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Indígenas do Juruá avaliam escutas de repartição de benefícios promovidas pelo IMC

Indígenas do Juruá avaliam escutas de repartição de benefícios promovidas pelo IMC. Foto: Diego Silva/Secom

Algumas das principais lideranças indígenas da região do Juruá que participaram das escutas organizadas pelo Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais (IMC) estão atentas com o desdobramento do processo que teve início em 2024 e seguiu com encontros regionais em 2025.


As porcentagens de recursos que caberão aos territórios indígenas, no caso das negociações do REDD+ Jurisdicional, poderão representar um forte impulso econômico e social para as aldeias de todo o Acre.


O cacique Joel Puyanawa confessou que teve dificuldades no início para entender o que representa e como funciona o REDD+ Jurisdicional. Mas depois das “escutas” que envolveram, além do IMC, a Secretaria Extraordinária de Povos Indígenas (Sepi) e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), ele diz ter tido o esclarecimento necessário para se posicionar em nome do povo Puyanawa.


“Eu cheguei como leigo para os debates. Toda a questão era muito técnica.  Então, a gente abriu uma discussão interna entre as lideranças indígenas para a participação nos encontros. Mas para nossa felicidade recebemos as orientações que nos permitiu tomar uma posição. E a gente definiu que precisamos de 22% para as terras indígenas de todo o estado”, ponderou Joel.


Cacique relata que recebeu orientações que o permitiram tomar uma posição. Foto: Diego Silva/Secom

Para o Cacique Puyanawa a participação dos povos indígenas na repartição de benefícios do REDD+ Jurisdicional será muito positiva. Mas ele faz uma ressalva de que é necessário que as comunidades possam manter as suas autonomias.


“Isso é um benefício a mais que poderá chegar nas aldeias para ser aplicado na agricultura, na psicultura, na educação, na saúde e na preservação ambiental e cultural. Pelo que entendemos esse recurso virá, mas não vai submeter as comunidades a nenhuma sujeição. Nós vamos continuar mantendo a nossa lavoura e as nossas atividades sustentáveis como a fruticultura, por exemplo. Então não vi nenhum impedimento para os indígenas participarem do REDD+ Jurisdicional”, concluiu Joel Puyanawa.


O cacique da Aldeia Recanto Verde, na região do rio Môa, Xitin Nukini, afirmou que a sua comunidade já está enfrentando as mudanças  climáticas com os recursos próprios disponíveis. Mas que futuros implementos da repartição de benefícios podem ajudar.


Cacique da Aldeia Recanto Verde, na região do rio Môa, Xitin Nukini. Foto: Diego Silva/Secom

“Estamos com um projeto de reflorestamento em que já plantamos mais de 25 mil mudas de frutíferas e madeiras de lei típicas da nossa região. Mas precisamos de parcerias para ampliarmos o nosso trabalho não só com reflorestamento, mas também com a segurança alimentar e o cultivo de plantas medicinais. Se tivermos uma repartição justa de benefícios dos recursos da venda de créditos de carbono pelo estado poderemos fomentar ainda mais essas iniciativas em andamento”, disse ele.


Já Haru, um dos principais líderes do povo Kuntanawa do Alto Juruá, destacou que o diálogo permanente entre os órgãos ambientais e as comunidades indígenas pode significar um avanço para todas as aldeias do Acre.


Haru destacou o diálogo constante entre órgãos de meio ambiente e comunidades indígenas. Foto: Diego Silva/Secom

“Eu acho que as escutas são muito importantes em qualquer segmento da sociedade civil. A gente precisa elaborar é o conceito sobre como a gente vai utilizar esses recursos. Nós temos os nossos planos de gestões que foram trabalhados durante anos.
Eu acredito que a maior pauta que nós temos em relação a questão indígena é a bioeconomia que precisa de incentivos dentro dos nossos territórios”, argumentou Haru.


Para o líder Kuntanawa os benefícios da repartição de recursos devem entrar diretamente para os povos indígenas.


“Tudo tem sido pensado de fora pra dentro das aldeias, mas para conseguirmos avanços para os povos da floresta precisamos ter acesso direto aos benefícios gerados pelas negociações com carbono. Só entrando no circuito econômico global que haverá geração de oportunidades e ocupação da mão de obra nas comunidades indígenas. Não podemos ficar isolados porque representamos a resistência de preservação dos passivos ambientais do planeta”, afirmou o Haru.


Presidente do Centro Kada Shawa Kaya José Lima, do povo Shawandawa, também opinou sobre a repartição de benefícios. Foto: Diego Silva/Secom

Quem também opinou sobre a repartição de benefícios foi o presidente do Centro Kada Shawa Kaya José Lima do povo Shawandawa.


“Sobre essa pauta do IMC dos recursos que virão das negociações com créditos de carbono uma das coisas importantes debatidas foi a fatia do bolo onde entram as populações indígenas. Eu havia participado de um outro evento, em 2014, em que as nossas comunidades tinham uma participação de 12%. Mas através da governança do IMC houve um aumento significativo de porcentagem para indígenas, extrativistas e ribeirinhos”, disse José Lima.


“O que eu achei positivo é que todo esse processo poderá ser uma pauta para a COP30  de Belém (PA). Acreditamos que essas escutas deveriam continuar em relação a outros temas de interesse dos povos indígenas. Mas a sensação que ficou é de gratidão ao governador Gladson Camelí que abriu esse espaço de diálogo com os moradores da floresta para que as comunidades possam manifestar as suas reais necessidades”, finalizou a liderança Shawandawa.


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