O dólar à vista acelerou as perdas frente ao real nesta sexta-feira, depois que o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, sinalizou a possibilidade de cortes na taxa de juros durante o simpósio de Jackson Hole. Em seus comentários, Powell destacou os crescentes riscos para o mercado de trabalho, mas também alertou para a possibilidade de inflação mais alta.
“Embora o mercado de trabalho pareça estar em equilíbrio, trata-se de um equilíbrio curioso, resultante de uma desaceleração acentuada tanto na oferta quanto na demanda por trabalhadores. Essa situação incomum sugere que os riscos de queda no emprego estão aumentando”, disse Powell.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,98%, a 97,645.
Qual a cotação do dólar hoje?
Às 15h48, dólar à vista operava em baixa de 1,02%, a R$ 5,422 na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento recuava 0,12%, a R$ 5,479.
Na quinta-feira, o dólar à vista fechou em alta de 0,08%, a R$ 5,4771.
O Banco Central fará nesta sessão um leilão de até 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de setembro de 2025.
Dólar comercial
- Compra: R$ 5,422
- Venda: R$ 5,422
Dólar turismo
- Compra: R$ 5,483
- Venda: R$ 5,663
O que aconteceu com o dólar?
Em seu discurso no evento promovido pelo banco central dos Estados Unidos, Powell abriu a porta para cortar os juros, mas não se comprometeu, navegando por uma linha tênue ao reconhecer os riscos crescentes para o mercado de trabalho, mas também apontar que os riscos de uma inflação mais alta permanecem.
Após o discurso, operadores aumentaram suas apostas de que o Fed poderá realizar um corte de 0,25 ponto percentual em setembro, agora em 84% segundo dados da LSEG. Antes da fala de Powell, a probabilidade chegou a se aproximar de 65%.
Os comentários do chair do Fed eram aguardados durante toda a semana pelos agentes financeiros. Em sessões recentes, a moeda norte-americana teve baixa volatilidade no exterior, em meio à cautela dos mercados.
A economia dos EUA tem mostrado sinais mistos em meio à imposição de tarifas mais elevadas pelo presidente Donald Trump. Enquanto o mercado de trabalho desacelera, alguns indicadores de inflação, como os preços ao produtor, têm registrado maiores pressões altistas.
Nesta sexta, Powell ofereceu pouca orientação sobre quando ou com que velocidade os juros podem cair, reiterando que os dados a serem divulgados antes da reunião de 16 e 17 de setembro serão importantes para determinar a decisão das autoridades.
O discurso provavelmente fomentará ainda mais a pressão de Trump, que tem pedido a renúncia de Powell e o corte dos juros, argumentando não haver risco inflacionário.
Na cena doméstica, os fatores locais eram deixados de lado diante do foco em Powell. Ao longo da semana, as atenções estiveram voltadas para o impasse entre Brasil e EUA, conforme o governo segue tentando negociar a tarifa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros.
Segundo Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG, a postura adotada por Powell foi mais favorável a um corte de juros, reconhecendo a deterioração no mercado de trabalho após dados fracos do relatório de emprego e ressaltando que a decisão continua dependente dos dados, reforçando a importância das expectativas.
Na mesma linha, Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, comentou que o discurso trouxe um novo grau de otimismo para um mercado altamente focado na expectativa de retomada do ciclo de cortes de juros. Apesar de reconhecer que o ambiente macroeconômico continua desafiador, especialmente com mudanças em imigração e políticas comerciais afetando oferta e demanda de forma difícil de prever, o presidente do Fed destacou que a política monetária permanece restritiva e sinalizou ajustes próximos, provocando uma reação imediata nos ativos.
“Para o Brasil, esse ambiente é positivo. Com a taxa de juros doméstica ainda em patamar elevado, a atratividade do diferencial para o investidor internacional aumenta. É claro que, no curto prazo, seguimos acompanhando o cenário político local, mas é inegável que a política monetária americana continua sendo um dos principais vetores para o fluxo de capital estrangeiro”, comenta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Por aqui, as atenções continuam voltadas para o impasse entre Brasil e EUA, conforme o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue tentando negociar uma tarifa de 50% imposta por Washington sobre produtos brasileiros.
A percepção entre investidores é de agravamento das relações bilaterais desde uma decisão judicial do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que, na prática, impediu que o ministro Alexandre de Moraes sofra as consequências de avaliações econômicas impostas pelos EUA.
Após a decisão tomada na segunda-feira, o mercado doméstico passou a ver mais dificuldades para as negociações e ainda tem em que uma resposta norte-americana possa impactar as operações de bancos nacionais.
(Com Reuters)