A ofensiva tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil está surtindo efeito contrário ao pretendido. É o que avalia publicação do Financial Times nesta terça-feira (22) intitulada “Trump, imperador do Brasil”. “Trump está ajudando Lula, não Bolsonaro”, escreveu o colunista Edward Luce, ao destacar que os principais prejudicados pela tarifa de 50% são setores que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro, como os produtores de carne bovina e café.
Luce aponta que a medida “não faz sentido nem nos próprios termos mercantilistas de Trump”, já que os EUA mantêm superávit comercial com o Brasil e, portanto, “o país de Lula deveria ter sido poupado das tarifas do ‘dia da libertação’ de Trump”.
Segundo o colunista, ao atingir a economia de aliados de Bolsonaro, Trump acabou fortalecendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Não é surpresa que a sorte de Lula tenha sido restaurada”, escreveu, referindo-se ao impacto político positivo da medida sobre o atual governo brasileiro.
Luce avalia que a reação do governo brasileiro tem apoio popular e deu fôlego político a Lula, citando uma fala do petista: “Trump foi eleito para governar os EUA, não para ser imperador do mundo”.
O texto também ironiza a motivação da Casa Branca ao adotar a tarifa como forma de pressionar o Brasil a interromper o julgamento de Bolsonaro e punir o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo caso. “Ele pune o sistema jurídico de uma democracia irmã por aplicar a lei. Bolsonaro aguarda julgamento por seu suposto apoio a uma tentativa violenta de derrubar a eleição presidencial brasileira de 2021, vencida por Lula”, destaca o FT.
“O paralelo Trump-Bolsonaro é insólito. A diferença é que Bolsonaro está sendo responsabilizado”, diz a publicação, em referência ao ataque ao Capitólio promovido por apoiadores de Trump após sua derrota para Joe Biden, em 6 de janeiro de 2021.
Luce diz que a medida de Trump tem natureza autoritária. “Trump está usando esse instrumento [tarifas] para o que bem entender. E ele gosta de autocratas”, escreveu. Ele comparou a situação do Brasil à da Turquia, que, apesar de ter um superávit com os EUA e de ter prendido adversários políticos, recebeu tarifa menor, de 10%.
A análise do Financial Times reforça o diagnóstico publicado no domingo (20) pelo Washington Post, segundo o qual a medida de Trump contra o Brasil “saiu pela culatra” e se transformou “em um presente político para Lula”.