demanda de energia de forma controlada.
- Apagão é sentido em várias regiões → sistema é protegido de um colapso total.
- Energia é gradualmente restabelecida → frequência volta ao normal.