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Trump culpa Petro e classifica Colômbia como “nação desonesta” no combate às drogas

Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, participa da assinatura da reforma trabalhista realizada por seu governo, em Bogotá, Colômbia, 25 de junho de 2025. REUTERS/Luisa Gonzalez

Os títulos em dólar da Colômbia caíram depois que os Estados Unidos “descertificaram” o país como parceiro na guerra contra as drogas, em meio ao maior boom da cocaína da história.


A decisão do governo Donald Trump deve afetar o investimento estrangeiro, o financiamento de organismos multilaterais e o turismo, já que um antigo aliado de Washington agora se vê incluído na mesma categoria de “nações desonestas” que Venezuela, Bolívia, Afeganistão e Mianmar.


Os títulos colombianos em dólar recuaram em toda a curva e ficaram entre os de pior desempenho nos mercados emergentes nesta terça-feira. Os papéis com vencimento em 2053 perderam mais de meio centavo, a maior queda desde o início de agosto, sendo negociados abaixo de 113 centavos por dólar, segundo dados indicativos compilados pela Bloomberg. O peso colombiano teve pouca variação nas primeiras negociações do dia.


“Os EUA estão nos descertificando depois de dezenas de mortes de policiais, soldados e cidadãos comuns tentando evitar que a cocaína chegue até eles”, disse o presidente colombiano Gustavo Petro, na noite de segunda-feira, durante reunião ministerial transmitida pela TV.


A Colômbia esteve entre os maiores beneficiários de ajuda dos EUA neste século, recebendo cerca de US$ 14 bilhões, incluindo assistência militar para combater cartéis de drogas e insurgentes marxistas. No entanto, as relações entre Trump e o presidente de esquerda da Colômbia rapidamente se deterioraram, com os dois líderes tendo visões muito diferentes sobre a guerra às drogas, a migração e as relações com a Venezuela.


Em sua determinação presidencial, Trump atribuiu a culpa a Petro, responsabilizando o governo colombiano por não conter o aumento da produção, além de criticar as “tentativas fracassadas de buscar acomodações com grupos narco-terroristas”.


“O fracasso da Colômbia em cumprir suas obrigações de controle de drogas no último ano recai inteiramente sobre sua liderança política”, disse Trump.


A Casa Branca evitou determinar a suspensão da ajuda dos EUA, incluindo na decisão uma cláusula de exceção que reconhece que a assistência americana continua sendo de interesse vital para o país.


“Dado o valor estratégico da relação bilateral e a possibilidade de mudança nas próximas eleições, os EUA evitariam uma escalada de tensões com a Colômbia neste momento”, disse Alejandro Arreaza, economista do Barclays. É por isso que a reação do mercado até agora parece contida, acrescentou.


Impacto econômico

A decisão, porém, pode reduzir em até US$ 1 bilhão por ano a receita com turismo caso os EUA intensifiquem seus alertas de viagem para a Colômbia, segundo estudo publicado em agosto pela Câmara de Comércio Colombo-Americana.


O estudo também apontou que pode haver redução na cooperação bilateral, queda de até 60% no acesso a crédito de organismos multilaterais e retração de investidores estrangeiros.


Apesar disso, os danos são limitados pelo fato de a ajuda dos EUA já não ter o mesmo peso que no início do século, segundo Adam Isacson, especialista em política EUA-Colômbia no escritório Washington Office on Latin America.


Desde que assumiu em 2022, Petro busca a chamada “paz total” por meio de negociações com guerrilheiros e exércitos privados de narcotraficantes. A estratégia até agora não resultou em desmobilizações significativas, embora as conversas estejam avançadas com alguns grupos.


Expansão

A Colômbia hoje produz mais de seis vezes a quantidade de cocaína de 1993, ano em que Pablo Escobar foi morto. O cultivo de coca no país cresceu 10% no ano passado, chegando a 253 mil hectares — área suficiente para produzir mais de 2.600 toneladas de cocaína pura, volume bem superior à produção conjunta de Peru e Bolívia.


A embaixada da Colômbia em Washington afirmou em nota publicada no X que os EUA e a Colômbia continuarão a cooperar no combate ao narcotráfico, rejeitando a forma como o governo Trump descreveu seus esforços.


“A determinação dos EUA concedeu uma exceção que permite a continuidade da cooperação bilateral”, disse a embaixada. “Essa decisão reafirma a importância do nosso trabalho conjunto.”


Pressão política

O mandato de Petro termina em menos de um ano, e ele não pode disputar a reeleição. A pressão dos EUA abre espaço para candidatos que criticam sua abordagem em relação à guerra às drogas e defendem medidas mais duras.


Trump afirmou que estaria disposto a reconsiderar a designação caso a Colômbia adote uma postura “mais agressiva” contra os traficantes, incluindo trabalhar com os EUA para “levar os líderes das organizações criminosas colombianas à justiça”.


O secretário de Estado americano, Marco Rubio, declarou a jornalistas nesta terça-feira, em Israel, que a Colômbia pode ser recertificada se ampliar a cooperação com os EUA.


“A Colômbia tem sido historicamente uma grande parceira”, disse. “Infelizmente, agora tem um presidente que, além de errático, não tem sido um bom aliado no combate às drogas.”


 


 


 


 


 


 


 


 


Fonte: Bloomberg


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