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O que (e quem) está por trás dos milhões na venda de mandos de jogos para Brasília

Por trás da crescente presença de grandes clubes e eventos esportivos em Brasília está uma engrenagem milionária que movimenta a cidade e que vai muito além das quatro linhas. Com incentivos milionários, articulações políticas e cifras robustas por trás da bola rolando, a capital federal se firma não só como cenário esportivo, mas como verdadeiro hub de negócios ligados ao futebol. Tudo isso movimentado por empresas que têm à frente Luiz Estevão, primeiro senador cassado da história do país.


A estratégia de comprar mandos de campo virou o centro da operação. Empresários e grupos de investidores, como o portal de notícias Metrópoles, de propriedade de Estevão, chegam a desembolsar até R$ 2 milhões por jogo para garantir que clubes transfiram suas partidas para Brasília. Esse valor é pago de forma antecipada ao time mandante, o que cobre deslocamentos, hospedagens e ainda garante lucro imediato.


Em contrapartida, os promotores apostam na bilheteria e nos contratos de patrocínio e direitos de imagem para lucrar alto. No duelo do último domingo entre Vasco e Palmeiras, por exemplo, foram quase R$ 3 milhões de renda com ingressos. Em 2024, esse mesmo confronto atraiu mais de 64 mil torcedores, com uma arrecadação que passou de R$ 7 milhões.


Além da bilheteria, o “dono do jogo” também fatura com a operação completa do evento: explora os bares e restaurantes do estádio, vende ingressos dos camarotes corporativos e negocia patrocinadores específicos para cada partida.


Além disso, grandes marcas regionais e nacionais se associam aos eventos por meio de ativações pontuais, placas de campo, experiências VIP e ações promocionais, o que aumenta significativamente a receita obtida com cada jogo realizado no Distrito Federal.


Girando a economia de Brasília

Esse movimento não apenas rentabiliza os clubes e organizadores, como impacta diretamente a economia da capital federal. A cadeia produtiva do turismo e da hospitalidade responde rapidamente: a ocupação hoteleira saltou de 59,4%, em 2019, para 65,7% em 2023, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Distrito Federal (ABIH-DF).


Estima-se que mais de R$ 35 milhões foram arrecadados com ISS no setor hoteleiro em 2024, frente aos R$ 7 milhões de 2018.


O movimento constante de torcedores, imprensa e equipes técnicas tem feito do estádio Mané Garrincha um ponto turístico regular. Além de jogos de clubes como São Paulo, Corinthians, Internacional, Palmeiras e Flamengo, o estádio recebeu a Seleção Brasileira nas Eliminatórias da Copa e pode ser novamente palco de decisões internacionais — Brasília chegou a ser finalista para sediar a final da Libertadores de 2025, perdendo para Lima, no Peru.


“Brasília sempre foi estratégica. Quando olhamos os eventos esportivos, vemos mais do que um jogo: vemos um grande negócio. É uma cidade com logística privilegiada, boa estrutura hoteleira, segurança, aeroporto próximo e, principalmente, com capacidade de absorver grandes públicos. Isso tudo somado ao investimento privado torna o Mané Garrincha um ativo importante no calendário nacional”, avalia Marcelo Dantas, consultor em gestão esportiva.


A cidade, que já havia se destacado como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, também foi o porto seguro da Conmebol em um dos momentos mais críticos da pandemia de Covid-19, em 2021, quando abrigou jogos da Copa América após a desistência de Argentina e Colômbia. Desde então, manteve o protagonismo como sede de partidas de peso da Libertadores, Recopa, Copa do Brasil e Brasileirão.


Marcas aproveitam o momento

Com a crescente demanda, empresas de marketing esportivo e tecnologia também enxergaram ali uma mina de ouro. “Brasília tem se mostrado um ponto estratégico de ativação de marca, especialmente para clubes com torcidas pulverizadas nacionalmente. Além de rentável, cria uma nova conexão com torcedores distantes, amplia base de sócios e fortalece o valor das marcas”, afirma Henrique Borges, VP da Somos Young, empresa especializada em engajamento de torcedores.


Há sempre um debate sobre o quanto é justo que o time venda seu mando por conta da isonomia esportiva. Alguns clubes reclamam que seus rivais têm vantagem ao jogar em estádios que chegam mais perto da neutralidade em relação ao campo que originalmente receberia a partida e pode ser considerada como casa de verdade do mandante. Não à toa, a CBF proibiu a venda de mandos nas últimas cinco rodadas do Brasileirão.


Reginaldo Diniz, CEO e sócio-fundador da End to End, empresa que é um hub de soluções e engajamento para o mercado esportivo, vê no movimento uma outra oportunidade.


“Seja por uma necessidade circunstancial, seja como um projeto de nacionalização dos clubes, esse movimento deveria ser realizado dentro do planejamento do calendário. Muitas agremiações possuem torcidas nacionais, e olhando o futebol também como entretenimento, sem desconsiderar uma modernização no calendário e a saúde mental e física dos atletas, me parece fazer muito sentido levar jogos importantes e de grandes times para outras regiões do país. Movimenta e economia local e reforça o sentido de pertencimento dos torcedores que estão longe fisicamente do seu time do coração”, analisou.


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