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No Seringal São Bernardo, escola não tem energia elétrica

Na Escola Estadual Francisco Carneiro de Lima, localizada no Seringal São Bernardo, na região da Transacreana, não há energia elétrica. A jovem Rebeca dos Santos, na oitava série, anda duas horas diárias para estar ali e pelejar pelo sonho de ser Médica Veterinária.


A escola está longe de ser das piores. O espaço da sala de aula é específico para a atividade de Ensino. Há merendeira. E, pelas imagens feitas pelo Sindicato dos Extrativistas e Assemelhados, o mobiliário não é velho.


Mas não ter energia elétrica já expõe o grau de exclusão a que a comunidade do Seringal São Bernardo está submetida. A Escola Estadual Francisco Carneiro de Lima é uma das 3,4 mil do país sem energia elétrica.


De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (com dados de 2022) a Escola Francisco Carneiro de Lima está nos 35,3% de unidades de ensino nestas condições no Acre. Se não tem energia, não tem internet. Mas a exclusão não reside apenas nisso. Não há Agente de Saúde na comunidade. É um ciclo.


“Eu já vi… já”, disse a jovem estudante Rebeca dos Santos, referindo-se à temida onça. É uma rotina até natural para quem anda quatro horas diárias para estudar. O professor confirma que o animal já rondou até a frente da escola.


Os episódios de flagrantes de animais silvestres não podem ser contabilizados na fatura do Governo do Acre. Isso é próprio de quem vive em um seringal. Uma jovem que mora em um seringal caminhar quatro horas diárias para estudar é responsabilidade do Estado? De que forma o estado pode ser responsável por isto?


Quais critérios para construção de uma escola em uma região de floresta? Em 2006, foi criado um programa em que o aluno permanecia na sua própria comunidade e o professor (com um preparo específico) ia até o aluno. Ensinava os fundamentos da Gramática da Língua Portuguesa e os principais conceitos da Matemática, utilizando a própria rotina de vida do aluno.


O professor acabava ensinando filhos e pais. A retomada de programas como este é uma alternativa, já que não é possível construir uma escola com toda infraestrutura a cada curva de rio. O nome desse programa era Asas da Florestania.


“Alguma coisa precisa ser feita”, cobra o presidente do Sindicato dos Extrativistas e Assemelhados de Rio Branco (Sinpasa), Josimar Ferreira do Nascimento, o “Josa”. “Aqui na região da Transacreana, indo pra Reserva [Extrativista Chico Mendes], tem duas, três gerações dentro da mesma casa, tudo analfabeto. E os jovens estão tendo filhos muito cedo, casando muito cedo. Isso não é bom”.


O Sinpasa está fortalecendo a agenda nas comunidades rurais e florestais com foco na Educação. O Deracre tem sido parceiro do sindicato para identificar em quais pontos pode haver intervenção da engenharia para melhorar o trânsito dos alunos nessas regiões isoladas.


Nota pública sobre políticas para garantir energia elétrica e internet em escolas rurais e indígenas do Acre

O governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura, informa que a definição de localização das escolas em áreas rurais e florestais obedece à demanda das comunidades. A abertura de unidades ocorre quando há quantidade mínima de estudantes, geralmente a partir de dez alunos, e em locais que permitam deslocamento a pé. Quando as famílias mudam de localidade e aumentam as distâncias, surge a necessidade do transporte escolar.


Atualmente, 209 escolas estaduais ainda não possuem acesso à energia elétrica. Para enfrentar essa realidade, em conjunto ao Governo Federal, por meio do programa Educação Conectada, executado pela Entidade Administradora da Conectividade de Escolas (EACE), serão realizados o atendimento de 72 anexos de escolas estaduais até dezembro de 2025.


No campo da conectividade, o Acre alcançou 100% das escolas urbanas conectadas à internet. Atualmente, 32% das escolas já dispõem do serviço, e a previsão é de que, até o final de 2025, 70% de todas as escolas da rede estadual contem com internet instalada, resultado de esforços conjuntos do Estado e da União.


Em paralelo, a educação do Acre estruturou processo próprio de aquisição de kits de energia solar off-grid, com instalação e manutenção, cuja contratação está prevista para o primeiro semestre de 2026. A medida busca garantir autonomia energética às escolas que não forem contempladas pelo programa federal.


É importante destacar que a realidade amazônica apresenta especificidades únicas. O trajeto de duas ou três horas até a escola, muitas vezes, não é medido apenas em quilômetros, mas em enormes dificuldades logísticas. Ao mesmo tempo, a ausência de estradas e as dificuldades de deslocamento refletem não só limitações logísticas, mas também a preservação ambiental. O grande desafio é equilibrar o direito à educação com a conservação da floresta, por meio de soluções sustentáveis, como o transporte escolar fluvial, a energia solar e a adoção de escolas-polo.


O governo do Acre reafirma seu compromisso em assegurar o direito à educação, reduzir desigualdades, garantir infraestrutura adequada e defender o direito à educação à todos, mesmo nas comunidades de difícil acesso, onde infraestrutura e os custos logístico, conhecidos como “custo Amazônia”, representam desafios adicionais.


Aberson Carvalho de Sousa
Secretário de Estado de Educação e Cultura do Acre


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