PF aponta Braga Netto como “figura central” em plano para desacreditar urnas

O ex-presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

A Polícia Federal (PF) concluiu que o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, foi uma das figuras centrais na articulação de estratégias para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro e preparar o terreno para um golpe de Estado.


A informação consta de um novo relatório enviado nesta quarta-feira (18) ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O documento tem como base mensagens encontradas no celular do coronel Flávio Botelho Peregrino, ex-assessor de Braga Netto.


O general está preso preventivamente desde dezembro de 2023, acusado de tentar obstruir a Justiça e acessar informações sigilosas da delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.


Grupo bolsonarista produziu e disseminou informações falsas, diz PF

Segundo o relatório da PF, Braga Netto fazia parte de um grupo de WhatsApp chamado “Eleições 2022”, no qual circulavam mensagens sobre a elaboração de documentos com alegações falsas de fraude nas urnas eletrônicas. O conteúdo seria usado como base para questionamentos judiciais no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


As mensagens indicam que os integrantes do grupo — que incluía assessores e militares — pretendiam entregar um relatório com informações manipuladas ao então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. O objetivo era apresentar o material ao TSE, com o intuito de levantar suspeitas infundadas sobre o processo eleitoral.


A PF também destaca que essas informações falsas sustentaram a ação movida pelo Partido Liberal (PL) no TSE, que questionava o resultado do primeiro turno das eleições de 2022, vencido por Lula.


Influenciadores e desinformação

O inquérito indica ainda que o grupo promovia uma rede de desinformação que incluía o envio de “estudos falsos” a influenciadores digitais alinhados ao bolsonarismo. Entre eles, o argentino Fernando Cerimedo, que publicou conteúdos em vídeo questionando as urnas eletrônicas, com base em material fornecido por integrantes do círculo de Braga Netto.


Essas ações fariam parte de um movimento mais amplo de erosão da confiança nas instituições democráticas, segundo os investigadores.


Delação de Mauro Cid e tentativa de acesso irregular

Outra revelação importante do relatório diz respeito à delação premiada de Mauro Cid. A PF afirma que o coronel Flávio Botelho, subordinado de Braga Netto, relatou ter tido acesso prévio ao conteúdo do acordo de colaboração. Em conversa com um jornalista, Botelho diz: “Acredito que alguém teve acesso ao Cid e já me passou as informações”.


A PF considera esse episódio mais uma evidência da tentativa do entorno de Bolsonaro de acompanhar ilegalmente os desdobramentos das investigações e controlar danos.


7 de setembro de 2021 já indicava “intento golpista”, diz PF

O relatório destaca que as articulações golpistas não se limitaram ao período pós-eleitoral de 2022. Segundo os investigadores, a retórica golpista já estava em curso durante os atos de 7 de setembro de 2021, quando Bolsonaro atacou ministros do STF e ameaçou não cumprir decisões judiciais.


Uma troca de mensagens entre Braga Netto e Mauro Cid, após a publicação de uma carta do então presidente tentando recuar das ameaças, reforça a gravidade das intenções. Cid escreveu: “PR apanhando muito. Tomara que não venham migalhas. Já vi esse filme”. Braga Netto respondeu: “Mas agora nós podemos virar a mesa […] Ele vai pra mídia, conta o combinado e rompemos”.


Defesa pede acareação com Mauro Cid

Na semana passada, Braga Netto prestou depoimento a Moraes e negou qualquer envolvimento com planos de golpe. A defesa do general solicitou uma acareação com Mauro Cid, que foi marcada para a próxima terça-feira (24).


A equipe jurídica de Braga Netto tenta rebater as acusações de que ele teria participado do plano chamado “Punhal Verde e Amarelo” — uma articulação que envolveria até assassinato de autoridades — e nega que o general tenha entregado dinheiro a Mauro Cid em uma sacola de vinho para financiar militares do chamado “grupo kids-pretos”, um esquadrão de elite do Exército.


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