A arrecadação própria de Mâncio Lima já aumentou 44,6% desde o início do funcionamento do complexo industrial de café no município, há pouco mais de dois meses. O dado foi divulgado na inauguração oficial da estrutura neste sábado, 28, no Ramal do Café, que contou com mais de 5 mil pessoas. Várias autoridades participaram do evento.
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Cooperativa de Café do Juruá (Coopercafe), investiram R$ 10 milhões no maior complexo industrial de café da agricultura familiar da Região Norte, com foco no cooperativismo. O resultado é a mudança de vida dos produtores. Raimundo Freitas Lima da Rocha, conhecido como Fredinho, conta que o trabalho de dias e meses para secar o café ficou para trás. Ele planta em 7 hectares e agora entrega o café na indústria com certeza da venda. A vida da família já mudou para melhor, garante ele.
“Nós começamos a plantar café aqui em 2019 sem indústria, sem secador industrial, secando na lona, no chão. Para quem tinha uma hectare de café, duas hectares de café que nem eu, levava até 70 dias para secar meu café em toda safra. Então o café não tinha como ter qualidade porque era secado na lona de qualquer jeito. Uma hora pegava sol, outra hora pegava chuva. E hoje eu seco em menos de quatro dia e nós temos garantia de produzir, ter uma indústria para secar o café. E depois que ele bate aqui ele agrega mais qualidade no nosso café, ele é secado, descascado é classificado e é venda garantida. Nós estamos nos preparando para o mundo. A cultura do café muda a vida dos pequenos de agricultura familiar que nem eu. Quem planta café e cuida do seu café ele já pode sonhar com carro novo com a casa boa, com o notebook da filha, com a faculdade da filha. O café atrai riqueza para dentro das propriedades, para dentro das casas”, conta.
O presidente Jonas Lima, conta que a Coopercafé já conta com quase 180 cooperados. O café de Mâncio Lima, segundo ele, está pronto para “ganhar o mundo“.
“Agora é uma nova realidade, pros produtores, plantadores de café daqui. Na região norte não tem outra indústria do modelo dessa com alta tecnologia para beneficiar o café e secar e re-beneficiar, que é para pontos de exportação. Então, essa indústria está pronta para colocar café em qualquer parte do mundo. Inclusive, ela tem todas as ferramentas para carregar aqui para os containers. Na beneficiamos em torno de 7 mil sacas já foram beneficiadas nesses 66 dias de funcionamento. A capacidade dela é de 25 mil sacas de café mas nós acreditamos que este ano não vamos fechar em torno de 15 mil sacas. Essa indústria é para os pequenos produtores”, cita Jonas.
Estrutura moderna e sustentável
O parque fabril possui uma estrutura física de 1.640 m² e opera com energia elétrica 100% limpa e sustentável, abastecida por 356 painéis solares, que geram 21.500 kWh por mês, além de utilizar práticas como o reuso de água da chuva e o uso de lenha certificada.
Toda a produção de café é realizada em áreas degradadas, sem qualquer desmatamento novo, reforçando o compromisso ambiental do projeto, ponto destacado pela presidente da ABDI, Perpétua Almeida.
“Hoje é um grande dia, um dia de alegria para os produtores de café. Porque se a gente olha para as missões da nova indústria Brasil lançada pelo presidente Lula, que ela traz um olhar para a pequena indústria e para a indústria dos pequenos, que é o que a gente está fazendo aqui. Não, para desenvolver um país você não pode olhar só para as grandes indústrias e para os grandes Estados. A BDI tem 20 anos e é a primeira vez que o Acre ouviu falar dela. Então, pegando pelas seis missões da nova indústria Brasil, nós estamos aqui com um olhar especial para as cadeias agroindustriais sustentáveis, para o social para melhorar e empoderar as famílias através do cooperativismo, o processo de industrialização da produção e ainda um olhar para a questão ambiental. Porque quando a gente traz um projeto como esse, a gente recomenda que as pessoas não desmatem para plantar café. Pelo contrário, aproveitem áreas que já foram desmatadas. Pra plantar o café e outras culturas, porque isso a gente pode aos poucos, e conquistando o reflorestamento. E a gente vai vendo que um produto como esse aumenta a renda do produtor, aumenta a arrecadação do município, desenvolve a região e traz outros investimentos pra região”, ressaltou.
