O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve se reunir nesta quinta-feira (3) com a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, condenada por corrupção e atualmente em prisão domiciliar.
O encontro ocorre paralelamente à 66ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em Buenos Aires, mas não inclui agenda bilateral com o atual presidente argentino, Javier Milei, evidência do distanciamento diplomático entre os dois líderes.
A reunião entre Lula e Kirchner foi autorizada pela Justiça argentina a pedido da ex-presidente e deve ocorrer no período da tarde, após o encerramento oficial da cúpula. A visita foi antecedida por uma conversa telefônica entre os dois em junho, após a Suprema Corte da Argentina rejeitar recurso da defesa de Cristina. À época, Lula publicou mensagem nas redes sociais elogiando a “maneira serena e determinada” com que a aliada enfrentava o processo.
Kirchner foi condenada por comandar uma organização criminosa e promover administração fraudulenta ao favorecer o empresário Lázaro Báez em contratos públicos entre 2003 e 2015, durante os governos dela e de Néstor Kirchner. O esquema teria causado prejuízo de cerca de US$ 1 bilhão ao Estado argentino. Cristina nega as acusações e afirma que a sentença foi “política”.
Cúpula do Mercosul
A ausência de diálogo direto entre Lula e Milei chama atenção por ocorrer durante o principal fórum de integração regional da América do Sul. A Argentina entrega ao Brasil a presidência rotativa do bloco, que será comandado por Lula pelos próximos seis meses.
Apesar do clima político tenso, o evento ocorre um dia após o anúncio de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio) — grupo que reúne Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. O tratado, segundo o Itamaraty, deve criar uma zona de livre comércio com quase 300 milhões de pessoas e PIB superior a US$ 4,3 trilhões.
O governo brasileiro espera formalizar a assinatura do acordo ainda em 2025. Em paralelo, Lula tenta avançar na ratificação do acordo entre Mercosul e União Europeia, fechado em 2019, mas travado por resistências, principalmente da França.
O presidente Emmanuel Macron alega que os padrões ambientais cobrados dos europeus são mais exigentes que os exigidos do lado sul-americano. Lula tem cobrado que o país europeu apresente uma contraproposta.
Conflito entre Lula e Milei
Desde a posse de Javier Milei, em dezembro de 2023, as relações diplomáticas entre Brasil e Argentina têm sido marcadas por trocas de farpas públicas e ausência de gestos bilaterais. Durante a campanha presidencial argentina, Milei fez ataques diretos a Lula e ao PT. Já no poder, o libertário manteve o afastamento: em visita ao Brasil em 2024, se encontrou apenas com Jair Bolsonaro (PL), ignorando o atual presidente brasileiro.
A escolha de Lula por se encontrar com Cristina Kirchner — figura central do kirchnerismo e antítese política de Milei — reforça o contraste ideológico entre os dois governos e sinaliza um movimento de solidariedade política que pode repercutir na cena regional.