A prática de exercícios físicos traz inúmeros benefícios para a saúde, mas é fundamental entender os limites do próprio corpo para evitar problemas. O organismo nos dá sinais claros quando algo não está certo. Assim como a boca seca indica a necessidade de hidratação e a fome manifesta a demanda por nutrientes, há outros sinais que, se ignorados, podem levar a consequências mais graves.
Ao longo deste texto, trarei alguns dos principais alertas que o corpo emite durante o treino, como dores ou desconfortos persistentes, dor no peito, dificuldade para respirar, batimentos cardíacos irregulares, visão turva e exaustão térmica. Compreender esses sinais é essencial para prevenir problemas de saúde e garantir um desempenho seguro.
Dificuldade em respirar ou falta de ar
A falta de ar pode ser um sintoma comum durante o exercício intenso, mas é importante diferenciar entre a respiração acelerada natural e sinais de alerta. A sensação de sufocamento, aperto na garganta, chiado ou tosse persistente podem indicar problemas subjacentes, como asma induzida pelo exercício ou problemas cardíacos. Segundo a Cleveland Clinic, dificuldades respiratórias recorrentes podem ser agravadas por condições como hérnias, sobrepeso e enfraquecimento dos músculos do diafragma com o avanço da idade.
Se a falta de ar for intensa e não melhorar com pausas, pode estar associada a condições mais sérias, como insuficiência cardíaca ou problemas pulmonares. Estudos mostram que a capacidade de ventilação reduzida está ligada a uma menor taxa de oxigenação muscular, o que pode comprometer a performance e a segurança do treino.
Frequência cardíaca elevada e persistente
Monitorar a frequência cardíaca é essencial para entender os limites do corpo. Durante o treino, os batimentos naturalmente aumentam, mas devem retornar a níveis normais nos períodos de descanso. Se a frequência cardíaca permanecer elevada mesmo após o exercício, isso pode indicar um problema cardíaco subjacente, como arritmia ou hipertensão.
Estudos mostram que a incapacidade de reduzir a frequência cardíaca após o exercício está associada a um maior risco cardiovascular. Por isso, se notar que seus batimentos permanecem elevados por muito tempo, procure um médico e considere realizar um teste ergométrico.
Visão turva e tontura
A visão turva pode ser um indicativo de que o corpo está sob estresse excessivo. Durante exercícios intensos, é comum que os sentidos fiquem levemente comprometidos devido à redistribuição do fluxo sanguíneo. No entanto, se a visão turva vier acompanhada de tontura, fadiga extrema ou sede intensa, pode ser um sinal de desidratação, hipoglicemia ou pressão arterial baixa.
De acordo com a Harvard Health Publishing, a pressão arterial pode cair rapidamente durante o exercício, levando à hipotensão postural. Estudos apontam que a desidratação pode reduzir o volume sanguíneo, comprometendo o fluxo de oxigênio para o cérebro e causando tontura e fadiga intensa.
Dores nas articulações e lesões musculares
Dores articulares persistentes podem indicar sobrecarga ou lesão em desenvolvimento, sendo fundamental atenção imediata aos sinais do corpo. De acordo com a literatura, as lesões musculoesqueléticas evoluem em três fases: inflamatória (com duração média de 3 a 5 dias), reparo (de 14 a 21 dias) e remodelação ou fase crônica, que pode se agravar em caso de sobrecarga contínua ou recuperação inadequada.
Fraturas por estresse, por exemplo, são comuns entre praticantes iniciantes e geralmente decorrem de aumento abrupto no volume ou intensidade do treino, sendo mais recorrentes em membros inferiores.
Para evitar esse tipo de ocorrência, é fundamental manter uma rotina estruturada de fortalecimento muscular, descanso adequado e acompanhamento profissional. Diante de dores articulares contínuas, o ideal é interromper a atividade física e buscar avaliação médica especializada.
Dor de cabeça ou tensão no pescoço
Treinamentos de alta intensidade podem gerar dores de cabeça e pescoço devido à tensão excessiva nos músculos do trapézio e ombros. A má postura durante a atividade pode agravar o problema, causando compressão dos nervos e até cefaleias tensionais.
Manter uma postura correta, alongar os músculos cervicais e evitar sobrecarga são medidas essenciais para evitar esses desconfortos. Se as dores persistirem, busque orientação de um fisioterapeuta.
Dor no peito e pressão torácica
Embora ataques cardíacos durante o exercício sejam raros, eles podem ocorrer, especialmente em indivíduos com doenças cardiovasculares não diagnosticadas. Sentir dor no peito, pressão torácica ou queimação são sinais de alerta que não devem ser ignorados.
Um estudo publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte destaca que, embora o exercício físico traga benefícios na prevenção de doenças cardiovasculares, ele pode, paradoxalmente, desencadear eventos cardíacos graves, como infarto agudo do miocárdio e morte súbita, especialmente em pessoas com fatores de risco não identificados . Se você sentir dor no peito durante o treino, interrompa imediatamente a atividade e procure atendimento médico.
Exaustão pelo calor
Treinar em temperaturas elevadas sem hidratação adequada pode levar à exaustão térmica, um estágio anterior ao golpe de calor. Sintomas incluem cãibras, tontura, suor excessivo seguido de pele fria e úmida, além de fadiga extrema.
A American College of Sports Medicine recomenda a ingestão de líquidos antes, durante e após o exercício, ajustando a quantidade conforme as necessidades individuais e condições específicas de treino.
Recomendações para uma hidratação eficiente (ACSM):
- • Antes do treino: 500 mL de água 1 a 2 horas antes da atividade.
- • 30 minutos antes: mais 200 mL.
- • Durante o treino: ingerir de 180 a 300 mL de água a cada 15 a 20 minutos.
- • Em atividades acima de 1h: adicione carboidratos (4 a 8%) e sódio (0,5 a 0,7 g/L) à bebida.
- • Após o treino: reponha com 450 a 600 mL de líquidos imediatamente.
Como treinar com segurança e evitar complicações
Para garantir um treino seguro, algumas medidas são fundamentais:
- • Hidratação e alimentação adequadas. Evite desidratação e hipoglicemia mantendo um consumo equilibrado de água e nutrientes.
- • Monitoramento da frequência cardíaca. Utilize um frequencímetro e fique atento aos sinais do corpo durante o treino.
- • Pausas estratégicas. Não ignore sinais como tontura ou fadiga extrema. O descanso adequado previne lesões e problemas cardiovasculares.
- • Aquecimento e desaquecimento. Iniciar e finalizar o treino com exercícios leves reduz riscos de lesão.
- • Acompanhamento médico. Consulte um profissional caso tenha doenças pré-existentes ou sinta qualquer sintoma preocupante durante o exercício.
O corpo humano é incrível e se adapta a diversos desafios, mas respeitar seus limites é essencial para manter a saúde e evitar complicações.