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AC não registra “decretos” de facções contra autoridades, mas alerta é permanente

Foto: Imagem ilustrativa de policial civil em operação no Acre I ASCOM/PCAC

O brutal assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, na segunda-feira (15), em Praia Grande (SP), reacende o debate sobre os riscos enfrentados por autoridades no combate às organizações criminosas. Atribuído ao Primeiro Comando da Capital (PCC), o crime expõe a ousadia de facções que miram delegados, promotores e juízes como alvos prioritários. No Acre, porém, o cenário é diferente: não há registros de “decretos” formais de execução por parte de grupos como PCC ou Comando Vermelho (CV), mas ameaças pontuais persistem, exigindo vigilância constante das forças de segurança.


Em entrevistas exclusivas ao ac24horas, o coordenador da Divisão Especializada de Investigações Criminais Especiais (Deic) do Acre, delegado Pedro Paulo Buzolin, e o delegado-geral da Polícia Civil, José Henrique Maciel, destacam que, apesar da calmaria relativa, o risco é inerente ao trabalho de repressão. “Não há realmente nenhum fato dessa natureza [decretos] no Acre, mas isso não quer dizer que a gente não esteja correndo risco de morte”, enfatiza Maciel. Buzolin complementa: “Existe, já existiu ameaças, inclusive recentes, contra delegados [e] promotores. Mas eu desconheço autoridades aqui que foram decretadas, como é o caso do Lincoln Gakiya [promotor de São Paulo que vive sob escolta]”.


Diferença entre ameaça pessoal e ‘decreto’

O que diferencia o Acre de estados como São Paulo ou Minas Gerais, onde juízes e promotores da execução penal vivem sob proteção ostensiva? Para Buzolin, a chave está na estrutura das facções. “Uma coisa é ser ameaçado por uma situação específica, por um determinado membro da organização criminosa. […] Outra coisa é a organização criminosa se reunir, os líderes se reunirem e decretarem uma autoridade pública”, explica o delegado da Deic. No estado acreano, as ameaças identificadas são “pessoais” – como ressentimentos de criminosos presos por delegados específicos –, e não emanam de cúpulas nacionais.


Maciel reforça, no entanto, que esses episódios “começam com alguma coisa pontual”, como a prisão de um líder, e podem escalar para algo geral. “A facção decide: ‘O nosso inimigo número um é fulano de tal’. Mas ela começa com um fato pontual: a polícia investigou, o líder foi condenado, e aí começa a gerar”, diz. No Acre, porém, nenhuma ameaça pontual evoluiu para tentativas concretas de execução contra autoridades de alto escalão, segundo os dois delegados.


Casos recentes ilustram essa dinâmica. Em Assis Brasil, uma suposta ameaça ao prefeito foi investigada e descartada como ação de “lobo solitário” ou até trote, conforme Buzolin. “Não havia nenhum grande nível de alerta. É lógico que todas as autoridades do estado têm que estar em alerta constante, com trabalho de inteligência”, afirma. Outro episódio, em 2019 ou 2020, envolveu uma ameaça a um magistrado da execução penal, mas o autor foi preso em Brasília e não tinha ligações com facções – novamente, um “louco solitário”.


Suposta ameaça contra o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom

Em 25 de outubro de 2024, o setor de inteligência da Polícia Civil obteve acesso a uma informação de que o prefeito da capital do Acre, Tião Bocalom, sofreria uma tentativa de assassinato. Colocado sob forte aparato de segurança, o prefeito passou dias despachando de seu gabinete, na sede do executivo municipal, evitando agendas públicas. A ameaça, no entanto, indicam as investigações, não passavam de um trote.


“A gente observa, pelos traços alcançados durante o trabalho, que não não havia nenhuma intenção real”, disse Pedro.


Operadores de segurança já foram assassinados a mando de organizações no Acre

Embora sem “decretos” atuais, o Acre registra histórico de violência contra agentes de segurança. Buzolin relembra execuções de policiais penais entre 2015 e 2017, como a de Anderson Albuquerque, alvejado próximo à Fameta (Faculdade Meta) em Rio Branco, por ordem do PCC – executada por membros vindos de São Paulo. Outro caso foi o de Romário Cavalcante Alexandre, morto em Porto Acre em 2017, ligado a disputas locais na época de migração de facções como Bonde dos 13 para o CV. “Veio ordem de dentro do presídio para executar policiais penais”, relata o delegado, citando um terceiro episódio em Bujari, onde uma mulher atraiu Humberto Furtado, agente penitenciário, para a execução.


Relembre o caso da morte de Anderson Albuquerque


Relembre o caso da morte de Romário Cavalcante


Relembre o caso da morte de Humberto Furtado


Esses crimes, segundo Buzolin, ocorreram “em razão da função” das vítimas, com casas vulneráveis facilitando as ações. Maciel, por sua vez, alerta que, em um contexto de facções, “quem vai praticar um crime dessa natureza não vai te avisar”. Ele compara o caso de Fontes, um “ex-delegado-geral fora da ativa”, a riscos semelhantes no Brasil: “É um caso que foge [à norma], mas exige precauções sempre”.


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