O prefeito de Mâncio Lima, Zé Luis, agradeceu pelo investimento feito no município pelos resultados. “Hoje é um dia histórico para o nosso município porque marca uma nova história, uma história de investimento, uma história de reconhecimento desse povo que é tão trabalhador, dessa terra que é tão produtiva. Então assim, é um novo momento para para a agricultura familiar e para a economia do município. Eu não posso deixar de agradecer aos parceiros, às pessoas que lutaram para isso acontecer como o ex-prefeito Isaac, junto com seu irmão, o ex-deputado João Alima, Perpétua, ao governo federal, não tem como deixar de agradecer ao presidente Lula por esse investimento, por esse olhar. Então a todos, todos eles que estão fazendo acontecer, que estão transformando as vidas das pessoas. Porque isso aqui é uma esperança. É uma esperança de uma vida melhor, é uma esperança de uma cidade melhor, é uma esperança de uma transformação na região”, concluiu o prefeito Zé Luis.
O Complexo industrial tem dois processos principais do café:
• Beneficiamento: envolve secagem, descascamento e classificação do café, preparando o grão para comercialização, seco e descascado. O maquinário inclui 11 secadores, uma máquina descascadora e uma classificadora de cafés in natura com despolpador.
• Rebeneficiamento: agrega qualidade ao produto, por meio da padronização por tamanho e densidade, utilizando um conjunto de peneiras e mesa densimétrica. Esse processo permite separar os melhores lotes, aumentando o valor de mercado do produto.
O parque produz desde café commodity até café especial, o que amplia o leque de possibilidades comerciais para os cooperados. Na região, os cooperados, em sua maioria pequenos e médios produtores, cultivam cerca de 1,5 milhão de pés de café. Somando o Vale do Juruá e parte do Amazonas, são mais de 5 milhões de pés de café plantados.
Cruzeiro do Sul também terá Complexo de Café
O município de Cruzeiro do Sul também terá uma indústria de café. O empreendimento será erguido no Ramal 2 da BR-364. O presidente da Coopercafé diz que na próxima safra a indústria de Cruzeiro estará funcionando.
“Nós vamos ter um anexo desse no ramal 2 em Cruzeiro do Sul. Já compramos o terreno em parceria com a prefeitura de R$200,000. com o prefeito Zequinha. Nós lançamos essa obra de construção civil até 15 de janeiro e na próxima safra nós estamos secando café daquela região”, pontuou Jonas Lima.
O prefeito de Cruzeiro do Sul, Zequinha Lima, comemorou a novidade. “Uma agricultura familiar forte é garantir que os agricultores vão viver melhor e é esse exatamente o nosso objetivo. Mas além disso, nós queremos também agregar valor a tudo isso. Hoje em Cruzeiro do Sul nós chegamos a quase 500 hectares, então há uma tendência de crescimento, e é claro que daqui a alguns dias, nós queremos também fazer com que esse café possa ganhar o Brasil, possa ser levado para o mundo inteiro. Afinal, o café é uma das bebidas mais consumidas do mundo. Há a perspectiva, sim, de ter um investimento na área do Juruá que vai beneficiar Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Tarauacá, toda essa região. Nós estamos trabalhando junto a BDE, junto a ex-deputada Perpetua Almeida neste sentido“, concluiu Zequinha.
A cerimônia de inauguração contou com a presença do presidente da Assembleia Legislativa do Acre, deputado estadual Nicolau Júnior, deputados estaduais Luís Gonzaga, Edvaldo Magalhães, Pedro Longo, prefeitos e vereadores. A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, não compareceu.