Oposição usa julgamento de Bolsonaro no STF para mobilizar atos de 7 de Setembro

Deputados da oposição do governo iniciam obstrução e ocupam Mesa Diretora da Câmara para impedir a votação de qualquer proposta na Casa, em Brasília - Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

A base de oposição no Congresso enxerga o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) como um momento estratégico para mobilizar apoiadores e dar fôlego às manifestações de 7 de Setembro, data em que o país celebra a Independência.


Nos bastidores, segundo apurado pela CNN, parlamentares do grupo já trabalham com o cenário de condenação como algo inevitável. A dúvida, segundo a avaliação interna, recai apenas sobre a dosimetria da pena, que pode chegar a 43 anos de prisão, conforme os crimes apontados pela acusação.


O processo entrou em pauta nesta terça-feira (2) e coloca Bolsonaro e outros sete réus no centro da análise da Primeira Turma do STF. Todos foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob a acusação de participação na tentativa de golpe de Estado após a derrota eleitoral de 2022.


Oposição mira narrativa política

“Na medida do possível, vou assistir [ao julgamento], sim, apesar de achar que o jogo já está jogado. Não há nenhuma imparcialidade nesse julgamento”, afirmou o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).


Para ele, a análise do caso pelo STF é “política” e parcial: “A gente está assistindo a uma situação em que não há justiça, há ‘justiçamento’. O problema não é técnico, não é jurídico, é eminentemente político.”


Na Câmara, líderes da oposição tratam como “segredo” as estratégias para a condução do grupo durante o julgamento. Uma das principais diretrizes, no entanto, é a convocação maciça de apoiadores pelas redes sociais para os protestos no 7 de Setembro, com a expectativa de transformar a data em um ato de força política contra o Supremo.


Contexto internacional aumenta tensão

O julgamento ocorre sob um pano de fundo inédito: a pressão exercida pelos Estados Unidos sobre ministros da Corte. Em agosto, o governo de Donald Trump aplicou a Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, medida que incluiu sanções financeiras e restrições de viagem. Além disso, os EUA suspenderam vistos de oito dos onze ministros do Supremo.


As sanções, articuladas por Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em Washington, intensificaram a narrativa de perseguição defendida pelo núcleo bolsonarista e reforçaram a tentativa de vincular o julgamento à ideia de ingerência externa sobre a soberania nacional.


Moraes, em sua fala inicial nesta terça, rebateu essa pressão e afirmou que o STF será “absolutamente inflexível” na defesa da Constituição e da independência judicial.


Sessões e desfecho esperado

A Primeira Turma do STF, formada por Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin (presidente), Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux, reservou sessões extraordinárias para os dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro.


A expectativa é de que, até o fim do calendário, esteja definida a condenação ou absolvição dos oito réus considerados o “núcleo crucial” da trama golpista.


Mesmo com o foco da defesa em tentar deslegitimar o processo, a oposição já dá como certo que Bolsonaro será condenado. O cálculo político agora é como transformar a decisão do Supremo em combustível para os atos de 7 de Setembro e manter viva a mobilização bolsonarista em torno do ex-presidente.


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