Bolsonaro confirma que discutiu Estado de Sítio com militares: “nada anormal”

Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou, em entrevista ao UOL, que discutiu com os comandantes das Forças Armadas a possibilidade de decretação de um Estado de Sítio após o resultado das eleições de 2022, mas negou que isso configurasse uma tentativa de golpe de Estado.


Bolsonaro classificou o debate sobre o tema como uma “medida prevista na Constituição” e comparou sua situação com a da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que, segundo ele, também teria estudado o recurso em 2016.


“Não foi anormal discutir essa possibilidade. É um remédio constitucional”, afirmou. O ex-presidente alegou que, após a derrota nas urnas, havia uma preocupação com a “ascendência” do ministro Alexandre de Moraes sobre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que, na sua visão, colocava em risco a lisura do processo eleitoral.


Críticas ao STF e à investigação

Na entrevista, Bolsonaro fez duras críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes, a quem acusou de perseguição. Segundo ele, há um “sentimento” de que pessoas que querem vê-lo morto estariam protegidas pelo sistema.


“O MP é quem tem que provar que eu sou culpado, não eu que tenho que provar que sou inocente”, declarou. “No STF, tem cinco ministros — sabemos o histórico de cada um, citando o Zanin, Dino e Moraes. Moraes tem uma perseguição contra mim. Por mais razão que tivermos, ele nunca aceitou nenhum pedido nosso.”


Bolsonaro ainda questionou a decisão da Primeira Turma do STF de suspender parcialmente a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), limitando a suspensão apenas aos crimes cometidos após a diplomação do parlamentar. Para o ex-presidente, a ação penal deveria ser totalmente suspensa, pois ele é acusado de um “crime continuado” que começa com a live em que questionou as urnas eletrônicas e vai até os atos golpistas de 8 de Janeiro.


“Eu estou sendo acusado de um crime continuado desde a live criticando as urnas eletrônicas até o 8 de Janeiro, onde seria o golpe final. Tudo ao longo desse percurso está interligado. Então não faz sentido a suspensão parcial da ação do Ramagem”, disse.


Estado de Sítio

O ex-presidente defendeu que as conversas com os militares sobre um Estado de Sítio foram uma precaução legítima diante da percepção de que o TSE poderia estar jogando contra ele. Bolsonaro afirmou que nunca ordenou a implementação da medida e que, em uma segunda reunião com aliados, o tema foi descartado.


“Se eu houvesse planejado um golpe, não teria sancionado a lei que aumenta a pena para golpe de Estado”, declarou.


Bolsonaro negou envolvimento nos atos de vandalismo que ocorreram em Brasília em 8 de Janeiro e afirmou que sempre pediu manifestações pacíficas em seus vídeos. Ele acusou militantes da esquerda de se infiltrarem nos protestos para gerar caos e prejudicar sua imagem.


Ele também minimizou a importância da chamada “minuta golpista” encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres, classificando o documento como uma peça sem valor jurídico. “Isso aqui pode ser um roteiro de uma novela ou qualquer outra coisa. Se eu fosse o instrutor de Direito Constitucional, daria zero para o aluno que elaborou isso”, ironizou.


Futuro político e pressão sobre governadores

Bolsonaro declarou que, se for condenado, sua carreira política estará encerrada, dada sua idade. No entanto, afirmou que não pretende desistir facilmente e pediu apoio dos governadores que têm se reunido com o ex-presidente Michel Temer para discutir uma “alternativa de direita” para 2026.


“Eu vou até o último segundo. Peço até que os governadores falem sobre a validade da nossa chapa para 2026”, afirmou.


A fala de Bolsonaro ocorre em meio a uma série de desdobramentos judiciais que o colocam como réu em investigações sobre tentativa de golpe, organização criminosa e atos antidemocráticos. O ex-presidente, que já foi condenado a oito anos de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), agora enfrenta o risco de uma condenação penal que poderia encerrar sua trajetória política.


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