Às margens do Rio Acre, em um agosto marcado por estiagem severa e zero milímetros de chuva nas últimas 24 horas, o cenário é de areia exposta e embarcações encalhadas. É nesse cenário que vive, há três anos, o aposentado José Guedes Filho, morador de um barco ancorado próximo aos barrancos.
A seca, segundo ele, dificulta a navegação: “Só da seca do Rio Acre, a minha aqui já fica ruim de andar. Agora outras pequenininhas não andam bem, agora a maior não anda não”, explicou.
Natural da região, José lembra que seu contato com o rio começou cedo: “Quando eu era rapaz novo aqui, era cheio de embarcação. Aí tinha um padrinho meu, o senhor me dava em baleira e eu que marcava a baleira. Desde aí ando aí, muitos anos aqui, e acima, e abaixo. Graças a Deus, foi muito bom pra mim. Eu gosto do rio, de montar a velha de sozinho pra aí”, ressaltou.

Foto: David Medeiros
Aos 77 anos, mantém a rotina com a companhia de um cachorro, que também trabalha como guardião. “De noite agora não é fácil não… porque aqui de noite tava entrando por aqui, tava roubando minha mercadinha. Já entrou negro aqui, caiu pro meu celular. Agora com o cachorro aqui, dorme aqui, não entra não. Mas essa é a vida”, ressaltou.
Na época das cheias, a adaptação é outra. “Melhor do que os outros que eu tenho em casa por aí. Fico lá debaixo daquele palco lá, amarrado. Saio, vou no mercado, tô com as minhas coisas aí. Ele vai subir, eu vou subir. Eu sou todo desenrolado na minha vida, não me enrolo com nada. Graças a Deus. Só não me enrolo porque eu não tenho dinheiro”, explicou.

Foto: David Medeiros
Aposentado há anos, José diz que já se acostumou com o benefício: “De primeira eu lutei muito pra me acostumar com o salário. Agora eu tô quase me acostumando, já tá dando bem comigo. Faço alguma compra, tô pagando essa pequenininha, tô pagando esse botão e ainda dá pra comer, graças a Deus. Tá bom demais”, pontuou.
Mas a seca não afeta apenas moradores fixos como José. Próximo dali, na Casa de Passagemdo Deracre, o encarregado João explica como o período reduz o fluxo de ribeirinhos.

Foto: David Medeiros
“Nessa época da seca do Rio, fica mais difícil o barco trafegar. A seca tá grande já, e não tem como os barcos trafegarem no Rio. Aqui a maior parte dos barcos é na época da invernada, que a população ribeirinha traz o seu produto, a castanha. Aqui chega a 50, 60 pessoas por dia”, relatou.
Mesmo no verão amazônico, quando o acesso por ramais e estradas aumenta, a Casa de Passagem continua recebendo famílias. “Aqui é difícil faltar gente. Sempre chega família aqui, mas agora as pessoas vêm mais pelo ramal, de carro”, finalizou João.