Em entrevista ao ac24horas, no estúdio montado na 50ª edição da Expoacre, nesta quinta-feira (31), a diretora da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Perpétua Almeida, falou sobre sua atuação à frente da instituição e destacou os avanços em projetos voltados para o desenvolvimento de cadeias produtivas no Acre, como o café e o açaí.
A diretora afirmou que, até pouco tempo, a agência era desconhecida no estado. “Quando cheguei na ABDI, a agência já existia há 20 anos, mas no Acre ninguém sabia o que era. Existia apenas um projeto voltado à Amazônia, que era o IG do café em Rondônia. Hoje, estamos com iniciativas no Acre, Rondônia, Amazonas, Pará, e em conversa com Tocantins e Amapá”, ressaltou.
Segundo ela, o foco da agência agora é apoiar os pequenos estados e regiões que historicamente ficaram à margem das políticas industriais. “Não dá para ficar só discutindo multa, multa, multa. Ir lá no produtor, na reserva, e só aplicar sanção. É preciso levar alternativas de desenvolvimento”, afirmou.
Ela destacou os resultados positivos da atuação da ABDI no Juruá, onde os produtores de café estão colhendo os frutos da industrialização. “De repente, os produtores deram um salto na produção e na renda. Quem fazia uma média de R$ 2 mil por mês, agora está fazendo R$ 3 mil. E a chegada da indústria permite ao produtor beneficiar o café com uma taxa mínima dentro da própria cooperativa, sem precisar pagar caro em outros locais”, disse.
Perpétua também adiantou que novos projetos estão a caminho, incluindo a instalação de dois complexos industriais no Vale do Acre. “Estamos trazendo mais duas estruturas industriais para essa região. E se preparem, porque agora vem o cacau”, anunciou.
A diretora ressaltou o potencial econômico do produto: “Com toda franqueza, você pega uma carreta de boi e ela pode valer até R$ 300 mil. Uma carreta de café vale R$ 1 milhão. E uma de cacau pode valer R$ 2 milhões. É um diferencial enorme para a economia local”, explicou.
Almeida falou sobre os investimentos que vêm sendo realizados pela entidade no estado do Acre, com destaque para as regiões do Juruá, Tarauacá e Feijó.
Segundo a diretora, somente o projeto do café no Vale do Juruá representa um investimento superior a R$ 10 milhões. A iniciativa contempla, entre outras ações, a implantação de uma usina de energia solar com cerca de 400 painéis fotovoltaicos, destinada a atender a nova indústria de beneficiamento de café instalada na região. “A gente sabia que, sem energia solar, a operação da indústria se tornaria inviável por causa do custo da energia elétrica convencional. Com os painéis, conseguimos garantir autonomia e economia para os produtores”, explicou.
A estrutura conta com nove grandes secadores e dois pequenos, voltados especialmente aos agricultores familiares com menor escala de produção. A planta industrial realiza processos completos de beneficiamento do café, desde a lavagem e seleção até a preparação para a torra, que é feita em local apropriado. “Desde a ordem de serviço até o primeiro teste das máquinas, o processo levou um ano e três meses. É um prazo recorde se comparado a obras públicas tradicionais”, ressaltou Perpétua.
A diretora explicou que, apesar de ser uma agência federal, a ABDI funciona com modelo semelhante ao de uma empresa privada, o que permite maior agilidade. Os recursos utilizados provêm do Sistema S — 2% são destinados à ABDI, enquanto a maior parte vai para o Sebrae e Apex. “A ABDI existe há 20 anos, mas só agora está atuando de fato no Acre. Brinco com o vice-presidente Alckmin, que preside o conselho da ABDI, que estamos tirando o atraso histórico do estado”, comentou.

Foto: Jardy Lopes
Além do café, a agência também está investindo na cadeia produtiva do açaí. Um dos focos é o açaí de Feijó, que já possui uma das três Indicações Geográficas (IG) reconhecidas no Brasil. O projeto abrange ainda Tarauacá e municípios vizinhos no Amazonas. As ações envolvem parcerias com diversas cooperativas, como a Coopercafé, a Cooperacre, e associações ligadas à produção de açaí. Estão previstas a instalação de mais duas indústrias na região do Vale do Acre.
Impacto na economia e formação profissional
De acordo com Perpétua, somando os investimentos já iniciados e os previstos para os próximos dois anos, o montante destinado ao Acre ultrapassa R$ 40 milhões. “Esses recursos vão direto para a economia do estado. Isso significa melhoria de renda para as famílias, geração de empregos e qualificação profissional. É desenvolvimento na veia”, destacou a diretora.
A diretora da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), anunciou um novo convênio de R$ 18 milhões com a Coperacre para expandir o investimento na cadeia produtiva do café no estado. O plano é instalar dois complexos industriais semelhantes ao já implantado no Vale do Juruá, ainda que em menor escala.
Um dos polos será construído na zona rural de Capixaba, onde há forte produção de café, e o outro na região do Bonal, a caminho de Acrelândia — município que, segundo Perpétua, é pioneiro na produção cafeeira do Acre. “Estamos ampliando o projeto em parceria com a Coperacre. Como essa política da ABDI tem foco no cooperativismo, buscamos as regiões onde há cooperativas organizadas. Capixaba e Acrelândia têm grande potencial”, explicou.
Tarifas dos EUA não afetam diretamente o café acreano
Ao ser questionada sobre o impacto das tarifas impostas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, à exportação de produtos brasileiros, Perpétua esclareceu que o café do Acre ainda não é exportado para os Estados Unidos, sendo comercializado internamente, no estado e em outras unidades da federação. “Essa medida não afeta diretamente o Acre. E, mesmo se afetasse, ela não deve durar muito. Os EUA não conseguem plantar café do dia para a noite. Eles são um dos maiores consumidores do mundo, e todo o café do Starbucks, por exemplo, vem do Brasil. A pressão popular deve forçar o recuo dessas tarifas em breve”, analisou.
Ela destacou ainda que a Ásia — especialmente a China — vem aumentando o consumo de café, o que abre novas possibilidades de mercado. A ABDI já está organizando uma missão com o Ministério da Integração Nacional para promover o café e o açaí do Acre e de Rondônia no mercado chinês.