Três dias após o anúncio de que a venezuelana María Corina Machado venceu o Prêmio Nobel da Paz neste ano, nem o Itamaraty ou o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, emitiram qualquer nota a respeito do fato. A venezuelana, opositora da ditadura liderada por Nicolás Maduro em seu país, dedicou o prêmio ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e receberá o prêmio na clandestinidade.
Corina, que defende abertamente uma intervenção militar dos Estados Unidos contra a Venezuela como forma de derrubar Maduro do poder, já foi criticada pelo PT. Em 2024, ela pediu para ser recebida por Lula durante a campanha presidencial da oposição a Maduro, mas não foi atendida.
A opositora da ditadura de Nicolás Maduro foi indicada ao Nobel pelo secretário de Estado americano Marco Rubio em 2024, quando o republicano ainda era senador.
Corina Machado não pôde disputar a presidência da Venezuela em 2024 porque seu nome foi barrado pelas instâncias eleitorais dominadas pelo regime, em medida amplamente contestada como ilegal. Em seu lugar, articulou a candidatura do diplomata Edmundo González Urrutia, que oficialmente enfrentou Maduro em disputa que muitos observadores acreditam ter sido fraudulenta. González teve que exilar-se após confrontos com o aparato estatal, enquanto Machado passou a atuar na clandestinidade.
Politicamente, Maria Corina Machado é frequentemente classificada como liberal-conservadora ou conservadora pró-mercado. Em 2017, defendeu sanções dos EUA contra o regime chavista. Ela também é uma das vozes mais contundentes em prol de uma ruptura militar para restaurar o Estado de Direito.
Dentro da oposição venezuelana, sua postura linha-dura gerou divisões: críticos acusam-na de priorizar confrontação excessiva e de reduzir espaço para negociações mais amplas. Já foi preterida como candidata em 2013, ao obter menos de 4% nas primárias da coalizão MUD (Mesa de Unidade Democrática). Naquele momento, Henrique Capriles foi escolhido para liderar a chapa oposicionista.
Machado teve papel central em mobilizações como a coleta de assinaturas para referendo revogatório contra Hugo Chávez em 2004, por meio da ONG Súmate, e por muito tempo foi uma das figuras mais visíveis da oposição ao chavismo nas últimas décadas.
Reações e silêncio diplomático brasileiro
Até o momento, o governo brasileiro optou por um silêncio formal, mesmo com repercussão internacional da premiação. O Itamaraty ainda não divulgou nenhuma declaração oficial e Lula também não se manifestou sobre o tema.
Em meio a esse vácuo diplomático, Machado já recebeu um telefonema de Trump e manifestações de apoio de líderes latino-americanos. No Brasil, o ex-presidente Michel Temer chegou a cumprimentá-la publicamente. “Faço chegar à Marina Corina os meus cumprimentos e os meus parabéns pela outorga do Nobel da Paz, que, afinal, é muito merecido por tudo o que ela fez na Venezuela e pela democracia no seu país, dando, naturalmente, um exemplo para o mundo”, disse Temer a Corina na mensagem.
O assessor especial da Presidência da República Celso Amorim chegou a dizer que o Nobel “priorizou a política em relação à paz” ao dar a premiação a Corina Machado.
Na mesma linha, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, cujo padrinho político, Lopez Obrador, foi próximo ao chavismo, publicou uma postagem dizendo “sem comentários” sobre a escolha para o Prêmio Nobel da Paz.
O líder de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, e o ex-presidente boliviano Evo Morales, criticaram a escolha do Nobel.