Tratar insônia crônica pode reduzir em 40% o risco de declínio cognitivo, diz estudo

Andrea Piacquadio via Pexels

Uma pesquisa publicada na quarta-feira (10) na revista científica Neurology indica que tratar a insônia pode proteger o cérebro do envelhecimento futuro. De acordo com estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono, entre elas a insônia.


O Ministério da Saúde informa que, como patologia, a insônia pode ocorrer cerca de três vezes por semana e persistir por três meses ou mais. Além disso, a Associação Brasileira do Sono (ABS) afirma que, em casos crônicos, “ela costuma ter duração média de 3 anos, podendo estar presente entre 56% a 74% dos pacientes ao longo do ano, e em 46% deles de forma contínua, o que pode implicar riscos para o desenvolvimento de outras doenças”.


Segundo os pesquisadores, ao contrário de fatores genéticos e outros aspectos da saúde cognitiva que estão fora do controle individual do paciente, a insônia é uma condição passível de modificação.


“O principal ponto deste estudo é que a insônia crônica pode ser um fator de risco modificável para o declínio cognitivo”, disse o autor principal, Diego Carvalho, à CNN dos Estados Unidos. Carvalho é professor assistente de neurologia e especialista em sono no Mayo Clinic Center for Sleep Medicine, em Rochester, Minnesota.


Cerca de 2.750 voluntários passaram cinco anos realizando avaliações neurológicas e exames cerebrais anuais, além de análises dos hábitos de sono, para investigar a relação entre insônia e alterações cerebrais.


A conclusão dos cientistas foi que a insônia estava associada a um aumento de 40% no risco de comprometimento cognitivo. Além disso, pacientes com insônia que conseguiram aumentar o tempo de sono ou foram medicados não apresentaram o mesmo impacto negativo na saúde cognitiva.


Carvalho afirmou ao jornal que, embora não haja 100% de certeza de que o tratamento da insônia possa reduzir os riscos de declínio cognitivo — pois ainda faltam dados suficientes —, ele acredita nessa possibilidade.


Como a insônia prejudica o cérebro

À CNN, a professora de neurologia da Universidade Johns Hopkins, Rachel Salas, explicou que a insônia é um dos distúrbios do sono mais comuns e vai além da simples “dificuldade para adormecer”.


Salas destacou que a insônia pode incluir problemas na manutenção e qualidade do sono, afetando o funcionamento diário e a saúde geral, e que o distúrbio crônico está associado a um risco maior de diversos problemas cognitivos. Ela não participou da pesquisa publicada no Neurology.


Um sono de qualidade tem papel fundamental na saúde cerebral. Durante o descanso, ocorre uma espécie de “faxina” das conexões sinápticas, evitando sobrecarga nas funções cognitivas. Carvalho ressalta que estudos indicam que, ao longo do dia, resíduos se acumulam no sistema nervoso e são eliminados principalmente durante o sono.


Segundo ele, o acúmulo de determinadas proteínas está associado ao desenvolvimento do Alzheimer.


Tratamento insuficiente

Apesar de comum, a insônia tende a receber pouca atenção. Especialistas explicam que idosos, especialmente acima dos 65 anos, costumam apresentar distúrbios do sono, mas muitas vezes consideram o sono ruim como algo “normal” do envelhecimento.


Embora seja parcialmente verdade que a idade pode alterar o sono, a insônia vai além disso. Diego Carvalho destaca que problemas para iniciar ou manter o sono, fadiga, alterações de humor, dificuldades cognitivas e problemas de raciocínio não são esperados simplesmente pelo envelhecimento.


Em muitos grupos, a insônia é subnotificada pelos pacientes, subestimada pelos profissionais e, como resultado, subtratada.


Mesmo sem uma cura específica, especialistas recomendam algumas medidas para melhorar o sono, como reduzir o uso de telas antes de dormir, diminuir o consumo de cafeína e álcool, evitar passar muito tempo acordado na cama e praticar exercícios físicos para preparar o corpo para o descanso.


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