A semana que prometia ser menos turbulenta no cenário econômico brasileiro ganhou novos contornos com a decisão judicial que colocou o ex-presidente Jair Bolsonaro em prisão domiciliar. A medida, motivada por violações de restrições impostas anteriormente, como participação indireta em redes sociais, gerou mais de 1,5 milhão de menções nas plataformas digitais e reacendeu debates sobre o futuro político da direita no país.
Segundo o analista de investimentos Alison Correia, cofundador da Dom Investimentos, a prisão não surpreende o mercado financeiro, que já vinha acompanhando o desenrolar do processo. “Está claro que ele não será considerado inocente. A sentença parece apenas uma questão de tempo”, afirma Correia.
A proximidade das eleições de 2026 acelera a busca por uma nova liderança conservadora, avalia. O nome mais cotado é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, visto como uma alternativa viável para ocupar o espaço deixado por Bolsonaro. “O mercado já começa a se mover nesse sentido”, observa o analista.
No entanto, os desdobramentos políticos têm potencial para impactar diretamente as negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. A reação imediata do governo norte-americano, que criticou o ministro Alexandre de Moraes por supostas violações de direitos humanos, pode dificultar o diálogo em torno das tarifas de importação de 50% que entram em vigor nesta quarta-feira (6).
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta negociar exceções às tarifas, mas o contexto político pode minar os esforços diplomáticos. A recente aproximação entre Lula e Donald Trump, que chegou a sugerir abertura para diálogo, agora parece incerta. “Com a prisão de Bolsonaro e o retorno de figuras como José Dirceu à diretoria do PT, o clima político se torna ainda mais sensível”, avalia Correia.
Outro ponto de tensão é a proposta de substituição do dólar como moeda padrão nas transações internacionais, defendida por Lula desde 2004. A ideia, inspirada em acordos como o de Índia e Rússia, é vista por setores norte-americanos como uma ameaça estratégica. “Essa política é, na minha visão, o principal motivo para a agressividade das tarifas. Trump já indicou que isso seria tratado como uma declaração de guerra”, alerta o analista.
No mercado financeiro, o Ibovespa permanece estável, rondando os 132 mil pontos há oito pregões consecutivos. Já o dólar apresentou volatilidade, encerrando o dia anterior em R$ 5,49 após leve estresse com a notícia da prisão. Correia acredita que o impacto direto na bolsa será limitado, mas reforça que o contexto geral pode afetar o crescimento do PIB brasileiro. “O mundo não está em expansão. A China, por exemplo, já sinalizou queda na demanda. Não temos o mesmo cenário de boom de commodities de outros anos.”
A expectativa agora se volta para os indicadores internacionais. O Goldman Sachs divulgou nota prevendo três cortes de juros pelo Federal Reserve até o fim do ano, o que poderia beneficiar o Brasil. Enquanto isso, o mercado acompanha atentamente os desdobramentos das tarifas e os possíveis reflexos da crise política nas relações comerciais.