Líder indígena suspeito de abusar de turista em aldeia no Acre é solto durante audiência de custódia

Isaka Ruy foi denunciado por turista por estupro — Foto: Mardilson Gomes/SEE/Arquivo

O líder indígena Isaka Ruy Huni Kuî, acusado de estupro pela turista chilena Loreto Belen, se apresentou à Polícia Civil de Feijó, interior do Acre, nessa quarta-feira (9) prestou depoimento sobre as acusações e acabou preso. Nesta quinta (10), ele passou por audiência de custódia e foi liberado para responder o processo em liberdade.


A Justiça interpôs medidas cautelares ao indígena no lugar da prisão. Ele precisa manter endereço e telefone atualizados, comunicando à Justiça qualquer alteração, não se ausentar da cidade por mais de oito dias, sem avisar ao Judiciário e informar o período de ausência e localização, e comparecer à Vara Criminal de Feijó até o dia 10 de cada mês.


O primeiro comparecimento está marcado para 8 de agosto. O líder indígena conversou, brevemente, com o g1 após a audiência de custódia e afirmou que não fez nada de errado e vai provar a inocência. Sobre as acusações, ele se limitou a dizer que tudo será comprovado no processo.


“Não fiz nada de errado, nada que possa ser denunciado. Quero dizer que a justiça vai ser feita, vou provar minha inocência e tudo vai vir à tona. A Justiça, tanto do homem como da mãe natureza, vai prevalecer. A gente vai prevalecer”, resumiu.


 


O indígena chegou à delegacia na quarta acompanhado da advogada Laiza Camilo e prestou depoimento ao delegado Dione Lucas, que investiga o caso. Após o depoimento, o delegado cumpriu o mandado de prisão preventiva decretada no dia 27 de junho.


Isaka negou novamente que tenha abusado de Loreto Belen, durante o depoimento, disse que havia saído da comunidade indígena após acompanhar um grupo de turistas em uma vivência na floresta e não sabia da acusação.


Ao ser informado, contratou um advogado e iniciou as negociações para se apresentar e prestar esclarecimentos.


“Preciso investigar mais, ouvir mais testemunhas, os turistas que estavam na aldeia, que participaram das vivências, do banho matinal. Ele nega o abuso, diz que ela que tentou se relacionar com ele, mas não quis. Até agora não achamos o celular dela, vamos tentar pelo iCloud para tentar localizar. Ela ainda não forneceu o iCloud, o pessoal da aldeia diz que procurou o celular pra devolver, mas não encontrou”, disse o delegado.


 


Loreto Belen Manzo estava na terra indígena para participar de imersão cultural — Foto: Reprodução/Instagram

Loreto Belen Manzo estava na terra indígena para participar de imersão cultural — Foto: Reprodução/Instagram

Depoimento

 


Ainda segundo o delegado, o indígena confirmou que teve uma conversa em particular com a vítima, em uma área mais afastada da aldeia, contudo, negou que tenha praticado algum tipo de abuso.


“Não tinha mais ninguém perto, fica a palavra de um contra o outro. Ele disse que ela o atacou e tentou ir em direção ao centro cultural, que foi quando a esposa dele soube e deu uma confusão”, explicou o delegado.


O líder indígena afirmou também que a turista não foi agredida pela esposa. “Seguraram [a esposa] e não agrediu ela. O laudo do exame de corpo de delito apontam algumas vermelhidões no corpo dela [turista]. Vou continuar investigando para saber o que aconteceu, vou chamar outras pessoas que estavam na aldeia para prestar depoimento”, complementou.


Ao todo, o delegado já ouviu cinco testemunhas, dentre turistas, o suspeito e deve ouvir a turista novamente ao final do inquérito.


“Tenho cinco declarações, prints, vou chamar mais alguns turistas que estavam lá para depor. Fica difícil, com o que está nos autos, dizer o que ocorreu”, destacou Dione Lucas.


A advogada Laiza Camilo explicou que juntou aos autos a versão do indígena. “Juntamos uma vasta documentação comprovando que não tem cabimento a acusação que ela faz contra o Isaka, o vídeo que ela apresentou, rebatemos também e o próprio delegado se manifestou pela soltura dele na audiência”, relatou.


Denúncia

 


A chilena formalizou a denúncia na delegacia de Feijó no dia 23 de junho. Loreto chegou à comunidade indígena São Francisco, do Povo Huni Kuî, na zona rural de Feijó, no dia 15 de maio e ficou mais de um mês na localidade.


Durante o período que permaneceu na aldeia, Loreto diz que sofreu, pelo menos, três tipos de abuso sexual cometidos pelo indígena, sendo o último no dia 17 de junho.


Além de denunciar o caso na delegacia de Feijó, a vítima também relatou o caso nas redes sociais, em um vídeo. Ela visitou a terra indígena pela primeira vez em janeiro deste ano, quando passou 15 dias estudando a medicina da floresta.


No dia 15 de maio, ela voltou à comunidade para viver outra experiência na natureza. A turista comprou um pacote por cerca de R$ 5,5 mil para ficar várias semanas no local.


Contudo, segundo ela, a experiência tornou-se um pesadelo quando Isaka Ruy, um dos líderes indígenas, teria começado a tocar suas partes íntimas durante algumas atividades, tentado beijá-la à força e a estuprado no dia 17 de junho.


A turista disse que resolveu denunciar o que ocorreu na aldeia para que outros visitantes não sejam vítimas. “Espero que outras pessoas não passem pelo que passei. Acho que tive coragem e força espiritual para falar e enfrentar essa situação. Não quero difamar ninguém, meu objetivo é que outras mulheres possam levantar a voz e isso não se repita”, incentivou.


O delegado Dione dos Anjos Lucas confirmou que a vítima foi ouvida na delegacia, fez exames de lesão corporal e sexologia forense no hospital do município e apresentou vídeos gravados nos momentos do abuso.


A turista recebeu ainda apoio e assistência do Departamento Bem Me Quer da Polícia Civil, que auxilia mulheres em situação de vulnerabilidade, e do Organismo de Políticas Públicas para Mulheres (OPM).


A PM do Acre disponibiliza os seguintes números para que a mulher peça ajuda:

 


  • (68) 99609-3901
  • (68) 99611-3224
  • (68) 99610-4372
  • (68) 99614-2935

 


Veja outras formas de denunciar casos de violência contra a mulher:


  • Polícia Militar – 190: quando a criança está correndo risco imediato;
  • Samu – 192: para pedidos de socorro urgentes;
  • Delegacias especializadas no atendimento de crianças ou de mulheres;
  • Qualquer delegacia de polícia;
  • Secretaria de Estado da Mulher (Semulher): recebe denúncias de violações de direitos da mulher no Acre. Telefone: (68) 99930-0420. Endereço: Travessa João XXIII, 1137, Village Wilde Maciel.
  • Disque 100: recebe denúncias de violações de direitos humanos. A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa;Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e polícia;
  • WhatsApp do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos: (61) 99656- 5008;
  • Ministério Público;
  • Videochamada em Língua Brasileira de Sinais (Libras).

 


 


 


 


 


 


 


 


Fonte:G1 Acre


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