Talvez você não conheça João Batista Sérgio Murad, mas provavelmente já ouviu falar no personagem criado por ele: o Beto Carrero. O empresário, que morreu em 2008, trabalhou em diferentes segmentos até dar início ao que seria o parque temático mais visitado da América Latina.
A Nossa, a equipe do complexo Beto Carrero, localizado na cidade de Penha (SC), compartilhou detalhes da trajetória do empresário.
‘Zorro brasileiro’
Beto Carrero nasceu em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, em 1937. Desde a infância, sonhava em ser o “Zorro brasileiro”. Montado no cavalo batizado de Silver, ele costumava brincar no pasto da fazenda onde morava. Aos seis anos, João Batista ajudava o pai com o trabalho no campo, a venda de leite e o frete de carreto de boi, além de engraxar sapatos.
Junto a Silver, João teve as primeiras percepções de como conquistar o público. Vendendo leite de casa em casa, notou que, quanto mais enfeitava o animal, mais chamava a atenção dos clientes e aumentava suas vendas. Além de um sino no pescoço, Silver ganhou uma capa branca e uma sela especial.
Eu ia no cavalo do qual eu não me separava nunca, o mesmo em que eu realizava minha fantasia de ser o Zorro. Trabalho, diversão e fantasia se entrelaçavam na minha cabeça. Eu nunca me perguntei o que seria quando crescesse. Eu já sabia. Trabalho, diversão e fantasia seriam os ingredientes da minha vida.
Beto Carrero
No internato em que estudou, fez amizade com nomes que, um dia, também se tornariam famosos. Os apresentadores Clodovil e Amaury Júnior eram observados por João Batista, que aprendia técnicas de comunicação e oratória com os colegas.
Sertanejo, locutor e vendedor
Com 14 anos, João Batista contratou o ator Mazzaropi para realizar shows em cidades do interior. Para viabilizar as apresentações, o garoto negociou o acordo com Mazzaropi e o dono de uma rede de cinemas local.
Aos 18 anos, o jovem formou uma dupla sertaneja com o amigo Nhô Moraes. Para a carreira de cantor, ele criou o nome artístico pelo qual ficaria conhecido no Brasil inteiro: Beto Carrero. O nome é uma homenagem ao pai, que era conhecido na região como Alexandre Carrero, por conta do carreto de boi que tinha.
A dupla Nhô Moraes e Beto Carrero estreou na Rádio Difusora Tanabi. Já na Rádio Rio Preto, eles se tornaram locutores e emplacaram um programa com baladas românticas e anúncios. Como locutor, Beto Carrero trabalhou em rádio até os 21 anos. Além de Nhô Moraes, também trabalhou com Dino Santana, irmão de Dedé Santana.
No início da década de 1960, Beto Carrero se mudou para São Paulo e passou a buscar um emprego nas rádios. Na cidade, começou a trabalhar para o jornal Folha de S.Paulo, onde era o principal vendedor de anúncios da empresa. Com o dinheiro conquistado como vendedor, Beto criou um tabloide chamado Noticiário da Moda, posteriormente vendido para a Editora Abril. Beto também abriu a própria agência de propaganda, a JBS Murad Propaganda que, na década de 1970, figurava entre as 20 maiores agências do país.
Os contratos com emissoras aproximou o empresário da televisão. Manoel de Nóbrega, o filho Carlos Alberto de Nóbrega e Renato Aragão passaram a fazer parte do círculo de contatos de Beto Carrero. Em 1977, Beto se tornou sócio de Renato Aragão no contrato que havia conseguido firmar com a Globo para o programa “Os Trapalhões”.
Trajetória como empresário teve HQ, circo e filme
Na década de 1980, Beto Carrero lançou o personagem em um programa sertanejo gravado na Rádio União, em Blumenau (SC). Montado no cavalo Faísca, ele apresentava o cowboy brasileiro em shows, feiras, rodeios e exposições no país e no exterior. O designer Hans Donner criou a logomarca do empresário.
Em 1985, lançou uma série de gibis com o título “As Aventuras de Beto Carrero”. No mesmo ano, estreou no cinema com o filme “Os Trapalhões no Reino da Fantasia”, que também contou com a participação de Xuxa.
Ainda nos anos 1980, Beto Carrero entrou no universo circense após a compra do Circo Moscou. No picadeiro, passou a ter mais contato com animais e adotou o leopardo Marco.
A ‘Disney brasileira’
Já adulto, Beto Carrero visitou o complexo Walt Disney World, nos Estados Unidos. Motivado pela ideia de elaborar um parque de diversões em seu próprio país, ele iniciou a compra das terras em Penha (SC), cidade que havia conhecido no início dos anos 1970.
De início, o parque era composto por poucos brinquedos infantis e duas lonas de circo. Um pequeno zoológico também fazia parte do complexo. Com o tempo, áreas temáticas foram inseridas no parque. Em dezembro de 1991, o empresário inaugurou o parque Beto Carrero World, com investimento 100% próprio.
Entre as atrações ao público estão brinquedos infantis, para a família e radicais. Áreas dedicadas às marcas Nerf e Hot Wheels fazem sucesso com os visitantes, que também podem interagir com personagens do desenho Bob Esponja e dos filmes Madagascar e Trolls. Em junho de 2024, a administração anunciou o fechamento do zoológico, em decisão que levou em consideração o “profundo respeito e carinho que o saudoso Beto Carrero tinha pelos animais”.
Atualmente, o parque é um dos principais complexos do Brasil. Com quase 2,8 milhões de visitantes, o Beto Carrero World foi o parque mais visitado da América Latina em 2023.
O ingresso para um dia de visita ao parque pode custar R$ 350. Em simulação realizada por Nossa, o valor promocional verificado foi de R$ 129,90 para um dia de acesso ao complexo.
O sucesso do complexo é refletido também nas redes sociais. Somente no Instagram, são mais de 4,1 milhões de seguidores.
Eu vislumbrava que seria uma pessoa conhecida. Isso nunca me saiu da cabeça, desde os seis anos de idade. Eu nunca me imaginei não fazendo sucesso. Nunca. E sempre pensei grande
Beto Carrero
Instituto Beto Carrero foi criado em 2003. Como Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), o instituto promove projetos de responsabilidade social em diferentes áreas, como cultura, esporte, saúde e meio ambiente. Todas as atividades realizadas na entidade são gratuitas e abertas para a comunidade.
Beto Carrero morreu em 2008, em São Paulo. O empresário sofreu um choque cardiogênico —quando o coração não consegue bombear o sangue para o restante do corpo adequadamente— durante uma cirurgia cardíaca no Hospital Sírio-Libanês. O corpo foi levado ao Sul e está enterrado no cemitério de Penha (SC).
