As mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) no celular de Jair Bolsonaro (PL) mostram que Eduardo Bolsonaro (PL) compartilhou com o pai críticas ao correligionário Nikolas Ferreira. O encaminhamento de postagens sobre o deputado federal mineiro foi citado no relatório final da investigação em que o ex-presidente e seu filho acabaram indiciados por coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
O conteúdo extraído do celular do ex-presidente foi enviado nesta quarta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF). Eduardo Bolsonaro tem se movimentado nos Estados Unidos com o objetivo de pressionar o STF diante do julgamento da trama golpista. Nas mensagens entre pai e filho, a PF encontrou links de postagens no X encaminhados pelo deputado federal para o ex-presidente.
As publicações continham questionamentos a Nikolas Ferreira por uma suposta tentativa de “descolar” sua imagem de Jair Bolsonaro e citam a ausência de divulgação, pelo parlamentar, da convocação para manifestações a favor do ex-presidente.
“Divulgar a manifestação na Av. Paulista, ZERO. Divulgar palestra em Curitiba, vale até repostar o Silvio Grimaldo. Jair Bolsonaro está em BH, já já veremos na prática a arte de ‘COLAR no Bozo’ pra depois ‘DESCOLAR do BOZO’”, afirma uma das postagens compartilhadas por Eduardo.
Em outra postagem, um apoiador cita que o “garoto Nikolas” havia compartilhado “zero” chamado para as manifestações do domingo seguinte.
“Sinceramente, você acha isso normal? Ele tem 5MI seguidores e não pode divulgar? Só se o Pablo Farçal mandar? Não passo pano para deslumbrado…”, diz a publicação, que também ironiza o empresário Pablo Marçal como uma “farsa”.
Segundo a PF, a postagem foi enviada a Bolsonaro em 17 de julho. Dias depois, o deputado federal fez críticas públicas ao colega de Câmara. “É triste ver a que ponto o Nikolas chegou”, escreveu ele, em reação a uma suposta interação do parlamentar mineiro com uma influenciadora antibolsonarista.
Nikolas Ferreira já vinha sendo criticado por bolsonaristas por, segundo eles, não dar apoio suficiente à causa de Bolsonaro, embora seja um dos nomes de maior presença digital da direita. Desde o indiciamento de Jair e Eduardo, o parlamentar mineiro usou as redes sociais para criticar o vazamento de mensagens e centrou seu apoio em defesa do pastor Silas Malafaia, alvo de buscas na quarta, sem citar diretamente nem o ex-presidente nem o filho.
“As únicas coisas que não vazam no Brasil é o celular do Adélio, a filmagem do aeroporto de Roma e as gravações do 08/01”, escreveu Nikolas, antes de postar vídeos de Malafaia, dizer que o pastor sofre “perseguição implacável” e compartilhar uma convocação para atos em 7 de setembro.
Jair e Eduardo Bolsonaro são alvos da mesma apuração sobre suposta atuação nos Estados Unidos para coagir integrantes da Corte em troca de perdão pela tentativa de golpe de Estado. Com tornozeleira eletrônica desde o mês passado, o ex-presidente passou a cumprir prisão domiciliar depois de participar por telefone de manifestações de apoiadores em diversas capitais. A ação foi vista por Moraes como um descumprimento das medidas cautelares impostas ao ex-presidente.