Família acusa “amigos” de abandonarem Juliana Chaar e pede justiça contra foragido

Fotos: Whidy Melo

A tragédia que tirou a vida da advogada e servidora do Tribunal de Justiça do Acre, Juliana Chaar Marçal, de 36 anos, na madrugada do último sábado (21), em Rio Branco, continua a reverberar com dor e indignação entre seus familiares. Em entrevista exclusiva ao ac24horas, o pai, Francisco Alberto da Costa Marçal, a mãe, Maria Claudia Thomaz Chaar Marçal, e o irmão, Thiago Chaar Marçal, desabafaram sobre a perda, a sensação de abandono e a luta por justiça contra o responsável pelo atropelamento fatal que vitimou Juliana, descrito por eles como um “assassinato covarde”. A advogada foi morta após uma confusão nas proximidades da casa noturna Dibuteco, no bairro Isaura Parente, envolvendo um grupo de advogados e jovens identificados como “agroboys”. O conteúdo faz parte de uma vídeo reportagem de Whidy Melo, que pode ser vista na íntegra ao fim desta matéria.


O desespero da descoberta


Thiago Chaar Marçal, irmão de Juliana, foi o primeiro a receber a notícia devastadora. “Eu atendi o telefone e falaram: ‘Sua irmã foi atropelada, ela está entubada.’ Ponto,” relatou, descrevendo o choque inicial e a falta de informações claras no momento. A ausência de detalhes e a frieza da comunicação marcaram o início de uma sequência de eventos que a família considera permeada por omissões e descaso.


Foto: Whidy Melo/ac24horas

Francisco, o pai de Juliana, descreveu o momento em que chegou ao Pronto-Socorro de Rio Branco, onde a filha foi levada após o atropelamento. “Quando olhei pela fresta, vi um médico atendendo, já senti que ela chegou sem vida. Saía sangue pelo ouvido, e ela estava entubada. Não tinha ninguém que dissesse alguma coisa, nada com nada. Ela estava só,” lamentou, expressando a indignação com a solidão da filha em seus momentos finais. Ele destacou a falta de apoio de pessoas próximas, incluindo aqueles que Juliana considerava amigos, como os advogados Keldheky Maia da Silva, Bárbara Maués Freire e João Felipe de Oliveira Mariano, presentes na confusão.



Foto: Whidy Melo/ac24horas


“Amigos” que abandonaram


A mãe de Juliana, Maria Claudia, revelou a confiança que a filha depositava nos colegas e a surpresa por não ser atendida durante as tentativas de contato com os amigos de Juliana que foram testemunhas de sua morte. “Ela tinha amor por eles, entendeu? E no início, achei tudo muito estranho. Ninguém me procurou, eu ligava, ninguém falava comigo, ninguém sabia de nada. Talvez pra combinar uma narrativa?” questionou Maria Claudia, levantando dúvidas sobre o silêncio dos envolvidos.



Foto: Whidy Melo/ac24horas


Francisco foi ainda mais contundente ao criticar a postura dos colegas de Juliana. “Na hora da confusão, ela foi a única que pagou com a vida. Porque foi um monstro que fez aquilo com ela. E ninguém que estava com ela se preocupou com ela. Cheguei no Pronto-Socorro, ninguém sabia de nada, ela estava sozinha, jogada,” desabafou. Ele expressou revolta com o que chama de “covardia” dos amigos, que, segundo ele, não defenderam Juliana durante a briga e não prestaram esclarecimentos à família. “Deus me livre de ter esses amigos,” afirmou, destacando a ausência de contato ou solidariedade por parte dos advogados envolvidos, incluindo Bárbara Maués, a quem disse “não conhecer e nem querer conhecer”.


Um crime, não um acidente


A família é unânime em rejeitar a ideia de que a morte de Juliana foi um acidente. Thiago foi enfático: “Minha irmã não sofreu um acidente. Minha irmã foi atropelada, um cara passou com um carro com as duas rodas em cima da minha irmã. Minha irmã parecia um cachorro, cara. Não foi um acidente.” A descrição reflete a violência do ato, capturado por câmeras de segurança que mostram uma caminhonete preta, possivelmente uma Toyota Hilux, avançando sobre Juliana e Keldheky Maia, que sofreu apenas escoriações leves.


Francisco reforçou a intencionalidade do ato. “Teve intenção de matar, porque ele queria voltar para passar de novo. Ele estava no canto que alguém atirou, tu foge, tu não vai para cima querer matar. Foi maldoso, foi um assassinato. Foi proposital,” declarou, referindo-se ao motorista identificado como Diego Luiz Gois Passo, cuja prisão temporária foi decretada pela Justiça do Acre no dia 22 de junho, mas que permanece foragido.


Maria Claudia também apontou a responsabilidade principal ao condutor da caminhonete, embora tenha mencionado incertezas sobre o papel de Keldheky Maia, que efetuou disparos durante a confusão. “Quando ele se abaixa debaixo de um painel e acelera o carro, ele está assumindo um risco de matá-la. O principal responsável é o condutor da caminhonete,” afirmou.


Clamor por justiça


A família de Juliana Chaar Marçal clama por justiça e pela elucidação completa do caso. Francisco expressou confiança nas autoridades, mas pediu celeridade. “Eu acredito na justiça, acredito na polícia, acredito na competência do secretário. Eu tenho certeza que esse crime vai ser esclarecido,” disse. Ele também fez um apelo à sociedade: “Queremos pedir que toda pessoa se mobilizasse e tentasse nos ajudar a encontrar esse assassino, saber do paradeiro dele.”


A mãe de Juliana destacou o impacto devastador da perda. “Ele destruiu uma família. Morta como se ela fosse um bicho. É o que a gente mais quer, é justiça,” afirmou, referindo-se às imagens chocantes do atropelamento. A família também mencionou a força de Juliana, descrita como “guerreira” e alguém que “partiu para cima para defender os amigos”. Francisco afirmou que a memória da filha o motiva a lutar. “Juliana está me dando força. Onde ela está, ela está me dando força, porque ela era guerreira.”


Contexto da tragédia


O caso teve início com um desentendimento no Dibuteco, supostamente quando a queda de um copo próximo a um grupo de “agroboys” gerou tensão com os advogados, incluindo Juliana, Keldheky, Bárbara e João Felipe. A situação escalou para a rua, onde Keldheky sacou uma arma e disparou para o alto, segundo testemunhas, antes do atropelamento fatal. A arma utilizada não foi localizada, e a polícia investiga possíveis favorecimentos no desaparecimento do objeto.


Juliana Chaar Marçal foi sepultada no dia 22 de junho, em uma cerimônia marcada por emoção e pedidos de justiça. A missa de sétimo dia, realizada na sexta-feira (27), na Catedral Nossa Senhora de Nazaré, reuniu familiares e amigos que continuam a honrar sua memória. A família, apesar da dor, mantém a esperança de que a investigação esclareça todas as circunstâncias do crime e responsabilize os culpados.


Assista à video reportagem:



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