O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ampliou a influência do PT no núcleo central do governo ao indicar, nesta sexta-feira (28), a deputada Gleisi Hoffmann para comandar a Secretaria de Relações Institucionais. A decisão fortalece a ala mais crítica à política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem perdido espaço nas principais discussões internas.
Embora o nome da presidente do PT já estivesse entre os cotados para o cargo, aliados de Lula tentaram convencê-lo a escolher uma pessoa de fora do partido para ampliar a interlocução com o Congresso. No entanto, o presidente priorizou a confiança política na escolha.
Inicialmente, havia expectativa de que ele abrisse mais espaço para o Centrão no Planalto, mas a queda na popularidade do governo fez com que partidos de centro recuassem no interesse por novos postos.
A chegada de Gleisi deve aumentar a pressão sobre Haddad, que vinha desempenhando um papel importante na articulação de pautas econômicas no Congresso.
A deputada tem um histórico de críticas às medidas de ajuste fiscal do ministro e já declarou, em entrevista ao O Globo, que considera “um direito e uma tradição” do PT contestar políticas econômicas. Nos bastidores, ela deve se alinhar ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, um dos principais opositores internos de Haddad.
A tensão entre os grupos já se manifestou em decisões recentes, como o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda e a liberação do saldo do FGTS para trabalhadores que optaram pelo saque-aniversário.
Nessas disputas, Haddad saiu derrotado e viu sua influência dentro do governo enfraquecer. Do outro lado, o ministro conta com o apoio de nomes como Alexandre Silveira, chefe da pasta de Minas e Energia, mas tem enfrentado resistência crescente dentro do próprio PT.
Apesar das críticas, interlocutores de Gleisi acreditam que ela adotará uma postura mais pragmática ao assumir o novo cargo. Pessoas próximas a Haddad, por sua vez, esperam que a petista compreenda que a política econômica não é de um ministro, mas do governo como um todo.
Nos bastidores, a nomeação de Gleisi é vista como parte da estratégia de Lula para consolidar a base política com vistas às eleições de 2026. O presidente ainda não decidiu se disputará a reeleição, e o PT não tem um nome consolidado caso ele opte por não concorrer.
Além de comandar as negociações com o Congresso, a deputada será peça-chave na articulação política para uma possível candidatura do partido no próximo ciclo eleitoral.