A morte do Papa Francisco, aos 88 anos, na última segunda-feira (21), encerra um ciclo histórico na Igreja Católica e deixa em aberto um capítulo pessoal marcante: o pontífice argentino jamais voltou à Argentina desde sua eleição, em 2013, e morreu sem reencontrar a irmã mais nova, María Elena Bergoglio.
A ausência do Papa em seu país natal — mesmo após 12 anos de pontificado e 48 viagens internacionais — gerou interpretações políticas e institucionais. Mas também teve um custo pessoal. María Elena, com saúde fragilizada e dificuldades financeiras, não pôde viajar a Roma. Francisco, por sua vez, evitou o retorno à Argentina, entre outros motivos, para não se envolver em disputas políticas locais.
Francisco e María Elena mantiveram contato constante ao longo dos anos, com ligações semanais e trocas de cartas. O vínculo familiar foi ressignificado em 2019, quando o artista Gustavo Massó presenteou o Papa com uma escultura da mão da irmã. O objeto permaneceu em sua mesa no Vaticano, simbolizando um reencontro que nunca se realizou.
Internamente, o Papa demonstrava preocupação com as condições de vida da irmã, que enfrentava dificuldades para comprar medicamentos — reflexo do cenário inflacionário argentino. Ainda assim, Francisco optou por não retornar ao país, mesmo após ter manifestado publicamente o desejo de fazê-lo.
A decisão de não visitar a Argentina, segundo interlocutores, também esteve atrelada ao esforço de manter a neutralidade institucional da Santa Sé em um ambiente político polarizado. Embora jamais tenha comentado diretamente os motivos da ausência, Francisco reconheceu que a distância o afetava pessoalmente.
Sua morte, durante o Jubileu — o “ano do perdão” para a Igreja — encerra um pontificado que buscou reformar estruturas internas e promover maior aproximação com os fiéis, mas também evidenciou as tensões entre as dimensões espiritual, política e pessoal de seu cargo.