Por meio da iniciativa “O Primeiro Passaporte da Cidadania em Território Indígena”, profissionais de saúde dos cinco municípios do Vale do Juruá e de outras cidades estão reunidos em Cruzeiro do Sul para uma capacitação sobre o uso da Caderneta da Criança em comunidades indígenas. O objetivo do evento, realizado na sede do Projeto Rondon, é melhorar o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças indígenas, fortalecendo as ações de saúde e contribuindo para reduzir a mortalidade infantil nas Terras Indígenas.
O treinamento aborda desde o acompanhamento nutricional até estratégias para aumentar a cobertura vacinal, sempre considerando as particularidades culturais das comunidades indígenas. Um dos maiores desafios discutidos no evento foi a complexa logística para levar vacinas e atendimento às aldeias mais remotas, que exige cuidados especiais com a conservação dos imunizantes e planejamento detalhado das equipes multidisciplinares.
O trabalho envolve uma abordagem que integra os conhecimentos técnicos da equipe de saúde com o trabalho dos agentes indígenas de saúde, parteiras tradicionais e lideranças locais. “Nós trabalhamos a sensibilização nos territórios através de equipes multidisciplinares, buscando fazer com que as comunidades entendam a importância de cada procedimento de saúde. Existe resistência como em qualquer população, mas o diálogo constante e a participação das lideranças indígenas são fundamentais para superar esses desafios”, cita a enfermeira Cleiciane Uchoa, uma das responsáveis pelo treinamento.
O técnico de enfermagem do Polo Base de Marechal Thaumaturgo, Jardson Borges, participa da capacitação e destaca a importância de manter as cadernetas de saúde e vacinação atualizadas, especialmente diante do risco de doenças como o sarampo, que já foi erradicado no Brasil mas preocupa devido a casos em países vizinhos. “Em áreas de difícil acesso, a caderneta é uma ferramenta essencial para acompanhar a saúde das crianças e identificar se elas precisam de algum cuidado específico”, explicou.
A capacitação, que segue por três dias, utiliza métodos práticos como estudos de caso e vivências que aproximam os profissionais da realidade encontrada nos territórios indígenas. A iniciativa faz parte de uma política permanente de educação em saúde para populações indígenas, buscando aliar os protocolos médicos com o respeito às tradições e conhecimentos das comunidades do Juruá.