Alexandre de Moraes deu ultimato a Mauro Cid durante delação: “Não vai dizer que não avisei”

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, advertiu o tenente-coronel Mauro Cid sobre possíveis omissões em sua delação premiada e ameaçou revogar o acordo caso ele não revelasse toda a verdade sobre a trama golpista.


A declaração ocorreu em audiência realizada em 21 de novembro de 2024, e o vídeo da sessão foi divulgado nesta quinta-feira (20) por decisão do próprio magistrado.


Na gravação, Moraes afirma que a Polícia Federal (PF) identificou contradições nos depoimentos de Cid sobre o suposto golpe de Estado e o monitoramento ilegal de autoridades, incluindo o próprio ministro do STF.


“Eu quero fatos. Eu diria que essa é a última chance do colaborador dizer a verdade sobre tudo”, afirmou Moraes ao militar.


Durante a audiência, Moraes deixou claro que Cid poderia ter a prisão decretada e perder os benefícios do acordo caso continuasse omitindo informações. Além disso, destacou que a rescisão da delação afetaria sua família, incluindo seu pai, sua esposa e sua filha maior.



“Sob pena não só da decretação de prisão, como também da cessação e consequente rescisão da colaboração, e eventual rescisão englobará, inclusive, a continuidade das investigações e responsabilização do pai do investigado, de sua esposa e de sua filha maior”, disse Moraes.


O ministro também enfatizou que a delação não pode ser usada seletivamente para proteger aliados e incriminar apenas alguns.


“O colaborador relata os fatos, mas quem decide quem será processado é o Ministério Público, e quem julga é o STF. Não é o colaborador que escolhe quem fez algo ou não”, declarou.


“Eu vou passar a palavra a ele [Cid], só que eu já… Porque depois – e quero, aqui, não vai dizer que não avisei –, depois eu tenho aqui um relatório detalhado não só da investigação como do novo relatório que a Polícia Federal está apresentando agora, encerrando a investigação sobre a tentativa de golpe, com 700 páginas detalhadas”, acrescentou Moraes, insinuando que incompatibilidades do relatório da PF com a delação poderiam comprometer Cid.


Cid muda versão e mantém delação

Após a advertência, Mauro Cid alterou sua versão dos fatos, reforçando a ligação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de militares de alto escalão à orquestração de um golpe de Estado.


Entre os pontos revistos por Cid, destaca-se um encontro com Bolsonaro na casa do general Braga Netto, em novembro de 2022. Inicialmente descrito como uma reunião informal, o encontro passou a ser apresentado como parte de uma estratégia para fomentar o caos social e justificar uma intervenção militar.


A nova versão do tenente-coronel fortaleceu a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e outros 33 investigados, apontando que o suposto plano envolvia mobilizações populares e ações clandestinas para tumultuar a transição de governo.


Com a inclusão desses novos elementos, o acordo de delação foi mantido, e o depoimento de Cid se tornou uma peça-chave na acusação contra Bolsonaro.


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