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Rainhas trans e gay do Carnaval enaltecem a representação: “a gente não pode se esconder”

As rainhas trans e gay do Carnaval da Família 2025, em Rio Branco, Natacha Houston e Katarina Brandão, concederam entrevista ao ac24horas na noite dessa segunda-feira, 3, onde puderam compartilhar a trajetória, desafios da comunidade LGBTQIA+ e expectativas para o reinado.


Com 27 anos e moradora do bairro Conquista, Natacha contou que esta é a primeira vez que conquista o título de rainha, após ter ficado em segundo lugar em 2018.


Também do bairro Conquista, Katarina, de 25 anos, conquistou pela primeira vez o título após superar candidatas experientes, como a tetracampeã Munique Agatha, representante do bairro Cidade Nova.


Em um bate-papo com o jornalista Marcos Venicius, Natacha afirmou que entrou no concurso apenas para participar, sem a intenção de levar a conquista. Segundo ela, a decisão de não ser rainha de bloco foi uma escolha pessoal. “A intenção não era nem ganhar o concurso, era apenas fazer uma participação. O fato de eu não participar de nenhum bloco não é falta de convite. Os meninos que são coordenadores dos blocos sempre me convidam. Eu que realmente não tenho muito interesse, porque acho essa coisa da produção, de ficar se arrumando, muito cansativa durante o período dos blocos carnavalescos”, afirmou.


Fotos: Sérgio Vale

Katarina afirmou: “acredito que o ponto principal não é vencer uma favorita, mas mostrar que nesse concurso não existem padrões. Qualquer pessoa pode competir, se divertir e até conquistar o título”. A agora rainha gay participa do bloco da Sambase desde 2019, mas neste ano se afastou para se dedicar totalmente à competição. Ela contou que a preparação para o concurso exige um investimento alto, principalmente nas fantasias, e que contou com o apoio do bloco e de uma rede de amigos para arcar com os custos.


“Existe um investimento muito alto, que depende da proposta da fantasia. Meu bloco me ajudou no que pude, mas também tive apoio de amigos e tirei parte do meu próprio bolso”, explicou.


A rainha também abordou o preconceito que ainda enfrenta, destacando que a visibilidade em concursos como esse é uma forma de resistir e incentivar outras pessoas a não se esconderem.


“Ainda existe muito preconceito, vivo isso desde de 2021, quando ganhei o Miss Acre Gay, e foi quando eu percebi que a gente não pode se esconder” declarou.


Fotos: Sérgio Vale

Ao ser questionada sobre a transição, a rainha trans abordou o preconceito que enfrentou ao longo da vida. “Essa situação é muito delicada, porque as pessoas realmente têm o costume de achar que a gente escolheu fazer essa mudança. Ninguém escolheu. É muito difícil pontuar o início, porque acho que isso é uma coisa meio natural. A gente vai se construindo assim. Não é uma coisa que diga ‘eu escolhi hoje ser trans’. Ninguém escolheu ser trans, ou você acha que alguém gostaria de sofrer preconceito, sofrer excesso da sociedade? Não foi uma escolha, foi coisa natural da vida”, pontuou.


Natacha também falou sobre como lida com o preconceito hoje e a importância de ser um exemplo para outras pessoas. “Graças a Deus, eu vejo isso de maneira natural. Cada pessoa tem que estar disposta a se jogar na vida, até porque a vida é uma só. Então, vamos aproveitar, meninas, não tenham medo. A questão do preconceito vai existir, e não é só no mundo LGBT. Mulheres sofrem preconceito, homens sofrem preconceito, nós trans não íamos ser diferentes. Eu não quero direitos melhores, eu quero apenas direitos iguais”, destacou.


Sobre a representatividade e a ocupação de espaços por pessoas trans no Acre, Natacha foi realista. “Mudando muito lentamente, mas eu sempre costumo dizer que conquistar um espaço depende muito de você, independente da sua sexualidade. Ser trans, homem ou mulher não vai diferenciar muito. É muito do esforço da gente. Já tive muitas oportunidades, mas também já fui muito brecada pela minha forma de ser. Hoje em dia, vivo uma vida mais livre, mais liberta, sem me preocupar com as rotulações sociais”, ressaltou.


Em relação a preparação para ser rainha, Natacha foi descontraída. “Não existe uma grande preparação. Acho que tem um pouco de genética. Eu, por natureza, não como muito doce, não bebo refrigerante de jeito nenhum. A academia faz muito tempo que não me vê, mas acho que é mais da natureza mesmo. O bisturi é quase que meu amigo. Sempre que posso e tenho um dinheirinho, vou lá e faço alguma coisa que tá me incomodando”, disse aos risos.


Na vida pessoal, Natacha revelou que está solteira desde 2019 e que decidiu focar na convivência com a família. “Desde 2019, decidi que seria uma pessoa solo, ia conviver mais com minha mãe, que é a pessoa que eu mais amo e admiro nessa vida. Relacionamento ficou pra trás. Vivo a vida sozinha e sou muito feliz sozinha, junto com minha família”. Sobre beijos, ela brincou: “Sim, isso é natural. É da vida, todo mundo tem esses desejos, mas não pra afirmar compromisso com ninguém. Pra vida, não só como homens e mulheres [ter uma relação], eu acho que a educação, a pessoa ter humildade, isso é o que conta muito. O padrão de estética não conta muito”, encerrou.


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