Enquanto pulava carnaval em Salvador, o ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho aproveitou para lançar uma nova criptomoeda – e ela já provoca uma ressaca daquelas em quem topou colocar dinheiro no ativo.
O token STAR10 foi anunciado no último domingo (2) como a “moeda oficial” do atleta e prometia conceder aos detentores acesso a experiências exclusivas, como colecionáveis autografados e um agente de inteligência artificial. No entanto, rapidamente se envolveu em uma série de polêmicas, incluindo falhas graves de segurança, oscilações bruscas de preço e suspeitas de negociações privilegiadas (insider trading).
Minutos após o lançamento do STAR10, analistas de blockchain identificaram um problema grave no código do contrato inteligente do token. A vulnerabilidade permitia que os criadores tirassem de circulação (queimassem) os tokens de qualquer investidor sem aviso prévio, colocando os recursos dos detentores em risco.
A empresa de segurança GoPlus Security emitiu um alerta na rede social X sobre a falha, e a preocupação ganhou ainda mais destaque quando o fundador da Binance, Changpeng “CZ” Zhao, compartilhou o aviso e recomendou cautela aos investidores. “Por favor, tenham cuidado!”, escreveu CZ.

Em paralelo, a empresa de análise Onchainlens revelou que uma carteira conseguiu lucrar quase US$ 5 milhões após gastar apenas US$ 29.247 na compra de tokens STAR10, levantando suspeitas de insider trading. A plataforma de copy-trading cripto lmk.fun também destacou que o lançamento foi dominado por “early snipers” — investidores que utilizaram robôs para comprar grandes quantidades do token antes da maioria dos traders.
Como reflexo da dúvida gerada no mercado, o STAR10 enfrentou extrema volatilidade desde seu lançamento. Inicialmente, o token atingiu um pico de US$ 0,35 na segunda-feira (3), mas recuou fortemente nas horas seguintes e já é negociado a US$ 0,06, cerca de 82% abaixo das máximas.
O que diz Ronaldinho
Ainda na manhã da segunda-feira (3), Ronaldinho se manifestou sobre a polêmica, afirmando que o problema havia sido resolvido. “A propriedade não foi renunciada? Agora foi! Tokens não podem ser destruídos sem aviso”, declarou em publicação no X. A GoPlus confirmou posteriormente a correção da falha.
Na mesma postagem, o jogador também afirmou que os tokens criados para dar liquidez a negociações, e que ficam sob o domínio dos criadores, não poderão ser movimentados por 255 anos. Liquidez altamente concentrada na mão dos criadores costuma indicar alto risco para golpes do tipo “puxada de tapete”, o mesmo do qual foi acusado o projeto Libra, promovido pelo presidente argentino Javier Milei.
Histórico controverso
O rolê de Ronaldinho Gaúcho com criptomoedas não é aleatório. Em 2019, ele tentou lançar sua própria criptomoeda, a Ronaldinho Soccer Coin (RSC), mas o projeto fracassou. Além disso, já teve ligações com projetos considerados suspeitos de fraude.
Ele foi o rosto da 18k Ronaldinho, um suposto esquema de pirâmide que prometia 400% de lucro ao mês sobre investimentos em criptomoedas, não cumpriu a promessa e deixou um rastro de prejuízo.
Em agosto de 2023, Ronaldinho compareceu à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga pirâmides financeiras para prestar esclarecimentos sobre sua participação na 18k Ronaldinho. No mesmo ano, o parecer final anexou um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) que mostra que o ex-jogador movimentou R$ 103 milhões de forma atípica entre 2015 e 2021.
Em julho do ano passado, Ronaldinho voltou aos holofotes ao promover a criptomoeda desconhecida chamada Water (WATER) em seu perfil no Instagram, que chegou a disparar 350% após também ter sido divulgada por Lionel Messi, e que mais tarde “evaporou”.