Eleições na Bolívia: direita lidera pesquisas e pode mudar modelo econômico do país

Cerca de 7,5 milhões de bolivianos vão às urnas neste domingo e, embora a disputa deva ir para o segundo turno, a expectativa é que o processo pode ser o início de uma mudança drástica no modelo administrativo e econômico do país. Os dois candidatos que lideram as pesquisas são ligados à centro-direita e defensores de aplicar reformas liberais no país.


Do outro lado, a esquerda se encontra esfacelada: com a Bolívia afundada numa crise econômica, o cada vez mais impopular presidente Luis Arce, do Movimento ao Socialismo (MAS), desistiu em maio de disputar a reeleição, abrindo espaço para o senador Andrónico Rodríguez (Aliança Popular), que tentou na campanha se descolar de qualquer ligação com o presidente.


Para complicar, o ex-presidente Evo Morales, que foi impedido de disputar o cargo pela Justiça Eleitoral, rompeu com Arce, formou um novo partido e tem pregado o voto nulo nas eleições.


Há  um total de 370 mil eleitores no exterior, sendo mais de 160 mil na Argentina, 82 mil na Espanha, 47 mil no Brasil e 44,8 mil no Chile. Nos EUA, são pouco mais de 15 mil. Esses países representam 95% do eleitores no exterior.


Veja abaixo alguns detalhes da eleição:


Como está a Bolívia

Os históricos problemas macroeconômicos da Bolívia foram agravados por um declínio estrutural na produção de gás, tensões sociopolíticas e choques climáticos no país. Os déficits fiscais são grandes e as reservas cambiais se esgotaram com o BC sendo obrigado a financiar essa conta.  Há uma diferença de cerca de 80% entre as taxas de câmbio oficial e paralela, o que obrigou a população a procurar alternativas, como o uso de criptomoedas para transações triviais. A inflação anual está na casa dos 25%, embora a meta seja de 7,5%. Economista tem sugerido programas austeros para trazer um reequilíbrio, com eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis, redução na folha de pagamento e uma racionalização dos gastos de capital.


Quem lidera as pesquisas?

A mais recente pesquisa realizada pela Ipsos/Ciesmori mostrou um empate técnico entre Samuel Doria Medina (Aliança Unidade), com 21,2% das intenções, e Jorge Tuto Quiroga (Aliança Livre), com 20,0%. Andrónico Rodríguez, que começou bem a campanha, está agora em quinto lugar na disputa, com 5,5% das intenções.


Os outros candidatos são Rodrigo Paz Pereira (PDC), com 8,3%, Manfred Reyes Villa (APB-Súmate), com 7,7%, Jhonny Fernández (Aliança Força do Povo), com 2,0%, Eduardo Del Castillo (MAS), com 1,5%, Pavel Aracena (ADN), com 0,5%, e Eva Copa (Morena), com 0,2%. Porém, há muitos indecisos. O levantamento mostrou que a soma de quem não sabe em quem votar com a de brancos e nulos atinge 30%.


Quem são os favoritos?

Samuel Doria Medina é um bilionário dono de uma rede de hotéis e da franquia Burger King e Subway na Bolívia, tendo antes sido um expoente da indústria cimenteira. Sua atuação pública anterior foi nos anos 1990, com a participação no governo do presidente Jaime Paz Zamora, como ministro do Planejamento e Coordenação. Na época, assim como aconteceu em outros governos da América do Sul, ele comandou uma onda de privatizações e de abertura econômica  do país. Depois, ele se consolidou como principal líder da oposição ao MAS, sendo derrotado nas eleições presidenciais de 2005, 2009 e 2014. Ele já prometeu um aproximação com Donald Trump caso seja eleito.


Jorge “Tuto Quiroga” foi eleito vice-presidente da Bolívia em 1997, aos 37 anos, se tornando o mais jovem na história do país a ocupar esse cargo. Em agosto de 2001, assumiu a presidência após a renúncia do presidente Hugo Banzer por motivos de saúde, completando o mandato constitucional até 2002. Ele promoveu políticas voltadas para a estabilidade macroeconômica, atração de investimentos estrangeiros e reforma do Estado. Ele é formado Engenharia Industrial e tem mestrado em Administração por universidades do Texas. Em 1992, assumiu como Ministro das Finanças, cargo que o tornou governador do Banco Mundial e do FMI, além de responsável por liderar as negociações com o governo dos Estados Unidos para a redução da dívida externa.


Em entrevista recente à CNN, ele prometeu se afastar de países como Venezuela, Cuba e Irã, mas a admitiu avaliar a permanência da Bolívia no grupo BRICS, por conta do vínculo comercial com a Índia e a China. Crítico do Mercosul, propôs uma aliança para a exploração do lítio junto com Argentina e Chile. Também prometeu reduzir o tamanho do Estado, citando a “motosserra” argentina de Javier Milei como exemplo.


Novo modelo político…

Mais do que a ascensão da direita após quase duas décadas de poderio da agora dividida esquerda, a disputa deste ano pode remodelar o próprio modelo de Estado da Bolívia. Segundo destacou o jornal La Razón, o modelo de Estado Plurinacional com controle estatal em áreas estratégicas — que reconhece dentro do território distintas nações e identidades — pode caminhar para um modelo republicano, com simplificação administrativa e redução da burocracia. Do outro lado, há defesa apenas por reforma do modelo atual, sem substituições.


…e econômico

Mudar o modelo administrativo do país, está ligado a modificar também a concepção econômica. Com isso, em caso de vitória de algum dos favoritos, o Modelo Econômico Social Comunitário Produtivo (MESCP), que completou 19 anos em janeiro, seria substituído por outro, com abertura de setores considerados estratégico ao capital privado e um programa ousado de privatizações, que poderia incluir até a poderosa petroleira YPFB. Ou seja, seria abandonada a estratégia de colocar o Estado como eixo de desenvolvimento e promotor de distribuição mais equitativa de renda.


(Fontes: La Razón, Ministério da Economia e Finanças, CNN América Latina, Yahoo Notícias, Los Tiempos)


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