Um brasileiro estourou nas redes sociais com flagras de tentativas de assalto em pontos turísticos de Londres.
O que aconteceu
Diego Galdino, 32, aborda pickpockets e compartilha os vídeos no TikTok, Instagram e Youtube. As imagens são feitas com uma câmera GoPro. Como trabalha como entregador de aplicativo, ele comprou o equipamento para registrar eventuais casos de maus tratos. Mas acabou virando celebridade na internet com as cenas que passou a gravar pela cidade.
Em menos de um mês, seus perfis ganharam mais de de 150 mil seguidores. Os vídeos no @pickpocketlondon somam milhões de visualizações.
Diego costumava publicar as cenas apenas em seu perfil privado. Mas seus amigos passaram a incentivá-lo a compartilhar as imagens publicamente, com o intuito denunciar os delitos. Inicialmente reticente, ele acabou cedendo —e fazendo sucesso.
Hoje, divide o tempo entre o trabalho e a “caça” aos assaltantes. Dois dias da semana são exclusivamente dedicados a procurar os criminosos; nos outros, foca no trabalho. Ainda assim, concentra as entregas na região central de Londres, onde está sempre atento a possíveis casos.
Como reconhecer um pickpocket?
Diego conta que aprendeu a identificar quem age com frequência. Eles costumam carregar mapas ou toalhas para esconder a mão na hora do furto.
Assaltantes estão sempre em grupo escondem o rosto. O mais comum é usarem óculos escuros, bonés, chapéus ou sombrinha.
Sapatos costumam destoar. Na Oxford Street, principal rua de compras da cidade, costumam usar óculos e bolsas extravagantes, mas os pés se diferenciam do resto do figurino.
“Cada dia eu vou aumentando o filtro, pego uma característica nova”. Entre elas, carregar sacolas das lojas da área, para se passar por consumidores. No entanto, elas normalmente estão amassadas ou visivelmente vazias.
Vídeos são gravados nos principais pontos de assalto: locais com grande concentração de turistas. Westminster, onde Diego costuma atuar, é a região com o maior número de casos. Nesta área, estão alguns dos principais pontos turísticos da cidade, como o Palácio de Buckingham e o Big Ben.
Flagrar os crimes exige cuidados
Parte do procedimento é alertar a polícia. Instruído pelos próprios policiais, Diego reporta oficialmente todos os casos que testemunha.
Policiais só aparecem quando algum roubo já se concretizou, diz o brasileiro. Ele também conta mostrou seus vídeos diversas vezes para as autoridades, mas o material nunca foi usado como prova oficial.
Diego foi ameaçado duas vezes desde que começou as publicações. “Não tenho medo, mas mantenho minhas precauções”, diz. De forma geral, conta Diego, os assaltantes não reagem com violência, apenas saem de perto.
Ele evita agir sozinho e sai na companhia de amigos. Além da câmera, carrega um apito, veste um colete anti-faca e leva um spray de tinta para marcar quem tentar agredi-lo, facilitando a identificação.
Diego também recebe denúncias de onde os crimes acontecem. Há voluntários que diariamente mandam dicas ou registros de furtos acontecendo, o que ajuda a reconhecer os reincidentes e mapear as áreas mais visadas.
Nova atividade virou propósito de vida. O brasileiro conta que tentou ser policial tanto no Brasil, quanto na Inglaterra. Não conseguiu, mas se sente no dever de ajudar quando vê alguém em situação de risco. O objetivo sempre é afastar o assaltante antes do furto acontecer.
“Você ver um crime e não ajudar, não tomar nenhuma atitude, pra mim é como se eu fosse uma pessoa covarde”
Furtos na cidade aumentaram 700% entre março de 2023 e de 2024, em relação aos números de 2020/21. Os dados são do Office for National Statistics, o equivalente ao IBGE, e foram analisados e divulgados pela empresa de segurança Get Licensed em setembro do ano passado.
Europa tem rede de caçadores de pickpockets
Desde que Monica Poli viralizou ano passado com seus vídeos anunciando “attenzione pickpocket!”, a atividade deixou de ser novidade. Diego conta que na Europa há uma rede de pessoas que denunciam roubos nas maiores cidades do continente. Eles se conectam pelas redes sociais e trocam informações sobre as pessoas que mais flagram, chegando a constatar que os mesmos agem em países diferentes.
Em Londres, Diego é o primeiro a ficar conhecido pela atividade. “As pessoas não tinham essa noção, que isso estava acontecendo tão recorrentemente em Londres”, diz. “Tira um pouco o brilho, diminui o encantamento [pela cidade], mas mesmo assim ainda acho que Londres é a minha casa”, afirma. Natural de Assaí (PR), ele cresceu em Curitiba, mas vive há seis anos na capital inglesa.