Por iniciativa dos moradores da Aldeia Recanto Verde, foi realizada, na Terra Indígena (TI) Nukini, no alto Rio Moa, município acreano de Mâncio Lima, uma vivência de reflorestamento, a partir de árvores nativas e frutíferas em áreas degradadas do território.

Habitantes de diferentes comunidades se reuniram por três dias, na última semana, para trabalhar juntos, recolhendo adubo orgânico e preparando mudas de plantas regionais para o replantio. Todo o processo foi acompanhado de manifestações culturais tradicionais do Povo Nukini.

Na abertura da vivência, cantos e danças evocaram a proteção e a lembrança dos ancestrais de uma tradição indígena que sobreviveu a várias tentativas de aculturamento. Nos mais recentes anos, os Nukini realizaram um mergulho nos conhecimentos originais da sua nação, revitalizando o uso do idioma nativo e diversos costumes dos seus antepassados.

O encontro teve participação das mulheres, jovens e crianças da etnia, que se uniram aos trabalhadores para produzir as mudas. Mais de 500 pessoas participaram da experiência, com o propósito de despertar a consciência ambiental nos moradores da TI Nukini. Foram plantadas em torno de 20 mil mudas.

O cacique da Aldeia Recanto Verde, Xitin Nukini, repetiu por diversas vezes o mantra “a natureza é que cuida de nós”. E destacou a necessidade de conservar o meio ambiente para a preservação da vida de todos os seres humanos no planeta. “O objetivo desse evento foi dar continuidade ao nosso projeto de reflorestamento e gestão territorial. É uma maneira de enfrentarmos as mudanças climáticas reflorestando áreas degradadas, pensando no futuro das novas gerações do Povo Nukini”, disse.

No último verão amazônico, os moradores do território enfrentaram vários problemas. “A gente sente essas mudanças no nosso corpo. Estamos vendo os rios secando e os peixes morrendo, as nascentes de água desaparecendo e as frutas já não chegam na época certa. Entendo que o único caminho para o enfrentamento dessa situação é replantando a vegetação da floresta, como já foi um dia antes dos desmatamentos”, salientou.
Reflorestar com alegria
O evento transcorreu com o povo vestindo as roupas tradicionais. Durante os trabalhos, entoaram cantos e houve uma interação social intensa, com a presença de lideranças das diferentes aldeias do território.

Os Nukini optaram por um reflorestamento mesclado, composto de árvores de madeira de lei, frutíferas e plantas medicinais. O cacique-geral da TI, Rucam Nukini, ressaltou os esforços realizados pelo bem-estar de toda a população regional.
“A gente tem se preocupado com esses eventos climáticos extremos e temos que trabalhar unidos, para poder nos adaptar e reconstituir a floresta nos lugares onde houve devastação. Também temos que plantar árvores frutíferas, como o açaí, para ajudar na segurança alimentar dos moradores”, relatou.

A consciência ambiental, associada às práticas espirituais, traz a energia para que o trabalho coletivo seja uma celebração. “Todos os dias devemos fortalecer a nossa cultura e espiritualidade, despertando a consciência da importância de respeitar a natureza, que nos dá tudo o que precisamos. Essa vivência possibilitou trabalharmos unidos, inspirados pelas nossas músicas tradicionais e costumes deixados pelos nossos ancestrais”, afirmou Rucam.
Alunos da escola indígena têm aula prática de reflorestamento
No terceiro dia da missão, cerca de cem alunos da Escola Estadual Indígena Pedro Antônio de Oliveira somaram-se às atividades realizadas, participando das festividades culturais e de replantio.

Os professores e o diretor da instituição, Alexandre de Oliveira, aproveitaram a oportunidade para orientar os alunos sobre a necessidade de cuidar da natureza, já afetada pelas alterações ambientais sofridas.
“Por conta de uma série de fatores provocados pelas mudanças climáticas, a gente teve que mudar a nossa rotina na escola [no verão de 2024]. Os igarapés da região secaram, as crianças chegavam atrasadas por falta de barqueiros e tivemos que mudar o horário das aulas”, contou.

A seca intensa também tornou a temperatura dentro das salas de aulas insuportável. “A saída para escapar da quentura foi a gente se agrupar embaixo das árvores. Não tinha como trabalhar daquela maneira. Os professores deram aula fora das salas, para aliviar os alunos. Também enfrentamos falta de água, porque os poços secaram”, lembrou.

O gestor destacou que, depois desses acontecimentos, estão sendo feitas palestras de conscientização ambiental e exibidos vídeos, mostrando também a situação de outros lugares afetados pelos eventos climáticos extremos e apresentando soluções práticas para as crianças e jovens.

“O importante é que hoje os alunos estão plantando com a comunidade e vão perceber que daqui a um tempo vai aparecer o resultado dessa ação. Então, quero fazer um planejamento, para que possamos reflorestar a área ocupada pela nossa escola, tendo como base essa vivência”, salientou Alexandre.
A força feminina cuidando da natureza
As mulheres da comunidade Nukini tiveram uma participação importante durante a jornada. A artesã Fátima Nukini, uma das lideranças femininas da Recanto Verde, ponderou sobre o apoio dado por elas ao evento.
“É muito importante a gente mostrar nossa cultura e ao mesmo tempo ajudar nesse projeto de reflorestamento do território. A força feminina é essencial para que possamos alcançar resultados de regeneração do meio ambiente”, disse.

Para a indígena Epevi Nukini, a inclusão de jovens e crianças no trabalho criou um ambiente de integração de toda a comunidade. E Tchuram Nukini, esposa do cacique Rucam, avaliou que a atividade de reflorestamento promoveu união entre todos, para enfrentar um problema que afeta não só os indígenas, mas o mundo inteiro.
Apoio do governo do Acre
A ação ambiental na Aldeia Recanto Verde teve apoio do governo do Acre, por meio da Secretaria Extraordinária de Povos Indígenas (Sepi), da Secretaria de Comunicação (Secom), do Departamento de Estradas de Rodagem (Deracre).