CPI do INSS: oposição pressiona e maioria blindar Planalto e pode travar investigação

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Enquanto a oposição tenta usar a CPI do INSS para pressionar o governo e provocar desgaste ao Palácio do Planalto, a base pretende se aproveitar da maioria no colegiado para blindar o Executivo e travar as investigações.


O colegiado será instalado nesta quarta-feira e foi criado para apurar fraudes em descontos indevidos sobre aposentadorias e pensões. O esquema pode ter causado prejuízos superiores a R$ 6,4 bilhões, conforme as apurações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU).


A correlação de forças na comissão indica uma vantagem para a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, reduzindo a margem de manobra da oposição.


O colegiado será composto por 15 senadores e 15 deputados. Até agora, 27 vagas de titulares já foram preenchidas: apenas oito com nomes da oposição. Entre os senadores, quatro são oposicionistas. Entre os deputados, o quadro é semelhante. No comando da comissão, as indicações ficaram com parlamentares de confiança dos presidentes das duas Casas. O senador Omar Aziz (PSD-AM), aliado de Davi Alcolumbre (União-AP) e de Lula, presidirá o colegiado, enquanto a relatoria coube ao deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), próximo de Hugo Motta (Republicanos-PB).


A estratégia governista deve ser a de vincular as fraudes a gestões passadas, sobretudo ao período do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Senadores e deputados do PT, como Paulo Pimenta (RS), Alencar Santana (SP), Rogério Carvalho (SE) e Fabiano Contarato (ES), integram a tropa de choque do Planalto dentro da comissão e vão explorar essa associação.


Alguns flancos para o governo são as possíveis convocações do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, do atual ocupante do cargo, Wolney Queiroz, além do presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, e do ex-chefe do instituto Alessandro Stefanutto.


Há também uma pressão de bolsonaristas para mirar em um dos irmãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Frei Chico, que é ligado ao Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), uma das entidades citadas em relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) que apontou possíveis fraudes nos descontos de aposentados. Frei Chico não é investigado, e o sindicato nega qualquer irregularidade.


Já a oposição acusa a base de tentar blindar o governo. Para o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), a CPI já nasce esvaziada:


— Se dependesse do relator e do presidente não teria nem comissão, já que eles não assinaram a abertura.


O senador Cleitinho (Republicanos-MG) adotou um tom semelhante, cobrando imparcialidade:


— Convoque quem precisar ser convocado. Quem tiver feito coisa errada tem que pagar, seja no governo Bolsonaro, Lula, Dilma ou Temer. Então, que tanto o relator quanto o presidente não passem pano para ninguém.


Ao GLOBO, o relator Ricardo Ayres defendeu que terá atuação independente e explicou a decisão de não assinar o pedido de abertura da CPI:


— Não assinei por uma questão de cautela institucional. Isso não significa que considere o tema menos importante. Pelo contrário: contribui para que eu conduza o trabalho com imparcialidade — afirmou Ayres, acrescentando que “todos que foram citados” serão incluídos. — Não podemos proteger ninguém.


Já a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) reforçou que o governo não teme os rumos da investigação:


— Nós não estamos preocupados, porque uma CPI te dá a oportunidade de mostrar quando começou isso.Essa questão do INSS vem de muito tempo.


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