Relator da CPI do INSS diz que maioria decidirá sobre convocação de irmão de Lula

(Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados)

Relator da CPI do INSS, o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) afirmou que adotará uma postura equilíbrio na condução dos trabalhos, sem proteger nem um dos lados. Em entrevista ao GLOBO, o parlamentar afirmou que as convocações envolverão “todo mundo” e não descarta a possibilidade de que o irmão do presidente Lula, José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, seja instado a dar explicações ao Congresso.


Frei Chico é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), uma das entidades citadas como envolvidas no esquema que desviou dinheiro de aposentados por meio de descontos indevidos em seus benefícios.


O senhor é aliado do presidente da Câmara, Hugo Motta, que pediu para que assumisse a relatoria. Ele deu alguma orientação de como conduzir o trabalho?


Não. Apenas pediu que eu fizesse o trabalho com responsabilidade e equilíbrio, em conjunto com o presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM). Nenhuma orientação além disso.


Já existe investigação judicial em curso. O que a CPI pode trazer de diferente?


Temos como base a Operação Sem Desconto e a auditoria da CGU, mas não estamos presos a elas. Podemos ir além, levantar novas provas e até identificar falhas nessas investigações. Também considero importante incluir a análise das operações de crédito consignado. No início, vamos ouvir órgãos técnicos como CGU e INSS para entender os mecanismos da fraude.


O senhor pretende convocar o irmão do Lula para depor?


A CPI é colegiada, e será a maioria que decidirá quem será convocado. Quem for citado, certamente será chamado para prestar esclarecimentos. Mas não vamos pré-julgar ninguém. A gente espera a instalação da CPI para pensar o plano de trabalho, mas todo mundo vai ser convocado.


A CPI surge em meio a forte polarização: governo e oposição trocam acusações sobre quem seria responsável. Como lidar com isso?


Na verdade, os dois lados têm alguma razão. Desde 2019 houve uma escalada de descontos indevidos, com menos instrumentos de controle. Nosso foco não é investigar pessoas, mas fatos. E os fatos podem levar a pessoas, independentemente do partido ou do governo. Existe um esquema criminoso contra os mais pobres, e não podemos proteger ninguém.


Desde que foi escolhido relator, já sofreu pressões de algum lado?


Não. Até agora, apenas manifestações isoladas em redes sociais. Nada que interfira na minha independência.


A oposição tem criticado sua escolha, com o argumento que faltou diálogo com Motta. Como vê essa postura?


Já conversei com a senadora Damares (Alves, do Republicanos), uma das autoras do requerimento (de criação da CPI), e vou procurar a deputada Coronel Fernanda (PL-MT), também autora. Estou aberto a dialogar com todos. Todos que chegaram aqui têm legitimidade e serão respeitados.


O senhor se considera governo ou oposição?


Me considero independente. Tenho muito orgulho de ser do Republicanos, mas atuo de forma equilibrada. Já votei contra o governo em alguns temas, como IOF e licenciamento ambiental, mas também votei contra a direita em pautas como o marco temporal. Tenho relação institucional com o governo federal para atender meu estado, Tocantins, mas não sou base.


Qual sua avaliação do governo Lula neste terceiro mandato?


Acho que deixou a desejar. Poderia fazer mais. As condições econômicas e o acirramento ideológico dificultam, mas não justificam tudo. A Câmara tem aprovado as principais pautas do governo, como a reforma tributária e o pacote fiscal. Portanto, não procede a ideia de que o Congresso é contra o governo.


O que achou da postura de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos?


Considero absurdo, sem precedentes. Defendo a liberdade de expressão, mas há limites: a defesa da democracia, da República e do patriotismo verdadeiro. Vestir a bandeira de outro país contra os interesses nacionais ultrapassa esse limite.


E a prisão do ex-presidente Bolsonaro, como avalia?


É um tema do Judiciário. Pessoalmente, acho que houve exageros em algumas penas. Isso pode ser corrigido por mudanças no Código Penal, mas não cabe à Câmara julgar.


O Republicanos deve apoiar Lula em 2026?


É uma decisão do partido. Hoje, o grande nome do Republicanos é o governador Tarcísio de Freitas, que faz um governo excelente. A questão é se ele vai abrir mão da reeleição em São Paulo para disputar a Presidência, o que é um dilema grande. Ainda é cedo para definir.


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