O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, voltou a negar, em depoimento à Polícia Federal, que tenha utilizado um perfil no Instagram para falar sobre sua delação premiada, o que violaria o sigilo do acordo. O militar é delator na investigação que apura uma trama golpista com o objetivo de manter Bolsonaro no poder após a derrota em 2022. O depoimento foi prestado na tarde de terça-feira.
Em uma primeira oitiva, há duas semanas, o militar já havia negado que tivesse conversado sobre sua delação com o advogado Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro.
Na última segunda-feira, a Meta, dona do Instagram, entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um ofício que mostra detalhes da conta do Instagram e os IPs dos dispositivos que acessaram o perfil. Segundo o documento, o perfil foi registrado em 2005 com o e-mail “[email protected]” e a data de aniversário do militar.
Durante o interrogatório de Cid no STF, em 9 de junho, o advogado Celso Vilardi, da defesa de Jair Bolsonaro, perguntou ao militar se ele havia conversado sobre o conteúdo de sua delação com outras pessoas pelo Instagram. Ele negou.
Em seguida, Vilardi questionou se ele conhecia um perfil chamado “GabrielaR702”. Cid respondeu que Gabriela é o nome de sua esposa, mas que não sabia se aquele era o perfil dela.
Dias depois, a revista Veja publicou mensagens atribuídas a esse perfil, sobre a delação de Cid. Os advogados do tenente-coronel negaram ao STF que ele fosse o autor do diálogo e solicitaram a investigação da conta. Moraes atendeu ao pedido e determinou que a Meta enviasse os dados.
Na semana passada, no entanto, o advogado Eduardo Kuntz informou ao STF que foi ele quem conversou com Cid por esse perfil e apresentou novas mensagens.
Câmara é um dos réus do chamado “núcleo dois” da trama golpista, enquanto Cid e Bolsonaro fazem parte do considerado “núcleo crucial” da suposta organização criminosa que teria tentado um golpe de Estado no fim de 2022.
Na quarta-feira, Moraes ordenou a prisão de Câmara e determinou que ele e Kuntz sejam investigados por possível obstrução de Justiça.
“São gravíssimas as condutas noticiadas nos autos, indicando, neste momento, a possível tentativa de obstrução da investigação por Marcelo Costa Câmara e por seu advogado Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz, que transbordou ilicitamente das obrigações legais de advogado”, afirmou Moraes.
Nos dados enviados pela Meta, há o registro de uma conversa entre Kuntz, o perfil “GabrielaR702” e Paulo Amador Cunha Bueno, um dos advogados da equipe do ex-presidente Jair Bolsonaro.