A Polícia Federal obteve um registro de TH Joias, ex-deputado estadual do Rio de Janeiro preso por suposto envolvimento com o CV (Comando Vermelho), deitado em uma cama ao lado de dezenas de malotes de notas de real.
O que aconteceu
Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, foi fotografado ostentando grande quantia de dinheiro em espécie, que, segundo a Polícia Federal, tem origem ilícita. A foto foi tirada, segundo investigação, por Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, suspeito de integrar o Comando Vermelho.
Montante fotografado de origem ilícita foi convertido em dólares para organização criminosa, diz a polícia. O dinheiro seria de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, influente traficante do CV. TH é apontado como um dos operadores de um esquema complexo para lavar dinheiro de origem ilícita, usando câmbio, laranjas, joias e empresas de fachada.
TH era o líder de um esquema de lavagem de dinheiro para o CV, segundo a investigação. Junto com ele, são apontados como integrantes do grupo Índio e Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, um terceiro investigado, atuando para movimentar o dinheiro do tráfico e usar de influência política para viabilizar compra de armas.
TH Joias está preso desde quarta-feira. Também foram presos o Índio do Lixão e Dudu. O UOL tenta contato com os envolvidos, e caso haja manifestação, este texto será atualizado. Os denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro responderão por associação a organização criminosa e comércio ilegal de armas de fogo de uso restrito, intermediados pelo parlamentar.
TH foi alvo de duas operações
No total, o deputado foi alvo de duas operações que ocorreram simultaneamente no Rio. Uma delas deflagrada pela Justiça Federal e operada pela Polícia Federal; a outra é conduzida pelo Ministério Público do Rio e pela Polícia Civil fluminense.
No âmbito federal, TH Joias foi alvo da Operação Zargun. A Justiça Federal autorizou a PF a cumprir 18 mandados de prisão e 22 de busca e apreensão contra vários alvos, entre os quais TH e seu assessor. Dos 18 alvos, 14 foram localizados e presos.
Justiça também autorizou o sequestro de bens que somam R$ 40 milhões. Além do TH, a PF também mira outros funcionários públicos com atuação no Rio, entre os quais um delegado da própria PF, policiais militares e ex-secretários, além de traficantes do CV.
TH nomeou pessoas supostamente ligadas ao CV em seu mandato. Dentro da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), seus assessores atuavam no controle financeiro do crime e acobertando as atividades ilícitas com o auxílio da máquina pública.
CV infiltrado
Prisão de Thiego “comprova” que o CV estava “infiltrado” na política estadual do Rio, afirma delegado. “Estamos diante de uma investigação que comprova a infiltração direta do crime organizado dentro do parlamento fluminense. O deputado eleito para representar a sociedade colocou seu mandato a serviço da maior facção criminosa do Rio de Janeiro”, disse durante coletiva de imprensa o secretário de Polícia Civil, delegado Felipe Curi.
Thiego já era associado ao CV antes de ser eleito deputado. Segundo o procurador-geral do Ministério Público do Rio, Antonio José Campos Moreira, o parlamentar assumiu o cargo “com a finalidade de beneficiar a organização criminosa”.
Eu não posso dizer que o tráfico de drogas tenha eleito [o TH]. Mas eu posso afirmar que ele foi eleito para se valer do mandato a fim de beneficiar essa organização criminosa.
Antonio José Campos Moreira
Quem é TH
Thiego Raimundo, 36, nasceu no Morro do Fubá, na zona norte do Rio. Antes de entrar para a política, ele fez sucesso como joalheiro ao herdar o negócio do pai, Juberto, e assumir o empreendimento da família na loja em Madureira.
Joias produzidas por TH foram usadas por diversas personalidades. As peças já foram usadas por jogadores de futebol da seleção brasileira, como Vini Jr. e Neymar Jr, além do ex-atleta Adriano Imperador. Nomes famosos da música também usaram peças dele, como Ludmilla, L7 e Poze do Rodo. O empresário também produziu joias para líderes do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, com cordões forjados em ouro e com simbologias identificando os vulgos dos envolvidos.
Entre 2017 e 2018, foi preso pela Polícia Civil do Rio e passou dez meses na cadeia. Ele foi detido por suspeita de pagar propina a agentes públicos, por venda de drogas e armas de fogo, além de suposta associação às facções criminosas em atuação no Rio, como Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro.
Thiego se filiou ao MDB em 2022, quando disputou uma vaga de deputado estadual. Naquele ano, ele recebeu 15.015 votos e conseguiu uma vaga como suplente.
Ele assumiu como deputado em 2024 na vaga deixada por Otoni de Paula Pai, morto em maio do ano passado. O primeiro na linha para assumir o cargo era Rafael Picciani, mas ele recusou para continuar como secretário estadual de Esporte e Lazer na gestão de Claudio Castro (PL).
Thiego só tomou posse na Alerj graças a um habeas corpus. Como ele é alvo de ações na Justiça estadual, foi necessária a autorização.
Na Alerj, TH preside a Comissão de Defesa Civil. Ele é o responsável por coordenar as ações de prevenção a desastres no estado.