Caminhada Doe Vida marca encerramento da Semana Setembro Verde no Acre

A Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) e a Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre) encerraram, na tarde deste sábado, 27, a programação da Semana Setembro Verde, campanha nacional dedicada à conscientização sobre a doação e o transplante de órgãos e tecidos. A data também marca o Dia Nacional da Doação de Órgãos, reforçando ainda mais a importância da mobilização.


O ato final foi marcado pela Caminhada Doe Vida, que saiu da Universidade Federal do Acre (Ufac) em direção ao Lago do Amor, no bairro Ipê, reunindo participantes em um gesto simbólico de solidariedade. A mobilização contou com panfletagem, balões e música  reforçando a mensagem de esperança para quem aguarda por um transplante. O verde, cor símbolo da campanha, representa a esperança de vida renovada por meio desse ato de solidariedade.


“Estamos finalizando a campanha do Setembro Verde com a Caminhada da Vida, que simboliza a doação e a solidariedade. Ao longo da semana, realizamos ações científicas, como o simpósio, atividades de panfletagem e inauguramos o Jardim da Vida, talvez o momento mais simbólico da campanha. A cada paciente que receber um órgão, uma muda será plantada, representando esse ato de amor e renovando a esperança”, explicou Sóron Steiner, presidente da Fundhacre.


Sóron Steiner, presidente da Fundhacre, explicou as ações realizadas ao longo da semana. Foto: Alice Leão/Secom

Com o tema “Doe vida. Avise sua família. Seja a razão do amanhã de alguém”, a campanha deste ano ressaltou a importância do diálogo familiar sobre a decisão de doar. No Brasil, a doação só é realizada mediante autorização da família. Esse diálogo ocorre nos casos de morte encefálica. Mais do que um gesto individual, a doação representa a continuidade da vida e a renovação da esperança para milhares de pessoas.


“É emocionante ver o movimento bonito que está sendo construído com a colaboração da nossa sociedade. Durante todo este mês, trabalhamos para fortalecer a consciência sobre a doação de órgãos e lembrar a cada pessoa a importância de dizer sim e de deixar a família ciente dessa decisão. Hoje já colhemos frutos desse esforço, com transplantes acontecendo graças a essa mobilização. A palavra que tenho é gratidão, muita gratidão a todos que caminham conosco nessa causa tão nobre”, destacou Ana Cristina Moraes, secretária adjunta de Atenção à Saúde.


O Sistema Único de Saúde (SUS) no Acre já realiza transplantes em quatro especialidades: rim, fígado, córnea e ósseo (tecido musculoesquelético). Desde a implantação do programa, em 2006, foram realizados com sucesso 560 procedimentos, sendo 109 renais, 340 de córnea, 109 hepáticos e dois de tecido musculoesquelético.


Ana Cristina Moraes, secretária adjunta de Atenção à Saúde, destacou a importância do trabalho realizado nesse mês. Foto: Alice Leão/Secom

Sóron Steiner acrescentou que esse momento reflete o encerramento de uma campanha e a consolidação de um movimento contínuo em prol da vida. “Enquanto caminhamos hoje, nossa equipe na Fundação segue trabalhando: ontem realizamos um transplante de fígado, hoje outro, além de dois transplantes renais em andamento. Isso mostra que o Setembro Verde vai além de um mês de mobilização. Precisamos manter esse espírito vivo todos os dias do ano, conversando com nossas famílias e dizendo sim à doação”, reforçou.


Só em 2025, a rede pública já contabiliza 31 cirurgias concretizadas, com a expectativa de ultrapassar 50 até o fim do ano. Nos últimos seis anos, o programa tem recebido investimentos contínuos, fortalecendo a estrutura e ampliando a capacidade de atendimento.


A distribuição dos órgãos segue um critério de regionalização: doadores do Acre têm prioridade para pacientes que estão na fila do estado. Caso não haja compatibilidade, os órgãos podem ser ofertados a outros estados. Os pacientes permanecem na fila até surgir a oportunidade de um transplante compatível. Ainda assim, a falta de conhecimento básico sobre transplantes faz com que muitos familiares recusem a doação, evidenciando a importância da campanha do Setembro Verde.


Caminhada Doe Vida saiu da Ufac em direção ao Lago do Amor. Foto: Alice Leão/Secom

Vidas transformadas pela doação de órgãos

Mayara de Souza é um exemplo vivo da importância da doação de órgãos. Há 10 meses, ela realizou um transplante de rim na Fundhacre, tornando-se a primeira mulher a receber o procedimento após o retorno desse serviço no estado. Sua trajetória foi marcada por três anos de espera e de tratamento em hemodiálise, uma mudança de país em busca de oportunidade e o sonho constante de uma nova vida.


“Em fevereiro de 2022 eu descobri, através de um exame de sangue, que minha creatinina estava muito alta. Comecei hemodiálise em agosto daquele ano e, desde então, ouvi falar da possibilidade do transplante, que era a única forma de melhorar minha vida. Foram três anos de espera até encontrar uma doadora compatível. Cheguei a ir para Portugal em busca dessa oportunidade, mas não consegui por questões burocráticas. Quando voltei, em pouco tempo soube que o serviço voltaria a funcionar no Acre. Em outubro me inscrevi na lista e, em novembro, já estava realizando o transplante”, contou Mayara.


Mayara de Souza, paciente renal transplantada, ao lado do filho Nicolas. Foto: Alice Leão/Secom

Para ela, a cirurgia foi um divisor de águas. “Foi tudo maravilhoso. Hoje tenho muita diferença: posso beber água à vontade, viver normalmente e acompanhar o crescimento dos meus filhos. Antes, perdi muitas festas, momentos em família e viagens por causa do tratamento. Hoje, planejo realizar sonhos que antes pareciam distantes. É uma nova vida”.


Wendell Silva é mais uma história de superação que reforça a importância da doação de órgãos. Diagnosticado com insuficiência renal, ele passou por um período intenso de tratamento até receber uma nova chance de vida. Em 15 de maio deste ano, realizou um transplante de rim na Fundação Hospitalar, apenas seis meses após o diagnóstico, um processo rápido e transformador.


“Eu jamais esperava que isso fosse acontecer comigo, mas aconteceu, e Deus foi misericordioso. Eu recebi um rim, passei pelo transplante e hoje estou muito bem. É uma transformação incrível. Por isso eu digo: essa campanha é fundamental. As famílias precisam se sensibilizar, conversar e entender que, atrás dessa decisão, existem muitas pessoas esperando por uma nova oportunidade de vida”, concluiu.


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