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Por que algumas pessoas sentem paixão obsessiva e como isso afeta a saúde

A limerência pode afetar qualquer pessoa, mas é mais provável que ocorra em pessoas com ansiedade ou depressão. — Foto: Getty Images via BBC

Limerência é um termo com o qual talvez você não esteja familiarizado. Ele descreve um desejo involuntário, incontrolável e obsessivo por outra pessoa. Essa fixação pode levar a um sofrimento significativo, perturbando a vida cotidiana, e pode ter impactos negativos em outras pessoas também.


A limerência pode afetar qualquer pessoa, mas é mais provável que ocorra em pessoas com ansiedade ou depressão. Acredita-se que ela afete de 4 a 5% da população em geral, embora seja muito difícil de medir.


📖O termo foi cunhado pela psicóloga comportamental Dorothy Tennov em seu livro de 1979, Love and Limerence: The Experience of Being in Love (“Amor e Limerência: A Experiência de Amar”, em tradução livre).


Ela a descreveu como um fenômeno psicológico único, diferente de se apaixonar, que é movido por um desejo incontrolável por outra pessoa — o “objeto limerente”.


Qualquer pessoa pode se tornar um objeto de limerência, seja um amigo, colega ou um estranho. Esses sentimentos quase sempre não são correspondidos porque uma das principais características da limerência é a incerteza dos sentimentos do outro.


O período em que uma pessoa está experimentando esses sentimentos é chamado de “episódio limerente”. A duração de um episódio de limerência varia de pessoa para pessoa.


Para algumas pessoas, como aquelas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), isso pode ser particularmente intenso, pois a paixão se combina com características como hiperfoco — uma fixação intensa em um interesse ou atividade por um longo período de tempo, o que é familiar para muitas pessoas neurodiversas.


Ainda há alguma discussão acadêmica sobre se a limerência é “natural”, como sugerido originalmente por Tennov em seu livro. Outros estudiosos apontam seu impacto negativo na vida cotidiana, inclusive na saúde mental da pessoa, e potencialmente na outra pessoa.


Também é importante observar que a limerência não é um diagnóstico formal.


Como a limerência é caracterizada?

Uma pessoa em um estado de limerência idolatra seu objeto limerente, fixando-se em suas características positivas e negando quaisquer falhas. Suas emoções se tornam dependentes de sinais percebidos de interesse ou rejeição, levando a altos e baixos extremos.


Eles pensarão continuamente em seu objeto limerente, o que pode ser excitante e divertido, especialmente se os sentimentos forem recíprocos. Nesses casos, pode ser difícil reconhecer o tipo de apego limerente em um relacionamento, confundindo esses sentimentos com os estágios iniciais do amor romântico.


👀 Entretanto, a intensidade da limerência tem consequências negativas. Uma pessoa em estado de limerência pode ter pensamentos intrusivos, desconforto físico, sentimentos intensos e unilaterais, bem como pensamentos obsessivo-compulsivos em relação ao seu objeto limerente.


Essas características distinguem a limerência das paixões e dos sentimentos românticos convencionais semelhantes.


👉 Normalmente, há três estágios de limerência.


1.Primeiro, a paixão, que envolve a atração inicial em que a pessoa começa a idealizar alguém.


2.Em segundo lugar, a cristalização, que é a fase totalmente limítrofe, em que predominam os pensamentos obsessivos, a dependência emocional e a euforia ou o desespero.


3.E a terceira, a deterioração, quando o apego acaba desaparecendo.


Embora a limerência continue a ser um tópico pouco pesquisado, alguns estudos sugerem ligações com estilos de apego ansiosos, quando a pessoa teme a rejeição e anseia por garantias constantes.


As pessoas com esse estilo de apego geralmente apresentam maior sensibilidade emocional e intensa preocupação com as respostas do parceiro. Essas características podem torná-las mais vulneráveis à limerência, pois lutam para regular as emoções e se separar do objeto de sua paixão.


Isso também pode afetar a capacidade da pessoa de desenvolver e manter relacionamentos saudáveis, sejam eles amorosos ou platônicos.


Que tipo de ajuda está disponível?

Há pouca literatura sobre como as pessoas que sofrem de limerência podem regular suas emoções ou interromper o ciclo. Em termos de apoio externo, terapias como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a terapia de aceitação e compromisso (ACT) podem ajudar.


A ACT funciona ao mudar a relação da pessoa com seus pensamentos e sentimentos. Ao utilizar um processo conhecido como “difusão cognitiva”, a pessoa aprende a perceber seus pensamentos intrusivos e a se desligar deles.


Para aqueles que sofrem de limerência, isso pode facilitar o desenvolvimento e a manutenção de relacionamentos saudáveis.


No entanto, embora a limerência possa ser avassaladora, reconhecê-la pelo que ela é, e não se julgar por se sentir assim, pode ser um primeiro passo importante.


Em segundo lugar, é fundamental praticar a autoconsciência: compreender os gatilhos e os padrões do comportamento limerente e usar esse conhecimento para construir bases mais saudáveis para relacionamentos futuros.


Em terceiro lugar, estabelecer limites, como limitar a exposição ao objeto limerente, pode ajudar a quebrar o ciclo de reforço. E, em quarto lugar, praticar a autocompaixão e a paciência, aceitando essas emoções sem julgamentos e concentrando-se no crescimento pessoal, pode ajudar a aliviar o sofrimento.


A internet permitiu que mais pessoas compartilhassem suas experiências com a limerência, encontrassem apoio da comunidade e compreendessem melhor a si mesmas.


No entanto, é necessário que haja maior conscientização e mais pesquisas para apoiar as pessoas que lutam contra seus efeitos e para oferecer maneiras mais saudáveis de lidar com a atração e o apego.


*Rebecca Ellis é pesquisadora assistente em Saúde Pública da Universidade de Swansea, no Reino Unido.


**Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original em inglês.


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