“Solo do Acre ainda é um bebê” e potencial agrícola é gigante

Durante o sexto dia da Expoacre 2025, no Parque de Exposições Wildy Viana, em Rio Branco, o programa ac24agro promoveu nesta quinta-feira, 31, uma conversa técnica sobre o futuro da agricultura no Acre. Participaram da entrevista o engenheiro agrônomo Max Teodoro, da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagro), e o professor Ivo Frari, diretor técnico do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GASNA) e referência latino-americana em estudos de solos.


Questionado sobre o que torna o Acre especial do ponto de vista do solo, o professor Ivo foi enfático: “Aguenta a agricultura, pecuária, a própria floresta, porque vocês são abençoados. O Acre é um estado onde o solo é de origem jovem. Um solo com apenas 66 milhões de anos. É um solo bebê e está em constante construção”, explicou.


Apesar da juventude, o solo acreano exige atenção e equilíbrio no manejo. “Então, é um solo espetacular. Agora, vocês têm uma vantagem em relação ao Brasil. Vocês estão iniciando a agricultura. E aqui eu quero deixar para vocês dito que, para quem inicia, é importante iniciar fazer bem feito. Para não ter que voltar.”, alertou.


O engenheiro-agrônomo Max Teodoro falou sobre a mudança de postura da Secretaria de Agricultura, principalmente a partir de 2023, com a gestão do secretário Tchê, atualmente deputado licenciado. “A gente percebeu que os produtores são gigantes pela própria natureza, mas às vezes é preciso que a gente dê uma orientação maior para eles. Com as leis ambientais a gente não tem como brigar, nós temos que fazer o quê? Orientar o produtor, levar essa assistência para que ele possa aumentar a sua produtividade sem romper com a legislação. E quando a gente pensa em aumento de produtividade, eu não falo nem produção, eu falo em produtividade.”, afirmou.


Max detalhou o projeto Solo Fértil, lançado recentemente, que busca levar assistência técnica ao pequeno produtor. Entre os investimentos está a aquisição de aparelhos NIRS (Near Infrared Reflectance Spectroscopy), que, segundo ele, representam um grande avanço.


Ao ser provocado sobre a profundidade das coletas de solo, Max respondeu de forma didática. Ele ainda explicou que a maior parte do sistema radicular das culturas está concentrado entre 20 e 40 cm, justificando a escolha da profundidade para análise. “Para cada 10 hectares, a gente faz pelo menos de 15 a 20 coletas simples, de 0 a 20 centímetros. Depois, a gente junta tudo e faz uma amostra composta, com cerca de 300 grama”, pontuou.


A conversa também abordou a proximidade do Acre com o Peru e o potencial dessa relação para o fornecimento de insumos. Segundo Ivo Frari, o país vizinho pode ser um grande aliado, principalmente se a integração via estrada interoceânica for concretizada.


“Eu quero comprar já terra aqui, quero comprar lotes, porque isso aqui vai explodir. Se confirmado isso, bem entendido. Esse troço aqui vai bombar de tal forma que a estrutura de vocês vai ter que crescer muito para atender à demanda”, afirmou. .


Segundo ele, produtos simples como a casca da ostra, descartada no Peru, poderiam ser aproveitados como fonte rica de cálcio. “Depois de moído, esse material é o habitat dos micro-organismos. É ali onde a vida pulsa. Um por cento de matéria orgânica representa 175 mil litros de água a mais por hectare”, explicou.


O professor aproveitou a conversa para fazer uma crítica ao modelo alimentar atual, baseado em adubos sintéticos e alimentos ultraprocessados. “Nós precisamos comer a tabela periódica. Nós estamos comendo NPK, na opção de ferro, na opção de zinco, precisamos da tabela periódica inteira no alimento. E o pior, a indústria pega o alimento que o produtor produz, que não está bem adequada à fertilização, e consegue piorar mil vezes com os aditivos químicos, para poder dar longevidade ao alimento, ter tempo de prateleira. Então, nós estamos escolhendo o que comer”, destacou.


Ivo também traçou paralelos entre saúde humana e saúde do solo. Para ele, a degradação do solo e a má alimentação caminham juntas, e a mudança de paradigma deve passar pela produção local e sustentável. “Esse tipo de pecuária que não respeita a fisiologia da planta, que corta o pasto rente no período seco, vai degradar o solo e não vai sobreviver nem aqui, com solo fértil e matéria orgânica”, pontuou.


Max lembrou que o Acre, por estar distante dos grandes centros produtores, precisa investir naquilo que tem: “Isso favorece a gente utilizar a matéria orgânica que nós temos aqui. O esterco, a cama de frango, a compostagem”, explicou.


 


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