Investidores brasileiros acompanham nesta terça-feira (5) os desdobramentos da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus possíveis impactos nas negociações comerciais com os Estados Unidos. A medida, determinada na véspera pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ocorre às vésperas da entrada em vigor, na quarta-feira (6), de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para o mercado americano.
Para Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, o episódio aumenta significativamente a aversão ao risco em relação aos ativos brasileiros, ampliando as incertezas no cenário político e econômico. “Até então, a expectativa era um pouco mais positiva do que no momento do anúncio inicial das tarifas, especialmente por conta das mais de 600 exceções já confirmadas. Mas agora o mercado entra em compasso de espera para entender se haverá mudanças nas tarifas que vão vigorar e se podem surgir retaliações”, explica.
O especialista avalia que o episódio pode dificultar ainda mais o diálogo entre os governos brasileiro e americano, reduzindo a probabilidade de avanço nas negociações para um consenso que leve à redução das tarifas ou ampliação das exceções. “Mesmo antes da prisão domiciliar, a comunicação era praticamente inexistente. Agora, estamos ainda mais distantes de um entendimento que possa incluir itens relevantes, como café e carne, que ficaram de fora da lista de exceções”, afirma Moreira.
A Ativa Investimentos, por sua vez, destaca que a repercussão é péssima, e diversas manifestações ao redor do Brasil foram instantaneamente gatilhadas pela decisão. Até mesmo o governo americano emitiu uma nota em português repudiando a decisão.
Na noite de ontem, os EUA condenaram decisão do Supremo Tribunal Federal de colocar Bolsonaro em prisão domiciliar antes do julgamento em que é réu por tentativa de golpe de Estado, às vésperas da entrada em vigor de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro por considerar que houve reincidência do descumprimento de medidas cautelares.
Na prática, segundo Marcos Moreira, o cenário reforça a percepção de risco, o que pode pressionar o dólar para cima e levar a uma reprecificação negativa dos ativos de risco no Brasil. Às 9h34, o dólar comercial subia 0,38%, cotado a R$ 5,528 na venda, enquanto o Ibovespa futuro registrava leve queda de 0,02%, a 133.140 pontos.