Amazônia está perto do ‘ponto de não retorno do bioma’, aponta MapBiomas

(Fernando Frazão/Agência Brasil)

A área amazônica destinada à agricultura cresceu 44 vezes (4.321%), passando de 180 mil para 7,9 milhões, nas quatro últimas décadas. É o que revela um relatório da rede MapBiomas divulgado nesta segunda-feira que, com uso de imagens de satélite, estima as mudanças ocorridas no bioma entre 1985 e 2024. Durante o período, a Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa, uma redução de 13% do território, e se aproxima de um ponto de não retorno, segundo os pesquisadores.


Com 421 milhões de hectares, a Amazônia ocupa quase metade do território brasileiro (49,5%). A supressão nestas quatro décadas incidiu principalmente sobre formações florestais, que perderam quase 50 milhões de hectares. Pesquisador do MapBiomas, Bruno Ferreira destaca que os impactos desta redução da natureza já são sentidos, sobretudo na área úmida, que estão mais secas atualmente.


— A Amazônia brasileira está se aproximando da faixa de 20% a 25% prevista pela ciência como o possível ponto de não retorno do bioma, a partir do qual a floresta não consegue mais se sustentar — avalia Ferreira.


Os dados indicam uma retração de 2,6 milhões de hectares na superfície coberta com água, floresta alagável, campo alagável, apicum e mangues entre 1985 e 2024. O levantamento também mostra que oito dos dez anos mais secos foram registrados na última década estudada. No ano passado, as áreas úmidas na Amazônia correspondiam a 56,9 milhões de hectares.


O levantamento aponta que 83% da área modificada pelo homem no bioma ocorreu entre 1985 e 2024, o que indica como a antropização na Amazônia é recente. O uso da terra pelo ser-humano aumentou 471% (+57 milhões de hectares) nas últimas quatro décadas.


Além do alto avanço na agricultura, as pastagens passaram de 12,3 milhões de hectares em 1985 para 56,1 milhões de hectares em 2024, um crescimento de 355%. A expansão percentual mais expressiva, entretanto, foi da silvicultura, que foi de 3,2 mil hectares para 352 mil hectares, um aumento de 110 vezes em 40 anos. O MapBiomas destaca também que a mineração vem ganhando relevância no bioma, passando de 26 mil hectares para 444 mil hectares no período.


Avanço da soja

No campo da agricultura, três em quatro hectares (74,4%) são ocupados por lavouras de soja, que corresponderam a 5,9 milhões de hectares em 2024. A maior parte desta área foi convertida após 2008, ano em que ocorreu a assinatura da moratória da soja.


De 2009 até 2024, no entanto, a conversão direta de formação florestal para soja reduziu em 68% (769 mil hectares). Nos últimos 15 anos, a soja cresceu principalmente em áreas já abertas de pastagem (+ 2,8 milhões de hectares, ou +1.047%) e de agricultura (+1 milhão de hectares, ou +2.708%).


No comparativo entre estados, Rondônia teve a maior conversão de vegetação nativa em pastagens, que passaram de 7% para 37% em quarenta anos. Também é a entidade federativa com menor proporção de vegetação nativa na Amazônia (60%), à frente de Mato Grosso (62%), Tocantins (65%) e Maranhão (67%).


Rondônia integra a região conhecida como AMACRO, que também inclui o Acre e o Amazonas. Nestas quatro décadas, 14% da perda líquida de vegetação nativa da Amazônia ocorreu neste grupo, com a maior quantidade tendo ocorrido entre 2015 e 2024: 2,7 milhões de hectares. Já a área de pastagem nesse território aumentou 11 vezes, um crescimento de 6,9 milhões de hectares.


Os dados do MapBiomas mostram que, em 2024, 2% da vegetação nativa era secundária, ou seja, áreas que foram desmatadas anteriormente e que estão em processo de regeneração da vegetação nativa. No ano passado, elas totalizaram 6,9 milhões de hectares no bioma. Entretanto, essa não foi a vegetação mais desmatada em 2024, quando 88% do desmatamento na Amazônia ocorreu em áreas de vegetação primária.


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