Encerra neste sábado, 19, o festival “A Floresta Fala Para Quem Sabe Ouvir – Sabedoria Noke Koî”. A festa realizada pelo Povo Noke Kuî, da Terra Indígena Campinas Katukina, na BR-364, em Cruzeiro do Sul, começou nessa sexta-feira, 18, e celebra o Dia dos Povos Indígenas.
O festival é aberto e a programação contempla diversas atividades, como cerimônias tradicionais, cantos sagrados, uso de medicinas da floresta, pinturas corporais, rodas de saberes e conexões profundas com a floresta e suas tradições. Há ainda venda de artesanatos, comidas típicas, café da manhã e almoço no local.
Isamir Warinawa, Presidente da Associação Geral do Povo Noke Kuî, convida a população em geral para participar do festival e estar conectada com os ensinamentos da floresta.
“Temos muita comida típica, pintura corporal, dança, cantoria, aplicação de medicina. À noite temos a distribuição de medicina da natureza, Ayahuasca, cantoria, dança, rapé. Estou convidando o pessoal para que venham participar da festa com a gente aqui durante dois dias”.
Janaína Terças, Secretária Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, enfatizou a importância do município apoiar os festivais, reconhecendo e respeitando a cultura indígena.
“A Prefeitura Municipal de Cruzeiro do Sul, o prefeito Zequinha Lima apoia os eventos, os festivais, o próprio Dia do Indígena, como uma forma de divulgar essa cultura e também como respeito à cultura e tradição indígena. Essa parceria resulta no fortalecimento do etnoturismo aqui na região”, enfatiza.
O município preparou um espaço que serve como acampamento para os participantes que queiram pernoitar no local.
Programação
Neste sábado (19), das 09h às 12h – Atividades de Conexão
• Aplicação de medicinas (Kambô, Sananga) ou trilha para Samaúma com roda de saberes
12h às 14h – Almoço e venda de pratos típicos
14h às 16h – Apresentação Cultural
• Feira de artesanato indígena
• Oficina de grafismo com urucum e jenipapo
17h às 19h – Roda de Rapé
19h às 21h – Jantar e venda de pratos típicos
21h – Cerimônia de Encerramento
• Cerimônia com Ayahuasca (Uni), Rapé e Sananga
• Atendimentos de pajelança individual.
Os Katukina
Atualmente, 748 indígenas do povo Katukina vivem nas 12 terras da BR-364 e eles se tornaram importantes personagens na instalação do linhão de energia elétrica que corta a metade do Brasil e o Vale do Juruá ao ao Sistema Interligado Nacional -SIN.
O linhão chegou até Cruzeiro do Sul passando dentro dos 18 quilômetros de terras dos Katukina na BR-364. Além de garantir energia elétrica de fonte renovável para o Acre, o maior projeto de descarbonização da Amazônia melhora a vida dos indígenas.
A Empresa Transmissora Acre entregou em 6 de novembro do ano passado a sede da Associação Geral do Povo Noke Koi da Terra Indígena Campinas Katukina, o Centro de Medicina e o Centro de Artesanato, com uma loja para venda de produtos locais e um viveiro. Além dos prédios, nas 11 Terras Indígenas foram feitos dezenas de açudes, aviários, roçados, plantações de cana e instalação de casas de farinha e engenhos. Para manter tudo funcionando, a Associação vai receber R$ 280 mil por ano para manter a sede, R$ 1 milhão referente à mitigação por supressão vegetal (de sumaúmas) além de R$ 1,4 milhão para desenvolver projetos.
As edificações, programas, os recursos em dinheiro e assistência técnica integram o Componente Índigena de mitigação dos impactos causados pelo linhão de energia elétrica, que passa em 18 quilômetros da Terra Indígena, na BR-364. No trecho, há 35 torres do linhão. Tudo foi realizado a partir do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena (CI-PBA), do empreendimento.
O líder das 11 Terras Indígenas dos Noke Koi, Poá Katukina, afirma que as medidas vão torná-los independentes de forma sustentável, garantindo a segurança alimentar de futuras gerações.
“Esse plano foi feito por nós, com os parceiros. É mais uma conquista nossa. Era o sonho meu, um sonho de todo o povo de construir nossa associação aqui na metade da Terra Indígena, onde ao lado está o colégio, o posto de saúde. A gente fica feliz com a sede da associação, a casa de artesanato, a casa de medicina. Além dessa sede aqui, tem nas outras terras a piscicultura com mais de 60 açudes e tanque entre todos, e tem as casas de farinha, casas de engenho. Em agosto de 2025, a empresa vai sair daqui e a gente vai tocar sozinho. Então isso traz responsabilidade também pra gente, pra gente estar cuidando, manejando todo esse patrimônio, essa conquista toda, a gente tem que valorizar e cuidar do nosso patrimônio. E com os cursos que eles vão dar, a assistência técnica, com o dinheiro que temos, a gente vai tocar. Com essa estrutura é andar com nossas pernas. Isso aqui será para as futuras gerações”, enfatizou o líder.