A semana começa com equipes dos governos brasileiro e americano às voltas com o preparo da esperada conversa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump.
Na última terça-feira (23), o sinal verde foi dado pelos dois mandatários, à margem da reunião da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, após quase nove meses de sanções aplicadas pela Casa Branca a produtos e cidadãos brasileiros.
Onde será a reunião?
Para auxiliares de Lula, o ideal seria se o primeiro contato ocorresse por telefone ou videoconferência, ainda nesta semana, como Trump anunciou enquanto discursava na ONU. Mas existe a expectativa de os dois se encontrarem em um terceiro país, ou seja, em um ambiente neutro. Há duas possibilidades pela frente: Itália, durante reunião da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), no próximo dia 13 de outubro; e Malásia, à margem da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), no dia 25 do mesmo mês.
Derrota para Eduardo e Rubio
Na avaliação de alguns interlocutores do governo Lula, a quebra de gelo entre os dois mandatários foi uma derrota não apenas para o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos desde março deste ano, pedindo sanções contra autoridades brasileiras, tendo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como principal alvo. Moraes foi responsável pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Trump também teria jogado um balde de água fria nas pretensões do secretário de Estado americano, Marco Rubio, que, junto a alguns membros de sua equipe, cancelava vistos e atacava Moraes e funcionários do governo brasileiro nas redes sociais. A última rodada de sanções, que atingiu Viviane, esposa de Alexandre de Moraes, ocorreu na segunda-feira passada, um dia antes da conversa que durou menos de um minuto entre Lula e o presidente dos EUA.
O que Lula e Trump poderão dizer?
No pontapé inicial para que Brasil e EUA se reaproximem após uma crise sem precedentes em mais de 200 anos de relações, Lula deve dizer a Trump que não é e nunca adotou o antiamericanismo. Ressaltará que a democracia esteve em risco no país e que o Judiciário brasileiro é independente e seguiu todo o curso legal do processo contra Bolsonaro e envolvidos, inclusive garantindo o direito de defesa.
Contudo, os EUA têm mais a dizer do que o governo brasileiro. A Casa Branca tem interesses como o acesso aos minerais críticos e estratégicos que estão no Brasil, teme que a regulação das plataformas de internet prejudique as big techs americanas e afirma que empresas de seu país, como as que fornecem cartões de crédito, podem estar sendo afetadas negativamente pelo Pix como meio de pagamento.
Segundo integrantes do governo Lula, tudo está sobre a mesa, menos a soberania do Brasil. Ou seja, não há hipótese de qualquer movimento relacionado à situação de Bolsonaro.
Relembre a crise diplomática EUA-Brasil
Os EUA já haviam aplicado uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros antes da condenação de Bolsonaro. Em seguida, passaram a adotar sanções individuais, como o uso da Lei Magnitsky, que permite a punição de estrangeiros acusados de corrupção grave ou de violações sistemáticas de direitos humanos.
Em outra frente, o governo americano informou ter aberto uma investigação sobre possíveis práticas desleais do Brasil, com base na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA. Desmatamento, corrupção, acesso ao mercado brasileiro para produtos como etanol e carne suína, Pix e até as vendas na Rua 25 de Março, em São Paulo, entraram na lista. A decisão final, que pode resultar em novas punições, deve sair dentro de cerca de um ano.
O Brasil aprovou recentemente a Lei da Reciprocidade. Com isso, será possível aplicar retaliações contra os EUA. Elevar tarifas de produtos americanos é um caminho praticamente descartado, pois poderia prejudicar as indústrias brasileiras. Mas a possibilidade de ações na área de propriedade intelectual, como a cassação de patentes de medicamentos e a taxação de filmes de Hollywood, por exemplo, está sobre a mesa.