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Agente diz ao STF que a Abin criou sala no Planalto com acesso direto a Bolsonaro

O agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Cristian Schneider, afirmou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (26), que a agência montou um gabinete dentro do Palácio do Planalto durante o governo Jair Bolsonaro (PL), com acesso direto ao presidente da República, à margem do comando formal do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).


De acordo com Schneider, o canal direto com Bolsonaro foi uma novidade histórica dentro da estrutura da inteligência brasileira.


“Pela minha experiência profissional, foi a primeira vez que a Abin teve salas no Palácio do Planalto. Esse espaço não respondia ao GSI”, afirmou.


O depoimento reforça as suspeitas da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que, sob o comando de Alexandre Ramagem, a Abin teria sido utilizada como instrumento de vigilância política, com foco em jornalistas, adversários e até aliados do então presidente.


Segundo o agente, tanto Ramagem quanto seu sucessor, Vitor Felismino Carneiro, foram escolhas diretas de Bolsonaro, sem interferência do então ministro do GSI, general Augusto Heleno.


“Tinham contato direto com o presidente, não precisavam passar pelo ministro”, explicou.


A sala da Abin funcionava no segundo andar do Planalto, paralelamente ao gabinete do diretor-geral na sede oficial da agência. Ainda segundo Schneider, era comum que Ramagem permanecesse dias despachando do Planalto, discutindo tanto assuntos de inteligência quanto temas políticos com Bolsonaro.


PGR acusa a gestão Bolsonaro de ter montado uma “estrutura paralela” da Abin para promover perseguições políticas, produzir dossiês e monitorar opositores. Parte das operações visava endossar discursos da base bolsonarista, incluindo desconfianças infundadas contra o sistema eleitoral brasileiro.


Schneider, que tem quase 30 anos de atuação como oficial de inteligência e ocupou o cargo de coordenador-geral de Relações Institucionais e Comunicação da Abin, afirmou que a agência não atuava tecnicamente sobre a vulnerabilidade das urnas eletrônicas, mas sim sobre riscos logísticos para o processo eleitoral, como interdições em estradas e protestos violentos.


“Nosso trabalho era identificar obstáculos críticos que pudessem interferir no bom andamento das eleições, como obstruções de rodovias ou ações de vandalismo. A Abin não produzia análises sobre a segurança técnica das urnas eletrônicas”, pontuou.


O depoimento de Schneider pode reforçar a tese de que a inteligência de Estado foi instrumentalizada com fins políticos durante o governo anterior, uma tese central da investigação que tramita sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes no STF.


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