PF aponta articulação de Bolsonaro e Eduardo para coagir STF e driblar investigações

Eduardo Bolsonaro, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente americano, Donald Trump - Foto: Instagram

A Polícia Federal indiciou Jair Bolsonaro (PL) e o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelos crimes de coação no curso do processo e obstrução de investigação de organização criminosa, no âmbito da ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022.


O relatório final foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).


Além de apontar interferência direta nas investigações, a PF detalha uma ofensiva internacional coordenada entre pai e filho, que envolveu pressão por sanções econômicas dos EUA, o uso de dinheiro enviado por apoiadores via Pix e até um rascunho de pedido de asilo político à Argentina.


Atuação nos Estados Unidos

Conforme o relatório, Eduardo Bolsonaro atuou ativamente nos Estados Unidos para convencer aliados do ex-presidente Donald Trump a aplicar sanções contra ministros do STF, da PGR e da Polícia Federal, com o argumento de que seu pai estaria sendo alvo de perseguição política.


A estratégia, segundo a PF, visava condicionar a retirada das sanções à aprovação de uma “anistia ampla, geral e irrestrita” no Brasil e à responsabilização de ministros do Supremo.


Para os investigadores, o ápice da articulação se deu em julho de 2025, quando o governo Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, medida que os investigadores afirmam ter ligação direta com a atuação do deputado.


Mensagens extraídas dos celulares de Bolsonaro e Eduardo revelam a atuação conjunta entre os dias 7 e 17 de julho. Em um dos trechos, o parlamentar alerta o pai: “Temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia OU enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto”.


Em outra mensagem, Eduardo enfatiza: “Tire do cálculo o apoio dos EUA, qual estratégia você tem para atingir qual objetivo? É simples”.


Em 9 de julho, data em que as tarifas foram anunciadas, Eduardo escreve: “Quase meia-noite no Brasil e ele postou de novo”, referindo-se a Trump. Dois dias depois, sugere ao pai um agradecimento público: “O cara mais poderoso do mundo está a seu favor. Fizemos a nossa parte”.


Ataques ao STF e disputa interna com aliados

As mensagens também revelam a tentativa de afastar interlocutores políticos considerados rivais, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).


“Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo você se fuder e se aquecendo para 2026”, escreveu Eduardo ao pai. Ele afirma ainda que precisou driblar, nos EUA, a percepção de que “Tarcísio = Bolsonaro”, buscando manter o alinhamento exclusivo com Trump.


No dia 15 de julho, o deputado menciona que sanções da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes estavam próximas de serem aplicadas. Já em 17 de julho, véspera da apreensão dos celulares, Eduardo volta a insistir para que o pai agradecesse publicamente a Trump, o que de fato ocorreu por meio de vídeo editado com legendas em português e inglês.


A PF conclui que a dupla não apenas tinha conhecimento prévio das sanções, como também atuou para manipular a opinião pública no Brasil, ocultando o papel direto na articulação com o governo Trump. A intenção, segundo o relatório, era coagir o STF e o Congresso, construindo uma narrativa de que as medidas eram neutras e unilaterais.


Transferência de recursos e asilo político

O relatório também indica que Jair Bolsonaro transferiu cerca de R$ 2 milhões via Pix ao filho, valores oriundos de campanhas de arrecadação entre apoiadores no Brasil. As mensagens revelam que ele participava ativamente da elaboração de notas públicas e discursos para reforçar a ofensiva internacional de Eduardo.


Outro ponto destacado pela PF é a descoberta de um rascunho de pedido de asilo político ao presidente argentino Javier Milei, salvo no celular do ex-presidente em fevereiro deste ano. O documento, segundo os investigadores, teria sido redigido por Fernanda Bolsonaro, esposa do senador Flávio Bolsonaro, e justificava o asilo com base em “perseguição política” e “delitos essencialmente políticos”.


“Com base em tais diplomas legais, apresento este requerimento, solicitando a concessão de asilo político à minha pessoa, Jair Messias Bolsonaro”, diz o trecho do arquivo recuperado pela PF.


Na avaliação da Polícia Federal, os elementos reunidos indicam uma atuação orquestrada e internacionalizada para obstruir a Justiça, pressionar instituições brasileiras e criar um ambiente favorável à impunidade do ex-presidente.


O documento está agora sob análise da Procuradoria-Geral da República (PGR), que deve decidir se oferece denúncia, solicita novas diligências ou arquiva o caso.


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